Haviam se passado dois anos desde que ela se fora. Dois anos desde que um pedaço de Leon havia sido arrancado. E ele sofreu, muito. Teve esperanças de que ela ligaria, ou mandaria uma mensagem mínima. Mas é claro, nada disso aconteceu.
E nove meses atrás conheceu alguém que o fez bem. Temporariamente, pois depois de casarem, as brigas eram bastante frequentes. Principalmente por causa dela. Anne sentia ciúmes de qualquer sentimento que Leon poderia ainda ter por Nilce.
E isso estava o afetando muito, então mentiu. Disse que teria de viajar para resolver um caso de alguns anos atrás e estaria fora durante um tempo indeterminado. No fundo, bem no fundo, Anne sentia que não era verdade, mas preferia acreditar.
E ele se foi, para Vancouver, no Canadá. Era um lugar onde estaria distante, e poderia conhecer um pouco da cidade. Os dias estavam se passando, a tranquilidade de um apartamento onde não havia nada mais do que o barulho da máquina de café pela manhã o acalmava.
Não era aquela vida com Anne que havia planejado, ele queria filhos e brinquedos espalhados pela casa com Nilce. Queria as risadas pela manhã, os cabelos bagunçados em seu colo assistindo TV, o rosto corado quando a pegava de surpresa. Os ciúmes bobos e saudáveis, as reclamações de fome da Nilce e o jeito que odiava ser acordada de madrugada. Se pegou pensando nela, onde estaria e se sua vida havia mudado muito.
Do outro lado da cidade, ela ia para cama, estava de férias e havia decidido sair do país. Sua amiga Jennifer indicara Vancouver, dizendo que ela conseguiria uma boa vista naquela época do ano. E realmente conseguira. Um parque no meio da cidade havia deixado Nilce encantada. Ela se pegava pensativa, sua vida mudara tanto. Leon não estava ali para afagar seus cabelos durante uma crise dessas, e ela sentia falta. Sentia falta dos apelidos fofos e das referências à filmes que ele fazia, dos inúmeros beijos após um dia estressante que insistia em lhe dar e das incontáveis vezes que sussurrava "eu te amo" em seu ouvido.
Era injusto com ele ter tido que passar por uma separação dessas, mas com Nilce também fora difícil. Depois de quase um ano e meio conheceu um homem pelo qual namorou durante quase dois meses, mas que não chegava aos pés de Leon. Era um pouco rude e se estressava fácil demais, gritava e em uma noite ruim acabou por bater em Nilce. Ela chorou muito. Se sentiu acabada e fugiu dele o mais rápido que pôde, o denunciou e conseguiu colocá-lo atrás das grades. Não se envolveu com mais ninguém depois disso.
Por fim adormeceu, depois de ver quantas coisas aconteceram em sua vida, coisas não planejadas e nem um pouco esperadas.
Havia feito uma programação para conhecer mais a cidade e no dia seguinte já começava a colocá-la em prática. Foi até a praia e passou algumas horas lá, depois visitou alguns monumentos históricos e decidiu ir em um lugar de patinação no gelo.
O lugar era relativamente grande e tinha poucas pessoas. Vestiu os patins e tentou algumas voltas. Caiu na primeira e na segunda, mas se levantou rindo e na terceira até curvas conseguiu fazer. Se sentiu confiante e continuou, tentando algumas manobras que hora acertava e hora errava.
Estava se divertindo quando viu um rapaz de boina cruzando a porta e indo pegar sapatos. Parou por instantes até ter certeza de quem era. Ele. Leon estava bem ali, à alguns metros de distância que diminuíam cada vez mais. Voltou a dar voltas, um frio na barriga a dominava. E, por mais que o lugar fosse gelado, aquilo era diferente.
Caiu no meio da pista após torcer o tornozelo e sentir uma dor aguda. Talvez fosse o nervosismo em vê-lo perto demais, ou simplesmente uma distração breve. Sentiu alguém parado atrás dela e continuou olhando para o chão.
-Você precisa de ajuda? O que aconteceu?- A voz suave que sentia tanta falta dizia e ele se abaixava para poder ajudá-la.
-Eu... Só me distraí.- Na hora Leon reconheceu o tom da voz de Nilce e corou. Parou e respirou fundo, não estava pronto para lidar com isso.
-Pode ter se machucado.- Continuou sem poder ver seu rosto, os quais os cabelos soltos cobriam.- Venha.
Passou os braços de Nilce ao redor de seu pescoço, a segurou pela cintura e a levantou devagar. O toque quente a fez arrepiar e soltar um sorriso mentalmente.
Quando os olhares se encontraram, não restavam dúvidas. Ela nunca havia acreditado muito em destino, mas sabia que se contasse essa história para alguém pareceria a maior mentira do mundo. E não era. Era real. Tão real quanto o brilho nos olhos dele e o sorriso estampado nos lábios dela.
Por um momento ninguém disse nada, ficaram se admirando em silêncio, até que Leon a puxou para um abraço onde afagava seus cabelos loiros e deixava uma lágrima de felicidade escapar. Era isso. Ele percebia que sem Nilce, não era feliz, mesmo que fingisse ser.
Saíram da pista, aquilo não interessava mais nenhum dos dois, e ele a levou para o apartamento que estava ficando, era próximo e poderia ajudar com seu pé. Não teve escolha sem ser aceitar, e nem queria ter.
Quando Leon abriu a porta e tudo estava arrumado, ela se surpreendeu.
-Horas entediado.- Logo disse, a fazendo rir um pouco constrangida.
Ele a colocou no sofá e buscou gelo para seu pé, provavelmente era apenas uma torcida.
Não tinham muito assunto para conversarem, ou não sabiam ao certo como começar um. Então contaram o que estava acontecendo na vida deles.
Nilce começou a segurar o choro quando descobriu que havia se casado e cogitou ir embora. Mas ele a segurou, a segurou e a beijou intensamente, algo que desejava com todas as forças, que esperava poder fazer novamente há dois anos. E ela retribuiu, pois também esperava, também desejava e não aguentaria mais ficar sem aquilo. As bocas em uma perfeita sincronia e a luz fraca da sala deixavam o momento ainda melhor. Se separaram pela falta de ar, e ficaram encarando um ao outro.
-Você é casado.- Lembrou Nilce, cruzando os braços.- Eu não deveria... A gente não...
-Eu vou me divorciar.- Soltou rápido, a cortando.- Ela nem sabe que estou aqui. E Anne não é a mulher que amo. Não é com quem quero acordar pela manhã com beijos, quem quero assistir várias vezes os mesmos filmes clichês e a abraçar durante os romances. Nilce, é com você que quero isso. Sempre foi e sempre será. E não importa se terei que me mudar, eu iria até ao Japão pra ficar contigo, sentir seu abraço antes de dormir e acordar maravilhosamente bem, mesmo que tenha dormido pouco. E sim, eu sou casado agora, mas minha felicidade não é com ela, e vou me divorciar o mais rápido possível. Quero ter tudo com você, se aceitar.- Fez uma pausa, ela estava chorando, emocionada.- Aceita, Nilce Moretto?
-Sim! É claro que sim!
Deu-lhe um beijo e em seguida o abraçou, sentindo seu coração acelerado e imaginando a vida que teriam pela frente.Heeey
Então é isso. Demorei bastante pra escrever esse final, os outros ficaram muito ruins e tava sem ideias. (Caso não esteja sabendo, essa fic é a continuação da segunda que escrevi aqui, é um reencontro depois de anos).
Espero que tenha ficado bom e me desculpem por qualquer coisa.
Até a próxima e... Tchau.
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Pick me, Choose me, Love me
FanfictionNunca fui boa em criar histórias longas, então aqui serão escritas várias oneshots Leonil, com finais felizes ou não. Ideias soltas da minha cabeça que poderiam, ou não, ter uma continuação. A criatividade é o que conta, não é mesmo, Nilce?