Adentraram a escola faltando exatamente dez minutos para o começo da aula, Anne não entendia o porquê de Mike ter dito que ela não gostaria de entrar lá só.
A escola parecia um palácio, todo pintado de branco por dentro e com grandes pilares que se assemelhavam a cenários de filmes da Disney de princesas. As salas, que ficavam no segundo andar, eram todas com paredes brancas e mesas com tecnologia avançada.
— Não entendo, por que me disse que é um mau ambiente para se estar sozinha? — Anne perguntou a Mike que, diferente da garota, se mantinha impassível e não parecia nem um pouco deslumbrado.
— Acredite, apesar da aparência refinada, as pessoas daqui são da pior laia, julgam sem saber sua história, tenho certeza de que algumas delas já falaram sobre a maneira com que estamos vestidos, sabe, sem o uniforme — o garoto respondeu conduzindo a menina pela mão em direção à diretoria.
Anne foi apresentada a diretora que a presenteou com o uniforme da escola, a velha senhora já sabia tudo sobre a órfã.
As salas eram todas pintadas de branco e com mesas tecnológicas arrumadas em pares, o uniforme composto por uma blusa de seda branca e calça preta com sapatos sociais, para os meninos, e um longo vestido de abertura média para meninas, que ainda podiam usar alguns acessórios e Anabelas, com certeza a mensalidade não era barata e seu nome fazia jus a toda a sofisticação do lugar: Palace School of England.
— Esse lugar já foi um antigo castelo onde viviam a família real e seus familiares, mas um dia eles foram assassinados pela filha mais nova, que depois se matou — Mike disse a Anne enquanto estavam na aula de história.
Anne voltou para casa depois de almoçar no grande salão de almoço do colégio. Passou pela rua observando como tudo na cidade Lakesville era extremamente arrumada, as ruas sem uma pichação sequer, bem diferente de sua antiga cidade, Leakstown. Poucas pessoas andavam na rua, a maioria circulava pela pequena cidade de carro, nas famosas carruagens modernas, as limousines.
Avistou um grande portão à frente, "tia Cora vive em uma bela casa, pintada de branco por fora, com extensos jardins floridos, um caminho que leva até a porta de entrada da residência e uma cerca de barras de ferro adornadas". A menina observou também como a casa era dividida, um hall separado por um arco da sala principal, pé direito alto, todos os cômodos decorados, "uma linda casa, digna de Gossip Girl" – pensou assim que terminou de subir as escadas encontrando um quarto em que na porta estava escrito seu nome em letras de madeira cor-de-rosa bem claro.
Uma cama com dossel, uma escrivaninha meio prateada com um espelho, um closet do tamanho do maior banheiro de sua antiga casa, que não era nada pequeno, e um banheiro maior que seu antigo quarto, esse era o quarto de Anne, ou melhor, sua casa sem cozinha.
Deitou-se na cama pensando em como sua vida mudaria em tão pouco tempo, o que será que o futuro a reservava? Levantou-se tão rápido quanto se deitou e se dirigiu ao enorme closet pegando uma regata e um shorts, Lakesville não era exatamente quente, mas a menina não sentia frio algum naquele momento. Calçou seu par de Vans preferido e saiu para caminhar.
De forma inconsciente, se dirigiu ao cemitério da cidade que, ela constatou, assim como o resto era encantador. Sentou-se ao lado do tumulo da família e começou a escrever em seu diário suas lamúrias e sentimentos escuros, pensando no quanto sua vida havia mudado por causa de um mero chilique adolescente, mal sabia a garota que o que está ruim pode ficar pior.
— Vocês não gostariam de me ver aqui deste jeito, não é mesmo? — perguntou ao tumulo que ela sabia, não podia ouvir. Ou será que podia?
— Aqui de novo, Anne? — o voz familiar vinha de trás das covas maiores.
— Posso te perguntar o mesmo Mike — a garota respondeu tristonha.
— É costume, meus avós estão enterrados aqui, sabe? — ele respondeu a menina de forma calma e controlada, mas visivelmente triste. — Anne, não fique triste assim por uma morte fique triste assim por uma vida, porque sabe que tudo pode ficar bem pior, verá em breve...
Mike saiu do cemitério com as mãos nos bolsos da calça jeans preta e rasgada tentando não se mostrar preocupado, mas não conseguindo esconder de Anne seu sofrimento, a verdade é que só fora ao cemitério porque ele sabia que ela iria. Anne era muito mais do que simplesmente Anne aos olhos de quem vê.
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A garota saiu do cemitério por volta de nove horas da noite, sem fome ou sono algum, mas ciente de que no dia seguinte teria aulas para enfrentar vestida em um vestido extremamente desconfortável.
Foi dormir sem ao menos jantar e com todas as janelas abertas, se é que se pode chamar de dormir o que aconteceu naquela noite. Revirava de um lado para o outro, sua imaginação fértil criava sombras e monstros nas paredes e sombras que vagavam na parte visível do jardim, se levantou para fechar as cortinas e as visões só pioraram, aumentando o tamanho das sombras projetadas nas paredes e nas cortinas brancas e finas, Anne podia jurar ter visto um rosto desfigurado por um breve momento, mas rapidamente esqueceu essa ideia quando se lembrou que fantasmas não existem e que aquela era uma casa de máxima segurança e que ninguém poderia entrar despercebido. Ah, Anne, como estava errada.
Anne possuía uma cabeça pequena para o mundo em relação ao anormal, mesmo que naquela cidade aquilo fosse perfeitamente normal. Não, não normal, comum.
X———————X
— Qual é a diferença entre o normal e o comum se os dois são feitos pela maioria da gente? — Belle, a mais nova de sete irmãos perguntou à prima mais velha.
— Sempre me perguntei a mesma coisa, mas um dia a vida nos mostrará, certo? — Errado, a vida mostra o que não é importante, já a morte mostra o essencial. Belle sabia disso, com apenas oito anos de idade ela possuía os olhos de quem vê, tentava dar os próprios olhos a sua prima que era alguns anos mais velha e mesmo assim muito mais ingênua.
Se Anne queria acreditar no que seus olhos viam? Não, Também não acreditava que seus pensamentos e paranoias fossem reais, mas não acreditar em si mesma, foi seu primeiro grande erro, quem sabe a menina não poderia ter dado um rumo diferente à essa história desde o começo? Um rumo mais normal?
Por exemplo: é normal ter medo de algo, mas é somente comum temer a morte, afinal, um dia ela chegará a todos nós, não é mesmo?
..
Minhas sinceras desculpas pelo atraso, só que ontem eu tive médica e ela receitou uns remédios lá pra dormir que eu tive que correr atrás.
Mandem perguntas pessoinhas do meu core, quem ler esta história vai passar a ser chamado de... vocês escolhem!
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Onde há luz, há sombras
Terror"Onde há luz, há sombras, tome cuidado pequena Anne." "Nem tudo o que parece é. Abra os olhos filha, o mundo não é um conto de fadas." Frases que rondam a cabeça da menina de quinze anos que tenta irremediavelmente descobrir o sentido daquelas frase...