O Envelope Amarelo

Capitulo 3

- Olha, eu sei que tu tens pedido imensas vezes para eu te contar o que aconteceu comigo, eu não estava preparada e ainda penso que não estou, mas isso deixou-me a pensar, talvez se eu te contar consiga sentir-me mais segura e é o que eu sinto quando estou contigo.

-Mas... Eu não quero que contes só porque eu insisti.

-Não...Eu quero mesmo fazê-lo.- dizia ela enquanto limpava as lágrimas. - Bem, naquele sábado, eu tinha pedido aos meus pais para sair à noite, mas como era de esperar eles não deixaram, até discuti com o meu pai, mas eu decidi desobedece-los e fui na mesma. A minha melhores amigas a Gabriela e a Lara vieram buscar-me e fomos para a festa da Rafaela, ela é a rapariga mais popular da escola e receber um convite para a sua própria festa era uma honra.

Chegamos lá e começamos logo a beber e a falar com o resto dos convidados e a tentar conhecê-los melhor, depois a Gabriela e a Lara afastaram-se de mim e cada uma foi para um local diferente com os namorados e eu fiquei ali, até que um rapaz veio até mim com um copo de vodka e apresentou-me alguns dos seus amigos e até me convidaram para ir até ao sótão, onde estivemos a jogar bilhar e matraquilhos.

A partir daí não sei o que aconteceu comigo no resto da noite, apenas me lembro de acordar num local completamente diferente de onde estava, era um lugar horrível, eu só conseguia ver garrafas de cerveja espalhadas pelo chão e pelo sofá, a mesa só tinha restos de comida,havia beatas em todo o lado, onde eu estava só havia papéis em cima do sofá, eu olhei à volta e não estava ninguém, aquilo era um barraco de madeira, devia ser onde eles se encontravam ou algo do género, como não sabia como voltar para casa, apanhei um táxi e disse a minha morada, ao menos eu sabia onde era a minha casa.

Quando cheguei a casa, já eram sete da manhã, o meu pai estava no sofá a dormir, provavelmente estaria à minha espera, eu nem o acordei e fui diretamente para o meu quarto, não cheguei a mudar de roupa, apenas limitei-me a deitar.

Eram três da tarde quando o meu pai entra pelo o quarto a dentro a gritar comigo, para eu ir de imediato para a cozinha que precisávamos de ter uma conversa muito séria, eu naquele momento nem liguei muito porque sabia que o sermão séria sobre eu ido à festa da Rafaela sem a permissão deles.

Mas, eu vejo a minha mãe a chorar, e o meu pai com uma cara muito zangada a olhar para mim, eu fiquei em silêncio porque não sabia o que dizer, o meu pai entrega-me o envelope que tinha nas mãos, e só me diz "arruma as tuas coisas, não te quero mais aqui".

Naquele momento reparei que era algo mais grave, abri o envelope e parecia que o meu mundo tinha-se desfeito, perdi todas as minhas forças e senti-me tão humilhada quando reparei que eram fotografias minhas, eu estava despida e tinha rapazes a tocarem-me no corpo, naquele momento fiquei sem palavras, olhei para as fotos enquanto chorava, o meu pai olhou para mim pela última fez e disse "pega nas tuas coisas e desaparece daqui...", eu bem tentei explicar-lhe o que aconteceu, mas ele não me ouvia e só me dizia que não queria que eu manchasse o nome da família nem o nome da empresa.

Eu olhava para a minha mãe e ela não dizia nada apenas chorava, ela nem tentou defender-me, eu conseguia ver pelo rosto dela o quanto estava tão magoada comigo.

Eu nem peguei em nada, sai logo de casa, estava tão desesperada que não sabia o que fazer, tentei falar com a Gabriela e com a Lara e expliquei-lhes o que aconteceu, mas elas não me quiseram ajudar, até disseram-me para esquecer que alguma vez tínhamos sido amigas.

Foi então que eu andei aí pela rua a chorar, sem saber por onde ir até que fui para a praia, para que o som do mar me pudesse consolar, nunca me senti tão sozinha como agora, nunca me senti tão frágil, aquelas fotos conseguiram tirar-me todo o valor, tirar o amor que eu sentia por mim, a minha confiança, a minha voz foi como se me invadissem a minha privacidade. Eu sei que a culpa também é minha por ter desobedecido os meus pais, mas agora por causa de uma festa arruinei a minha vida.