Aranha

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Na escuridão de uma cela escura e úmida, podia se adivinhar a silhueta de uma mulher de corpo curvilíneo e esguio. Ela parecia dormir um sono agitado, mas ao perceber um som, tão sutil que qualquer outro nem mesmo o notaria, abriu os olhos. Em meio às trevas, eles brilharam amarelados como duas lanternas, refletindo a escassa luz do ambiente. Sua audição aguçada captava ao longe os passos ritmados de três homens. Pelo ritmo de seus passos e de seus batimentos cardíacos ela os reconhecia, um deles, fez seu próprio coração bater acelerado de pavor. Ainda longe dali, caminhando por corredores labirínticos, sujos e parcamente iluminados, vinham três homens. Os dois que iam à frente não passavam de capangas. Um deles, alto e corpulento carregava um fuzil, o outro, menor e esguio, carregava uma espada. Ambos vestiam-se com ternos pretos. Logo atrás deles, vinha um homem alto, de cabelos longos, porte altivo e extremamente elegante. Seus cabelos longos e negros caiam sobre seu terno impecavelmente branco, assim como o casaco, onde se via uma corrente de ouro pendurada. Destacando-se da alvura do conjunto, apenas a gravata de seda cinzenta. Suas abotoaduras eram de ouro, assim como o caro relógio em seu pulso esquerdo. Mais um detalhe chamava a atenção em sua figura. Em seu rosto havia uma espécie de marca ou tatuagem. Uma sombra negra sob ambos os olhos, de onde se projetavam três traços que formavam um, ângulo e terminavam um próximo à orelha, outro no meio da mandíbula e o último já perto do queixo, isso de cada lado de sua face.

Após uma longa caminhada, os três detiveram-se diante de uma pesada porta de ferro. Assim que o estranho homem de rosto tatuado se aproximou, bizarros símbolos surgiram gravados no metal, emitindo um parco brilho fantasmagórico. Com um gesto ele fez os estranhos caracteres desvaneceram, e um dos capangas abriu a pesada fechadura. Apenas o homem com a tatuagem entrou, e fechou a porta atrás de si. Com um gesto displicente ele acendeu a luz, e sentou-se em uma cadeira que estava ali próxima. Quando a luz foi acesa, a prisioneira fechou os olhos apressadamente, a repentina luminosidade feria sua visão acostumada às trevas. Com a luz acesa se podia vê-la perfeitamente. Ela não usava nenhum traje, e possuía uma aparência no mínimo bizarra. Possuía o corpo coberto de pelos negros, uma cauda longa e bifurcada e feições híbridas entre um humano e um gato. Ela estava presa à parede pelos pulsos, com grossos grilhões, e as paredes estavam forradas com dezenas de pergaminhos com caracteres chineses.

– Kinjo Katsumi san, disse ele com uma voz suave e comedida, já faz tempo desde nosso último encontro. Como tem sido a sua estadia? Nossos guardas a têm tratado bem?

– Dispenso a sua hipocrisia Kijiro o-Hiki-Gumo. Suma daqui, diga ao seu mestre que não vou ajudá-lo.

– Seu povo costuma detestar os Tengus. Meu mestre lhe oferece a chance de batalhar contra eles. Não compreendo a sua recusa.

– Seu mestre é um covarde vil e asqueroso. Diga a ele que envie logo um carrasco para dar cabo de minha vida, não importa o que ele faça, não vai conseguir me dobrar.

– Você é um artigo extremamente raro Katsumi san. Meu mestre não vai desperdiçar assim suas habilidades. Normalmente apenas o Tengus se interessam pelas artes marciais mortais, uma Bake-Neko versada nas artes Shinobi é algo valioso. Você é única.

– Suma daqui! Diga ao seu mestre que faça guerra com quem desejar, mas que eu não serei sua serva.

– Meu mestre é um Kami de grande sabedoria. Ele sabe que você já foi o animal de estimação de um Jounin de Iga, sabe também que você jurou sobre seu túmulo que protegeria a família dele.

– E assim o fiz por longos anos. Até que não restassem mais descendentes vivos.

– Seu voto foi feito em nome do Kami dos gatos, uma promessa solene. Meu mestre descobriu a última remanescente do clã de seu antigo senhor. O que me diz Katsumi san, gostaria que eu lhe trouxesse a cabeça dela numa bandeja?

– Você não ousaria!

– Ela está fora de seu alcance, permanentemente vigiada por nossos lacaios mortais. Basta uma ordem para que ela seja destruída.

– Você mente!

– Eu já esperava que você pensasse assim, por isso eu lhe trouxe uma mecha dos cabelos da garota. Se sua conexão espiritual ainda for forte o bastante você reconhecerá que se trata de uma descendente direta de seu senhor.

Kijiro abriu as algemas, e retirou de um bolso no interior de seu paletó uma mecha de cabelo trançado e a entregou a Katsumi. A mulher gato a segurou gentilmente com as duas mãos. Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo. Todo o seu corpo estremeceu.

– Maldito seja, Kijiro! Se você a machucar, eu juro que vai se arrepender amargamente.

– Basta que se una a nossa causa. Isso garantirá a segurança dela.

– Lutarei ao lado de seu senhor Kijiro.

– Sou seu superior agora, demonstre respeito.

– Sim Kijiro Dono.

– Levante-se, temos muito que fazer. Há uma guerra a nossa frente.

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⏰ Última atualização: Nov 15, 2016 ⏰

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A Batalha dos Tengu - ObakemonoOnde histórias criam vida. Descubra agora