"Você acha que está louca? Não deixem que descubram que você sabe da verdade. A resposta está dentro de você. Não desiste, lute. A saída desse pesadelo está próxima. A realidade está distorcida, sua vida depende de sua sanidade. Isso não é um sonho...
"Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura." - Florbela Espanca
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Mais um dia no inferno. Já se passaram 178 dias que me prenderam aqui contra a minha vontade. Você leitor é o único que vai saber o que venho passando nesse lugar. Espero de todo coração que no fim de sua leitura não acredite no que os outros vão dizer. Tire suas próprias conclusões, mas não se esqueça da verdade. Todos dizem que tenho um parafuso solto na cabeça. Afirmam que sou louca. Isso é ridículo e cruel. Não sou psicopata e muito menos louca. Fiz o que fiz para me defender, por favor não me julgue. Só tente intender minha situação. Ok? Vamos lá então. Vou buscar em minhas lembranças a pior noite da minha vida.
"Dia 04 de dezembro de 2013. Estávamos perto do natal o casarão que herdara da minha família estava todo enfeitado pronto para as festividades que sucediam aquele mês. Naquele dia minha mãe iria viajar até o melhor hospital do país e costurar os peitos, barriga e esticar a cara com um dos melhores cirurgiões do mundo. Uma das coisas mais idiotas a se fazer quando se tem outras prioridades como pagar a hipoteca da casa que já estava vencida a dez anos. Mas isso era uma das últimas coisas que iria se preocupar. Minha mãe é uma pessoa fútil sem coração que só pensa em agradar as pessoas de seu ciclo de amizade e seu recém e espero que último marido. Minha mãe se casara nos últimos anos cinco vezes, todos com homens bem-sucedidos que pudessem dar a vida que ela sempre sonhou e almejou. Mas todos eles se cansavam de suas histerias e crises de ciúmes e se separavam dela meses depois do casamento. Sem se preocupar com nada pra variar, nunca guardou dinheiro que recebeu das pensões e presentes desses maridos. Atualmente ela está casada com um homem bem mais velho que ela, coisa rara vindo dela que sempre preferiu jovens e no máximo quarentões bonitos e bem-apanhados diga-se de passagem. Pensei que nunca iria dizer isso na vida, mas esse cara combina com minha mãe, velho e sem coração, fútil e egoísta. Duas almas gêmeas. Estava cansada de fazer parte desse circo que é os casamentos e envolvimento da minha mãe com esses caras, estava pronta para ingressar na faculdade e sair de casa para nunca mais voltar. Em poucos meses iria completar dezoito anos e finalmente estaria livre desse mundo hipócrita. Viveria minha vida longe das garras da minha mãe e do olhar estranho que vinha me incomodando nos últimos anos do cara que era obrigada a conviver e chamar de padrasto. Infelizmente para minha sorte naquela noite de domingo estávamos sozinhos em casa só eu e ele. Todos os empregados tiraram folga. "
Não lembro de muitos detalhes porque graças a medicação minha memória não é mais a mesma, isso foi a única coisa boa que esse lugar me proporcionou. Esquecer do passado, mas vou me esforçar e resgatar a parte escura que está no meu subconsciente.
" Escureceu logo, era umas 20h, estava no meu grande e espaçoso quarto, ouvindo música e pintando meu cabelo de preto. Sempre fui um camaleão e adorava mudar a cor do meu cabelo e mudar de personalidade. Mas me deu vontade de ver a cor natural novamente nos meus cabelos. 30 minutos depois fui até o banheiro que ficava dentro do meu quarto e tomei banho. Estava calor e por isso coloquei uma das minhas camisolas. Olhei no celular e Luidi me mandara mensagem, não pensei duas vezes e liguei pra ele. Ninguém mais ligava pra ninguém já que tínhamos as famosas redes sociais, MSN, Orkut, preenchiam esse papel, mas adorava ouvir sua reação de surpresa quando recebia uma ligação minha. Ficamos horas conversando e me vi completamente derretida em cima da cama. Estava completamente apaixonada. Desliguei o celular e dei boa noite. Parecia uma despedida em vês de um simples tchau. Olhei no relógio do celular e já eram 02h da manhã. Pensei em deitar e dormir, mas meu estomago não deixou. Desci devagar as escadas e fui até a cozinha. Peguei o leite na geladeira e esquentei um chocolate. Senti algo estranho e olhei para trás.
