Capítulo 2

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   Trouble passou a noite em meio à chuva. Assim que amanheceu desceu da árvore, trocou de roupa e saiu com facilidade do coração da floresta. Pegou o primeiro taxi que passou e foi direto para o aeroporto, só tinha sua mochila em mãos e não foi notada em meio a tanta gente. Passou despercebida pela guarda forte – porem nada atenciosa - na portaria e fez seu embarque, sem olhar pra traz ou pensar em sua família. Seria difícil para uma garota de quatorze anos ter que amadurecer tão rápido, mas ela faria. Na noite passada depois de ler a carta de sua mãe, prometera a si mesma que iria honra-la, não importa o que tivesse que fazer.

   Hayley não sabia o que faria nem onde iria em definitivo, passou a viagem toda pensando como iria se virar, assim que sobrevoou a cidade sua mente deu um estalo. "Eu sou uma turista, não sou? " – fugida, na realidade – Onde turistas ficam? Em hotéis. E o que eles fazem? Curtem a vida, certo? Certo! Hayley faria isso.

   Assim que desembarcou sentiu o toque de realidade entre suas veias. Lá tudo era grande, havia muita gente. Era louco pensar que cada uma delas iria para lugares diferentes. Crianças chorando, carregadores de um lado para o outro, pilhas e pilhas de mala, gente brigando com atendentes e falando alto ao telefone, outros quietos sentados lendo. Hayley se perguntou como eles conseguiam, ela nunca conseguiria ler num barulho daqueles, ela precisava de silêncio, ela venerava o silêncio. A jovem se deu conta que ali havia guardas um tanto suspeitos, como no seu país. O número de pessoas era grande, mas melhor prevenir que remediar. Ela só precisava ter um mapa em mãos e sairia dali o mais rápido possível. Perguntou a uma mulher que estava sentada lendo onde vendiam mapas naquele lugar, a mulher lhe respondeu bem, ela agradeceu com um sorrisinho meio forçado e partiu em direção ao local indicado. Era bem perto da onde ela estava, porém num canto escondido. "Lojinhas de informações deviam ser melhores situadas, ainda mais num lugar tão grande como este" Pensou Kenneth, enquanto caminhava para dentro do estabelecimento. O lugar poderia ser chamado por qualquer ser humano de banca de revista, pois lá havia visivelmente mais revistas que mapas, porém na frente dele estava escrito "Apenas Mapas". Irônico.

   Pegou os mapas que precisava e dirigiu-se ao caixa. A mulher que a atendera era nova, aparentava ter seus vinte anos, e também ser vaidosa. Sombra clara nos olhos, blush nas maçãs da bochecha e batom pêssego à boca. Vestia um uniforme limpo e formidável nas cores verde cana e branco, seus cabelos estavam amarrados num rabo de cavalo em altura média, ela parecia uma comissária de bordo experiente preste a voar, talvez ela quisesse ser. Ver aquela moça tão bonita e arrumada em sua frente lembrou Hayley de como ela deveria estar feia e desajeitada. O olhar torto da garota à ela confirmou sua duvida. Não deu outra, Hayley catou o dinheiro na sua mochila, pagou seus mapas e partiu em direção ao banheiro. Botou os pés no lugar e logo tratou de dar meia volta, o local parecia um formigueiro feminino, sem falar que ela poderia ser vista por alguém. Ela não ia ficar ali de jeito nenhum, estar naquele ambiente poucos segundos já a incomodara, imagine passar o tempo necessário para trocar de roupa e se limpar? De jeito nenhum! Kenneth saiu imediatamente. Enquanto ia olhou algumas opções de hotéis no guia, todos eram luxuosos e bem localizados, mas ela não precisava disso. No terceiro guia que olhou, achou justamente o que estava procurando. Um grande hotel, não muito luxuoso, com uma ótima vista, do lado norte da cidade, era lá que ficaria! Não pensou duas vezes, pegou um taxi e selou sua independência. O motorista passou o caminho todo calado, o trajeto demorou mais ou menos 40 minutos. Hayley gostou do tempo que levou para chegar ao lugar, ela pôde respirar, botar os pensamentos em ordem e observar a linda cidade, estava gostando de San Francisco.

   Na fachada grande e chamativa estava escrito "HILTON WALDORF PALACE HOTEL" em letras vermelhas engarrafadas, era bastante bonito. Ao descer do carro e ver tudo àquilo tão perto ao alcance da sua mão, não acreditou, não parecia real. Ela temia não conseguir viver sozinha, mas não tinha opção, teria que viver daquele jeito querendo ou não. Hayley sentiu pequenos choques pelo corpo e um frenesi no pé da barriga, era meio difícil de acreditar, que há um dia atrás ela estava em casa sentada na sua cama lendo alguma saga sobre lendas urbanas ou algo do tipo. Tudo era muito surreal. Mas não podia se deixar levar por todos aqueles sentimentos, se não já sabia o que aconteceria, ficaria invisível e tudo acabaria num piscar de olhos. Então respirou, inspirou e relaxou, ficando ponta.

THE MUTANTSWhere stories live. Discover now