Ele desistiu. Ainda sentia - e como sentia -, mas nada podia fazer a respeito, já havia feito mais do que o suficiente para saber que era o fim, não sobrava mais nada além das memórias - não tão boas - que ele tinha com ela, lembranças de suas mortes antigas.
O máximo que ele tentou foi falar com seus outros "amigos", que também não mais o eram além de memórias. Quem se importaria com alguém que o deixou? E mais que isso, a face de seu amigo esmurrou por motivo tão besta à olhos alheios.
Era o fim do poço, ninguém se importava mais com ele, não que isso fosse uma preocupação de fato, isso não fazia diferença, o único problema de verdade era sua ausência de chance e esperança de um relacionamento com a menina. Só isso o abalava.
Ele não era como são muitos garotos, ele não desejava sua morte, afinal ele queria sentir algo, e a morte já nada lhe passava após morrer centenas de vezes. Ele largou os calmantes, porém manteve as outras drogas; largou sua antiga vida à procura de uma nova, e parecia nada de bom achar, mesmo após incansavelmente procurar. Ele conheceu novos rostos, novas vozes e novas bocas, que só eram suficientes para passar seu tempo e lhe dar divertimento. Cada pessoa nova era como uma droga ruim, que se usa pouco, até passar pra próxima, e depois dessa, a outra.
Certo dia ele viu a garota de novo, e teve vontade de falar qualquer coisa, nem que fosse um "oi". Suas pupilas dilataram, sua boca abriu alguns centímetros e sua voz se agarrou à garganta, hesitante. Ele ficou paralisado, mais ou menos a um metro e meia à frente da garota, que estava sozinha, mas atenta, talvez procurando algo.
"Olá. Há quanto tempo!" o primeiro disse. E o primeiro foi ela. Ele não soube responder sem gaguejar, e não entendeu o tratamento, mas falou mesmo assim. Ela queria uma informação, estava tentando chegar a um local, e perguntou se ele sabia onde era. Tendo uma resposta positiva, pediu que o levasse lá. E ele a levou, confuso. Conversaram no caminho, ela deu seu novo contato e disse "me liga mais tarde".
A ligação durou horas, invadiu a madrugada quase chegou à manhã. Pra sua surpresa, ela só ficou com o ex-amigo dele, e agora ela estava sozinha. Ele disse que também estava, e que se sentia a procura de algo, e ela pensou "talvez agora ele esteja preparado", e talvez ela só estivesse esperando que ele não estivesse afobado. Talvez eles só precisassem de tempo para perceber como é bom estar lado a lado.
