Eu não vou trabalhar

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21 de novembro de 2016

00:10

Descobri que não quero trabalhar.

Trabalho é por dinheiro, e eu não quero dinheiro. Quero explorar minha criatividade.

Todas as coisas que fiz por dinheiro foram por água abaixo, e só me trouxeram mágoa e frustração.

Tudo o que fiz por prazer, sem intenção direta de ganhar dinheiro, eu cheguei no mínimo em primeiro lugar.

O dinheiro como objetivo mina minha criatividade. Dinheiro como consequência de quem sou e do que faço é bem-vindo. Dinheiro que trabalhei para conquistar é maldito, eu odeio.

Estou pasma em descobrir que sou uma não-ajustada, enquanto passei a vida inteira achando que era ajustada.

Você deve estar se perguntando o que significa ser ajustada ou não-ajustada. Eu aprendi esse conceito com Fritz, pai da Gestalt-Terapia. Ele dizia que o mundo é dividido nesses dois tipos de pessoas: 1) os não-ajustados - os loucos, os artistas, aqueles que só dão trabalho, os que não querem trabalhar, que vivem a vida pelo que sentem, que não conseguem acatar o que a sociedade exige. 2) os ajustados - aqueles que trabalham, e muito. Pagam suas contas, e as contas dos não-ajustados. São auto-suficientes, e tem muita habilidade em se ajustar à sociedade.

Acontece que minha família é ajustada, e eu não podia discordar deles para que eles continuassem me amando e bancando meu sustento. Porque eu preciso disso, preciso de um pai que me banque.

Engraçado a palavra pai. Ela se refere tanto àquele ser humano que nos ajudou no processo de nossa concepção, quanto ao Criador. Pai traz sempre a ideia de alguém que nos dá a vida e nos provê o sustento.

Por muito tempo eu fiquei em guerra contra esse pai, tanto o homem quanto o divino. Eu queria provar para mim e para o mundo que eu era capaz de conseguir meu próprio sustento. Porque na minha concepção, se eu não fosse capaz de ser independente eu não teria valor.

Passei a rejeitar aquelas pessoas que eram "relaxadas", sustentadas por terceiros. No fundo eu tinha medo de terminar como elas, e quando a gente tem medo de algo é porque aquele algo já está acontecendo.

Em algum momento, declarei guerra contra o pai, e quis mostrar que eu podia me virar sozinha. Sabe qual é a ironia? Sempre precisei de ajuda de alguém, eu nunca fui financeiramente livre.

Ao perceber tudo isso, decepcionada, parei de lutar. Se eu não posso sozinha, o melhor que posso fazer é aceitar. Talvez eu seja mesmo uma não-ajustada por natureza, e o mundo só está querendo me mostrar isso.

Agora, quem faz o papel de pai na minha vida é meu "namorido". E quer saber? Eu acho que ele gosta de me ajudar no meu sustento. Se não gostasse, não estaria aqui ainda. A gente só faz o que gosta, só faz aquilo que nos traz vantagem. A gente nunca sai no prejuízo.

Mesmo que se trate de um hábito que consome a gente, algo que nos faça mal por um lado, pelo outro lado você sempre tem um ganho. Pergunte ao seu inconsciente (ou procure um terapeuta).

Então tenho certeza que pais gostam de sustentar, e filhos, como eu, gostam de ser sustentados. O ponto é que eu nunca quis admitir meu lado frágil, o lado filho, o lado que precisa de cuidados, a parte que me faz impossibilitada de viver sozinha.

Mas para quê querer ser o que não sou? Só para a sociedade me olhar e me admirar? Para quê? Não faz sentido viver de aparências. Fingir ser o que não é só suga a nossa energia, e nos faz sentir cada vez pior.

Há sempre um pai ajustado para cuidar de uma filha não-ajustada, porque o universo precisa de nós dois.

Quer saber? Qual é o problema de ser a vagabunda que todos dizem odiar, quando na verdade, todo mundo quer me levar pra casa porque me adora?

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O conceito de ajustado e não-ajustado eu vi no livro "Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata do lixo". É um livro muito bom, super recomendo.

Não se esqueça de votar, se você gostou desse capítulo, é claro!  

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