Tédio

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Dae estava sentado recostado a uma parede no topo de um dos prédios que compunha a sua escola. Ele vestia a roupa preta do uniforme, que estava aberta, desabotoada revelando uma camisa branca sob a farda. Placidamente, Dae tocava sua flauta transversal de bambu enquanto a brisa fresca de primavera despenteava seus cabelos, tornados brancos desde sua aventura na barriga do Yamato-no-Orochi. Sua tranqüilidade foi quebrada quando alguém o agarrou pela orelha.

– Ai! Reclamou Dae.

Era a raposa Lingling, vestindo um uniforme de colegial, com camisa branca, saia drapejada curta e longas meias brancas. Estava em sua forma humana, sem nenhum aspecto feral.

– Você deveria estar assistindo a aula de matemática! Para sua sorte eu criei uma ilusão sua para que o professor não note a sua ausência.

– A escola é chata, retrucou ele, além do mais, você também não deveria estar na sala de aula?

– Também usei uma ilusão para escapar... Digo... Vir procurar por você.

– Todo esse tempo trancado naquela sala é um desperdício. Nem mesmo podemos usar nossos poderes. O que me lembra que você não deveria estar criando ilusões.

– Foi por uma boa causa. Vamos, temos de retornar para aula. Se você não aprender matemática não vai poder se tornar diplomata, e se você não se tornar diplomata eu não vou poder ser embaixatriz e ir a todas aquelas festas e recepções chiques.

– Não quero voltar para aquela aula chata.

– Você precisa estudar, Dae. Precisa aprender vários idiomas e muitas outras coisas se quiser ser embaixador.

– Falo outros quatro idiomas além de japonês, já basta.

– Sério? Indagou a raposa, como aprendeu tanta coisa em tão pouco tempo?

– Desde que eu tinha quatro anos o meu pai viaja pelo mundo. Já moramos em muitos lugares diferentes. Foi assim que aprendi vários idiomas.

– Isso é bom, mas temos que voltar para a aula de matemática.

– Podemos ficar aqui namorando, o que acha?

– Isso é golpe baixo! Nós raposas temos nossas fraquezas, você não devia usar isso contra nós.

– Tudo para não voltar para aquela aula enjoada. Não preciso saber logarítimos mesmo.

Lingling se sentou ao lado de Dae, que logo passou o braço por seu ombro e ela recostou a cabeça no peito do garoto.

– Achei que você gostasse da escola. Você falou tanto desse lugar, disse que sentia tanta falta! Desde que voltamos às coisas melhoraram, você se tornou campeão de Kendo e capitão do time de baseball.

– Eu realmente gostava daqui, e fiquei feliz quando meu pai resolveu voltar para o Japão, mas de repente tudo aqui ficou tão chato!

– Não se pode passar a vida toda caçando Onis e lutando contra Youkais. Até porque nesse mundo existem poucos seres sobrenaturais e bem menos magia. Todas essas coisas modernas e todo esse conforto são ótimos, tem tantas comidas gostosas que nem sinto mais falta de comer carne humana. A escola também é legal.

– Claro, não sei o que você tanto conversa com aquelas suas amigas desmioladas.

– Elas morrem de inveja porque eu namoro o garoto mais legal da escola. Você também tem muita sorte, eu sou a garota mais popular desse lugar.

– Tudo aqui é chato. Não vejo à hora de irmos à casa de Fujita sensei. Como vão as suas aulas de magia com Quin Feng?

– Bem. Ela quer me ensinar geomancia e magia Yin Yang, mas eu não sou boa com isso. Mas já melhorei meu Kitsune-bi e minhas habilidades de encantamento.

– Sua sombra ainda se parece com uma raposa?

– Desde que comecei a assumir essa forma totalmente humana isso passou a acontecer, disse ela desanimada, minhas lições com Quin Feng Kun tem ajudado.

– Isso é ótimo, não seria bom você ter que hipnotizar mais ninguém para fazê-los esquecer que viram a sua sombra.

– Logo, logo vou dominar as habilidades de Hengeyoukai e não teremos mais esses contratempos.

– Bom, vamos aproveitar o dia. Está muito agradável aqui fora para se passar tanto tempo trancado em uma sala.

A Batalha dos Tengu - ObakemonoOnde histórias criam vida. Descubra agora