Capítulo 6

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Minha missão era falar qual o motivo do levante. Eu sabia o motivo. Eu sabia que não podia falar a verdade. Eu sabia o que iria falar. Agora eu só precisava descobrir quem era o líder dos soldados franceses que atacaram o baile e precisava descobrir quem matou Jamie. Roberta teria que me ajudar. O pai dela era um dos espiões franceses. Ele estava no dia em que mataram Jamie, porém, o susto foi tão grande que ele acabou perdendo a fala. Ha quem diga que ele deixava tudo anotado em um diário. Se esse diário realmente existir a marquesa vai ter que me dizer. Nem que eu acabe contando a verdade para ela.
- Foi assustador - falou Roberta enquanto tomávamos chá. Ah, eu não suporto chá de gengibre. Na verdade não gosto de nenhum tipo de chá!
- Fiquei preocupada - falei - Soube que dispararam tiros contra você.
- Sim, dispararam alguns tiros, porém, por sorte não fui atingida.
- Não? Então por que está aparentemente machucada?
- Meu marido tirou-me de lá para uma fazenda de um amigo dele. No caminho fui atacada por uma jiboia.
Fiquei boquiaberta. Cobras são assustadoras! A serpente, claro!
- Mas como foi isso?
- Quando desci da carruagem eu estava em choque e acabei fugindo por temer que todos ali quisessem me matar. Dormi na floresta e quando acordei havia uma cobra enrolada em meu corpo.
- Se livrou dela da mesma maneira que se livrou daquela em Versalhes?
- Não com a mesma precisão - disse sorrindo - A de Versalhes eu simplesmente lancei a adaga nela. A jibóia foi um pouco mais complicada. Mas o importante é que estou viva.
- Claro - respondi.
Ela se levantou e ficou caminhando pelo escritório do marido. Avistei os livros do Clã. Ah, que interessante!
- Que livros diferentes! - falei.
- Concordo. São do meu marido. Eu sempre pergunto sobre o que eles falam, porém, Felipe apenas diz que é coisa de homem.
- Vivia na França e acata as ordens do marido? Que tipo de francesa sois vós?
Ela riu.
- Venho de uma família que descendende de árabes. Minha bisavó era árabe. Na Arábia o costumes são extremamente necessários. Apesar de viver entre a libertinagem francesa eu fu ensinada que aquilo era errado, então...
- Entendo-a perfeitamente - falei - Mas não vejo mal algum em que ajas como uma libertina.
- Eu era bem mais recatada - respondeu e pegou um biscoito. - Mas a convivência com Lady Charlô e com o meu marido fizeram-me soltar-me um pouco.
- Não quero imagina-la como era antes de conhecer esses dois. Eras uma freira - comentei e ela riu - Mas devemos admitir que aqueles dois são a libertinagem em peso. Lembro-me aue certa vez ela saiu com um dos membros da Roda. Depois da nossa reunião eles desaparecera.
Ela ficou boquiaberta. Ah, odeio esse recatamento.
- Ela é realmente engraçada. Conversar com ela sobre "aquelas coisas" é...
- Sexo - interrompi - Caso não saiba o nome "daquelas coisas" é sexo.
Ela sorriu envergonhada.
- Não gosto de pronunciar essa palavra - respondeu.
- Sério? Está na hora de agir como uma esposa a altura da libertinagem do marquês. Eu soube que há uma Roda aqui no Rio. Vou acabar com esse seu recatamento a força - ela riu - Nós vamos e você vai falar de sexo sem medo.
- Não sei se...
- Diga ao seu marido que não sentia-se bem e que deseja dormir sozinha. A noite venho e a "roubo."
- Está bem - ela respondeu depois de alguns instantes.
- Acho bom mesmo, Roberta. Você deve ser uma francesa nata. Seu jeito recatado me irrita.
Ela riu.
- Mas diga-me.. Percebi que tu não usas a crinolina. Por quê?
Ela mordeu os lábios. Já soube a resposta antes de perguntar.
- O meu marido assim deseja - respondeu.
Eu a olhei maliciosa.
- Entendo-a perfeitamente. Creio que deverias escrever um diário sobre suas aventuras libertinas com o senhor seu marido - Comentei. Eu precisava de informações sobre algum diário - Seria tão intenso quanto os livros do Marquês de Sade.
Ela olhou-me pensativa.
- Seu comentário fez-me ter uma impressão de... Já estivestes nos braços do meu marido?
- Não - respondi - Mas na Roda ele é muito cobiçado. É por isso que falo que você deve frequentar a Roda. Para marcar território.
- Eu irei junto a vosmecê. Mas escrever creio que seria muito ousado. Se fosse escrever um diário sobre como é a minha vida talvez, mas...
- Sua vida se resume a ele. A partir do momento que se casaram passaram a ser um só. Ele é a sua vida. Então, creio que não seria estranho. Afinal vocês se amam!
- Eu não o amo, Francesca - respondeu - Casei-me com ele porque eu tinha um dívida enorme e não tinha como pagar.
Oh Céus! Isso está começando a ficar divertido.

O Conde de SarteOnde histórias criam vida. Descubra agora