"Dor chega em todas as formas possíveis. Uma dorzinha aguda, um pouquinho de depressão, a dor aleatória com que convivemos todos os dias. Então tem o tipo de dor que você simplesmente não consegue ignorar, um nível tão grande de dor que bloqueia todo o resto, faz com o que o mundo inteiro desapareça até que a gente só consiga pensar que o tanto que machucamos e a maneira com que lidamos com a dor é totalmente pessoal. Nós anestesiamos, sobrevivemos a ela, ou a abraçamos, ou ignoramos. Para alguns de nós, a melhor maneira de lidar com ela é atravessando-a."
A resposta de mamãe foi não. E a de papai também.
Ela ficou irada. Tipo, estava irada com a Sra. Lawton, era o que repetia, mas parecia que estava ainda mais comigo, a julgar pela maneira como voltava aos mesmos tópicos.
Sei que ler e-mails privados é ultrapassar todos os limites.
Sei que meus pais estão lidando com questões sérias e que não podem fazê-lo se estiverem constantemente com medo de que eu entre em suas contas de e-mail.
Quero viver em uma casa cujas portas estão permanentemente trancadas? (Não.)
Quero viver em uma família em que não existe confiança? (Não.)
Espere um minuto aí, foi Sam quem fez isso? Seu irmão ajudou? (Silêncio.)
As narinas de mamãe estavam pálidas, as veias na testa pulsavam, e papai tinha uma expressão grave, seriamente grave, como não exibia havia um tempo; os dois estavam cem por cento decididos que falar com Alec não estava em discussão.
— Você está frágil, Filho — repetia mamãe sem parar. — Como uma peça de louça que acabou de ser colada.
Ela pegou a metáfora emprestada da Dra. Sarah.
Será que costuma falar com a terapeuta pelas minhas costas? Isso jamais tinha me ocorrido. Mas, também, posso ser bem lerdo para entender certos fatos, isso é claro.
— Querido, sei que acha que será uma experiência catártica, em que vai expor seu lado da história e todos vão aprender algo valioso — pondera papai. — Mas, no mundo real, isso não acontece. Já confrontei minha parcela de babacas na vida. Eles nunca entendem que são babacas. Nunca. Não importa o que se diga. — Virando-se para mamãe, continua: — Lembra o Ian? Meu primeiro chefe? Bem, está aí um exemplo de babaca. Sempre foi, sempre será.
— Não planejo falar nada — observo. — Era ele quem queria pedir desculpas.
— É o que ele diz — retruca mamãe entre dentes, sombria. — É o que diz.
— Explique para nós por que quer fazer isso — pede papai. — Explique.
— São as desculpas dele que quer ouvir? — arrisca mamãe. — Podemos pedir para Alec escrever uma carta.
— Não é isso. — Balanço a cabeça com impaciência, tentando colocar os pensamentos no lugar de modo a fazerem sentido. O problema é que não tenho como explicar. Não sei por que quero fazê-lo. A não ser para, talvez, provar algo. Mas a quem? A mim mesmo? Alec?
A Dra. Sarah não fica empolgada ao ouvir sobre Alec, ou Aiden, ou qualquer um deles. Diz sempre: "Dean, não precisa de nenhuma validação dos outros" e "não é responsável pelos sentimentos alheios" e "essa tal de Aiden parece entediante, passemos para outro tópico".
Chegou até a me dar um livro sobre relacionamentos doentios (quase ri alto. Será que existe qualquer relacionamento mais doentio que aquele entre mim e Aiden?). Versava a respeito de como se precisa ser forte para se livrar do abuso, e não ficar constantemente se comparando a pessoas tóxicas, mas, em vez disso, permanecer firme e distinto como uma árvore cheia de saúde. Não como alguma árvore atrofiada, caindo aos pedaços, dependente e vitimizada. Ou algo do tipo.
YOU ARE READING
À procura de Dean ✔️
Romance"Dean, leva uma vida relativamente comum, até que começa a sofrer bullying na escola. Aos poucos, ele perde completamente a vontade de estudar e conhecer novas pessoas. Sem coragem de sair de casa e escondido por um par de óculos escuros, a luz par...