Capitulo 1

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Durante uma noite com o céu cheio de estrelas, as ruas estavam vazias e o vento arrastava os jornais que ali havia pelo chão, a ouvir o barulho das ondas do mar a baterem contra as rochas e a sentir a areia nos pés, lá estava a Matilde, sentada com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto, tudo parecia não ter solução, para ela naquele momento nada fazia sentido, a sua mente andava a roda com todo o tipo de pensamentos, memórias e previsões de como seria o futuro agora em diante, o que para ela não seria nada brilhante, sem ter por onde ir decidiu ficar com a companhia do mar, todos os seus sentimentos pareciam ter congelado, sentia um grande vazio dentro dela, as palavras não conseguiam sair porque tinha um enorme nó na garganta, as palavras eram levadas pelo vento, os olhos dela continuavam cheios de lágrimas e o seu olhar refletia as estrelas que ela observava, sem esconder a deceção que sentia.

Na manhã seguinte, um rapaz que estava a fazer a sua corrida matinal pela praia, avistou uma rapariga deitada na areia. Ele com um ar preocupado e sem saber o que lhe teria acontecido, foi até ela para tentar perceber se ainda respirava.

- Olá, está tudo bem contigo? - perguntava ele enquanto abanava ligeiramente o braço dela, mas sem obter nenhuma resposta, ele voltou a perguntar. - Está tudo bem contigo?

Devagarinho, a rapariga abre os olhos, com a cara cheia de areia e com os olhos inchados de tanto chorar na noite anterior e com o corpo dorido por dormir na areia.

- Sim, está tudo bem... - responde, com a voz baixinha e com um olhar tímido. - E quem és tu?

- Eu sou o Miguel e tu?

- Matilde.

- Mas eu não estou a perceber o porquê de estares assim na praia nesse estado, o que te aconteceu? - pergunta com um ar preocupado.

Matilde olha para o Miguel, e as lágrimas voltaram-lhe ao rosto, de seguida olha para si, e sente-se com raiva de si mesma e com uma grande desilusão. Miguel quando vê que ela está a chorar, sentou-se ao lado dela e tapou-lhe com o seu casaco azul escuro, abraçou-a ligeiramente de modo a tentar confortá-la.

- Hey...hey... Não chores, conta-me o que te aconteceu, eu só quero ajudar-te.- dizia ele enquanto lhe limpava as lágrimas.

Ela olha novamente para ele durante alguns segundos e baixou logo a cabeça e com a sua voz baixa e tímida, disse-lhe - Eu já não sei quem sou eu, tudo o que eu tinha ontem, desapareceu em segundos, foi como se um tsunami passa-se por uma cidade perfeita e depois a deixa-se em pedaços.

- Mas com o tempo essa cidade perfeita, consegue ser reconstruída de novo aos bocadinhos, e volta a ser a mesma... - disse o Miguel para a tentar consolar.

Miguel levanta-se e estende a mão para a Matilde, com um sorriso nos lábios:

- Anda comigo, vamos dar uma volta e eu tentarei ajudar no que puder.

Matilde levanta-se, com um olhar triste, tenta sorrir de volta. Assim que se levantaram, andaram pela praia, em silêncio, eles pareciam gostar da companhia um do outro, mesmo sem assunto, ao fim de passearem pela praia durante o dia, o Miguel levou a Matilde para a casa dele.

- Olha esta é a minha casa, eu sei que não é muito grande nem luxuosa, mas tem tudo o que é necessário para viver, a minha irmã vivia aqui comigo mas mudou-se para o Reino Unido e por isso podes ficar no quarto dela, ela ainda deixou alguma roupa que podes usar, se quiseres tomar banho estás à vontade.

Matilde, olha pra todos os cantos e repara em todos os detalhes da casa, observa rapidamente os quadros pendurados na paredes, a casa era tão acolhedora e cheirava a madeira, o que fazia lembrar a antiga casa dos seus avós maternos. Ainda em silêncio desde que chegou, aproxima-se de um quadro inspirado na beleza da mulher, todos os que ali estavam tinham referências femininas.

Com uma grande curiosidade, reparou que havia pincéis em cima da mesa e algumas tintas:
- És tu que pintas estes quadros?

-Hm...sim, mas não é nada de mais, é algo que faço quando estou inspirado. - diz ele envergonhado.

- Porque são só mulheres ?

- Eu não sei porque eu só sinto inspirado em desenhar mulheres, mas quando estou num local e vejo uma mulher com uma personalidade que se destaca, eu começo logo a desenhá-la.- diz ele com um grande brilho nos olhos e orgulhoso do seu trabalho.

- Eu não vou dizer isto só porque me estás a ajudar, mas eles são incríveis, eu acho que devias expô-los em algum local.

- Não acho boa ideia, até porque neste momento tenho de me concentrar nos exames que estão prestes a chegar.

- Olha, eu tenho aqui algumas pizzas e Coca-Cola, porque se eu cozinhasse ia correr muito mal e não te irias sentir muito bem. - ri-se para a Matilde.

- Está bem, até porque já há muito tempo que não como pizza, os meus pais sempre foram rigorosos com a alimentação, e só acabava por comer pizza uma vez por ano. - sorri com timidez.

Miguel, está preocupado e quer saber o que realmente aconteceu, porque ela estava em mau estado, tanto fisicamente como emocionante e queria protegê-la.
Sem adiar mais a conversa, com um pouco de receio de como ela iria reagir, tenta tocar no assunto:

- Então tu vives sozinha ou com os teus pais?

- Eu vivia com os meus pais, mas...o meu pai expulsou-me de casa.- assim que acabou de falar, ela limpa as lágrimas rapidamente e tenta se conter.

Chocado com o que ouviu, Miguel volta a questionar:

- Porque razão eles te expulsariam de casa?

Matilde parou de comer, olhou para o Miguel e deu um grande suspiro, e disse que ia tomar banho, como mais uma desculpa para fugir das suas perguntas que ele estava decidido a fazer, mas ela ainda não estava preparada para falar do assunto.

Ela chega a casa de banho, olha-se no espelho e era como se não conseguisse reconhecer quem realmente ela é, parecia que nas suas veias só percorria raiva, estava tão desiludida consigo mesma, as lágrimas escorreram-lhe pelo rosto, mas a única solução para aliviar toda aquela dor era chorar.

Assim que acabou de tomar banho, vestiu um dos pijama que havia da irmã do Miguel e deitou-se na cama, a pensar no que iria acontecer nos dias seguintes e como ela iria sobreviver sozinha sem o apoio dos pais.

Olá, este é o meu primeiro capítulo de muitos, espero que estejam a gostar da história porque ainda está para acontecer muitas coisas. Obrigada por lerem :)

O Envelope AmareloWhere stories live. Discover now