Prólogo

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Sabe quando aquele aperto no peito chega do nada, e não vai embora? É exatamente isso que eu sinto.

Eu estava em uma festa na casa de algum fazendeiro rico, tinha completado meus 16 anos a um pouco mais de dois meses, isso quer dizer, meu carro me leva até para comprar pão. Mamãe e papai sempre me deram tudo, e não tinha o que reclamar deles. Morávamos em um apartamento no centro da cidade, tínhamos uma vida boa, eu não tinha muitas preocupações, então me intitulavam a ovelha negra da família, já que sempre fiz o que bem entendesse.

Hoje, algo estava me incomodando, e eu não sabia explicar o que era. Meus pais estavam num jantar comemorando o aniversário de casamento deles, e iriamos nos encontrar em casa pouco depois de uma da manhã, como combinado. E agora, nem sendo perto das onze horas, minha mãe estava me ligando, isso é estranho demais, principalmente hoje.

— Meu amor, você está bem? — Disse sussurrando.
— Mama, aconteceu alguma coisa?
— Livya, me deixa falar, por favor, não tenho tanto tempo. — Interrompeu.
— Por favor mama, o que está...
— Eu vou explicar tudo minha menina, mas preciso que me escute bem. — Ainda aos sussurros, suspirou e começou. — Preciso que fique segura formiguinha. Eu e seu pai te amamos muito, você sabe disso. Mas me escute bem, ninguém vai atrás de você, eu te prometo. Se algo acontecer conosco, vá para casa dos seus tios no Brasil, eles vão cuidar de você. Por favor meu amor, não pare a vida se algo acontecer, faça seus caminhos, e não deixe ninguém tirar o que é seu.
— Mamãe, o que a senhora quer dizer? Como assim ninguém vai vir atrás de mim? — Digo preocupada, meu coração mais apertado que antes.
— Não Livya, faça o que estou dizendo, fique segura, sem encrencas. Preciso desligar, não tenho mais tempo. Nós te amamos formiguinha. Mi dispiace, il mio amore. — E ela desligou.

Algumas horas depois, me disseram que meus pais tinham sofrido um acidente de carro, próximo a um rio, e não encontraram os corpos. Aquela foi a última vez que escutei a voz de minha mãe, mas alguma coisa dizia que ela ainda estava bem, apenas rindo do mal-entendido. E eu sabia que isso não era verdade.

Do dia para a noite, meu mundo virou de cabeça para baixo. Enterrar caixões vazios algum tempo depois de perder meus pais, fez minha cabeça pirar. Todos da cidade me olhavam com pena, minhas amigas se afastaram, menos a Sophi, ela tentava ficar perto, mas eu sempre afastava, era como se meu mundo tivesse sido sugado por um buraco negro.

Na leitura do testamento, todos queriam saber qual era o novo dono das empresas do meu pai, ninguém esperava que ele tivesse deixado tudo para uma garota de 16 anos, que nem tinha terminado o ensino médio. Tudo ficou para mim. A casa na Itália, o apartamento no Brasil, o comando dos hotéis no mundo todo, as contas turbinadas de dinheiro, que seria impossível de gastar em uma vida só. O apartamento em Austin. O que foi distribuído entre os familiares foram apenas objetos que eram insignificantes para mim.

Pude perceber no minuto em que o testamento foi lido, muitos me olhavam com ódio. Os irmãos da minha mãe não lidaram muito bem com a notícia, já que esperavam o comando da empresa. Os irmãos do meu pai, choravam emocionados com o que foi deixado para eles. Mamãe sempre disse que seus irmãos amavam mais o dinheiro do que a família, e tirei minha prova nesse dia.

Tudo seria passado para mim quando eu atingisse a maioridade, na verdade, os 18 anos. Nesse meio tempo, quem controlaria meus bens seria o advogado e melhor amigo do meu pai, senhor Howard. Ele é pai de um dos meus melhores amigos, o Kaio, então não reclamei ao saber que ele cuidaria de tudo por mim.

Como Mama pediu, eu estava indo para o Brasil, assim como meu pai, lá é um dos lugares que mais amo nessa vida, mas não era meu Lar, e eu ia voltar.

Foi com esse pensamento, que entrei no avião, em direção a minha nova casa.

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