Leon acordou com uma luz forte em seu rosto e o corpo dolorido. Estava em um hospital. As memórias do tsunami passavam por sua cabeça e com elas, o estado de choque.
-Leon Martins?- Ouvia ao longe a voz de um médico, ele queria gritar que sentia dor, mas simplesmente não conseguia.- Você passou por muita coisa, deve estar doendo muito. Sabe o que aconteceu?
-Sim...- Sussurrou com as forças que tinha e se deu conta de que Nilce estava com ele na hora.- Cadê minha esposa? Nilce Moretto?
-Hãn... Este nome não consta aqui, ela estava com o senhor?- Ele assentiu e o desespero invadiu sua mente de forma violenta.- Nós vamos tentar achá-la, certo Leon?
-Eu preciso dela. Vocês são o único hospital atendendo as vítimas?
-O único restante.- O médico respondeu com tom nervoso em sua voz.
-Eu preciso dela.- Repetia Leon, não imaginava como sua esposa poderia estar.
O médico se retirou, dizendo que tentaria saber sobre ela e que tinha outros pacientes para informar.
A cabeça de Leon latejava de tanta dor, o semblante do doutor não o agradou, parecia não acreditar que ela estaria viva.
Eles estavam saindo do mercado quando viram a grande onda se formando. E correram o máximo que puderam, mas era óbvio que não conseguiriam escapar. Engraçado como um acontecimento pode mudar sua vida, como as coisas estão bem em um momento, e no outro... Desabam.
Uma semana já havia passado desde o tsunami, e Leon não tinha notícias de Nilce. Os médicos diziam para esperar o pior, mas ele tinha esperança. A esperança de vê-la cruzando a porta do hospital viva, de alguém tê-la ajudado depois de algum tempo.
-Você é a mulher de pouca fé, mas por favor, que não tenha desistido disso. Tenha tido fé que escaparia viva, por favor meu bem.- Estava na capela do hospital, as lágrimas rolavam sem controle por seu rosto.- Eu quero uma vida contigo, Nilce. Quero filhos, netos, viagens e tudo o que você quiser. Então, por favor, não tenha desistido de nadar.
Leon queria que tudo aquilo fosse um pesadelo, que acordasse ao lado dela e visse que estavam bem e seguros. Mas aquilo era real. Tão real quanto as cicatrizes em seu braço e sua perna quebrada. Tão real quanto a sensação de perda que se instalava em seu corpo após quase um mês sem saber de Nilce. Tão real quanto o dia que foi liberado e conseguiu voltar para casa.
Tudo estava inundado, a maioria das coisas que tinham havia sido perdida. As vidraças estilhaçadas pelo chão. Caminhava com cuidado entre as poças e cacos, tentando achar qualquer coisa que não tivesse sido atingida.
-Deus! A Nilce odiaria ver o apartamento nesse estado.- Falava consigo mesmo, entrando na sala onde costumava gravar seus vídeos e pegando o Alfredo, que se encontrava no chão, encharcado.- Ela gostaria de salvar isso...
O coração de Leon apertava-se ao entrar em seu quarto e encontrar o armário no chão, as roupas de ambos espalhadas pelo lugar. A última lembrança deste quarto era boa, mas se não pudesse tê-la de novo, o que faria? Isso o assustava muito.
Topou o pé em algo pesado e quase foi ao chão, tendo que segurar-se na porta. Olhou para baixo, uma caixa preta estava em sua frente. Abriu, e lágrimas desciam por seu rosto quando percebeu que deveria ser um presente de Nilce. Um vídeo game que queria há bastante tempo, e ela conseguira manter em segredo.
Rumou para a sala, os pensamentos em Nilce, e esperando com todas as forças que ela pudesse voltar ali, pudesse dar risada das piadas com ele, pudesse se sentir frustada pelos danos do apartamento e dos equipamentos de vídeo.
Sentiu o vibrar do celular recém comprado e o puxou do bolso, atendendo. Era do hospital, e Leon gelou. Prendeu a respiração por algum tempo, sentiu as pernas bambas e o suor percorrendo seu corpo.
"Ela está aqui" o médico que o atendera dizia. "De alguma forma, um rapaz a ajudou".
Ele esqueceu o restante da conversa e respirou fundo. Chorou, desta vez de alegria, e não sabia o que fazer. Às vezes, até a mínima esperança é importante, e Leon a tinha. Apesar de todos os conselhos médicos para se preparar, ele teve esperança de que Nilce conseguiria. E ela conseguiu.
Foi o mais rápido que pôde até o hospital e conversou com alguns médicos. Eles queriam esperar Nilce acordar para saber como estava, pois havia acabado de passar por uma longa cirurgia.
Leon entrou no quarto, sua esposa parecia estar em paz, apesar de todos os machucados e pontos. Sentou em uma cadeira ao lado da cama e esperou. Esperou até que pudesse ver aqueles olhos claros outra vez, até que pudesse lhe dizer mais vezes o quanto a amava. E após quase dois dias, Nilce acordou.
-Le-Leon?- Sua voz fraca chamava o marido.
-Oi meu bem, estou aqui.- Segurou sua mão e chamou um médico.- Eu te amo tanto.
-Eu também, amor...
O doutor fez vários exames, que duraram o que parecia uma eternidade, até concluir que ela estava bem, que em pouco mais de um mês poderia voltar para casa.
Aquilo parecia algo de filme... Ou um milagre. E o que quer que fosse, havia dado uma segunda chance para ela, uma segunda chance para a família deles que viria a seguir.Heey
Estou chorosa, esse capítulo teve drama demais. Me desculpem qualquer erro, não consegui revisar.
E feliz natal cambada! ❤
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Pick me, Choose me, Love me
FanfictionNunca fui boa em criar histórias longas, então aqui serão escritas várias oneshots Leonil, com finais felizes ou não. Ideias soltas da minha cabeça que poderiam, ou não, ter uma continuação. A criatividade é o que conta, não é mesmo, Nilce?