Capítulo 3

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No consultório da doutora, minha cabeça girava em torno do que poderia acontecer. No fundo da minha mente, a parte menos lúcida dela montava cenas em que a doutora iria apenas dizer que meu ciclo havia mudado para um mês sim e outro não. E eu sabia que era possível haver um ciclo assim; só não sabia se era possível que alguém tivesse uma mudança radical como essa. Minha parte racional disse que isso era impossível, enquanto a menos lúcida afirmava que era isso que havia ocorrido.

— Parem com isso — disse para minhas vozes ocultas.

Olhei ao redor na sala do consultório, vendo diversas moças ali. Algumas pareciam estar fazendo sua primeira consulta; outras pareciam estar no mesmo barco que eu. Tentei não parecer desesperada e mostrar que só estava ali para mais uma consulta rotineira.

— Ella... — Saltei quando meu nome ecoou pelo consultório.

Todos me olharam, notando meu desespero.

Parabéns, Ella...

Entrei na sala da doutora, sentindo minhas mãos suando frio.

A Doutora Pâmela era bem gentil, e me fazia não perder a cabeça na maioria das vezes quando, de repente, algo estava fora do comum; como agora, por exemplo.

— Olá, Ella — disse a doutora com um sorriso no rosto. — Fiquei surpresa com essa consulta urgente.

— É... — Eu tentei sorrir. — Eu... preciso ver se está tudo certo comigo do lado de dentro... É... que eu perdi o prazo do anticoncepcional, então, sabe... eu...

— Entendi. — Ela riu. — Você não tomou como o recomendado. É claro que teremos que ver se está tudo certo. Deite.

Fui para meu lugar, fechando as mãos em punho para segurar a tremedeira. Comecei a pensar em coisas boas; em Max fazendo peças na faculdade; no nosso primeiro aniversário de namoro; quando fomos morar juntos. Eu tinha um namorado tão perfeito, e uma vida tão perfeita, que eu não me lembrava de me sentir mal.

— Uau... — A doutora rompeu meus devaneios

— Que foi?— perguntei

— Você está grávida, Ella. — Ela me olhou, como se quisesse entender o que houve.

— Não... — murmurei. — Não pode ser..

— Você parou de tomar o remédio há quanto tempo? Por que parou de tomar?
— Eu... Eu... — comecei a tremer. — Não... Eu nem...

Não lembrava de onde o remédio estava, e esse pensamento me fez ver o motivo pelo qual parei de tomar.

— Eu o perdi — sussurrei.

— Perdeu? — A doutora parecia descrente. — Minha nossa.

— Doutora... a senhora tem certeza...

— Sim, Ella. Você está grávida.

No meu carro, eu voava pelas ruas. Meu corpo inteiro tremia. E se estão se perguntando por que, já que minha vida era perfeita, e eu tinha um namorado perfeito para assumir, digo que minha preocupação era com outra coisa.

Minha família.

A Família McPhillen era arcaica, vivendo em padrões antigos, dos quais muitos nem sabem que existem. Na minha família, se uma moça perde a virgindade antes de se casar, ela deve ser banida da família e deserdada. Eu não me importava com minha família. Se eu fosse banida e deserdada, nem me importaria. O caso é que eu tinha uma irmã, e eu não queria que ela tivesse a mesma vida que eu tive. Tentava de todas as formas trazer Isadora para morar comigo, e engravidar agora seria perder completamente essa chance. Minha família nunca aceitaria algo assim, e, se eu fosse banida, perderia os argumentos para tirar Isadora daquela prisão que era a família McPhillen.

O Meu Casamento de MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora