Anne estava sentada na grama fria e molhada da manhã, olhando para o nada, seus olhos inexpressivos refletiam os primeiros raios de sol da manhã. Se levantou tentando não pensar que em algumas horas as pessoas olhariam a ela com curiosidade no olhar, lamentando o fato de ela estar ali.
Continuou andando por entre as lápides, algumas já desgastadas com o tempo, outras muito novas, mas aquelas três lápides lado a lado, com o sobrenome Miller nelas, a fizeram marejar, suas lembranças daquele local eram quase nulas, a única vez que em que estivera naquele lugar antes foi na época da morte de seu avô, que se encontra enterrado naquele mesmo local, não muito longe de onde ela estava, voltou a Lakesville apenas para o enterro de sua família e sua tia acabou ficando com sua guarda.
— Camille, o que fez foi errado. Eu sei que você os matou, mas sei que não se matou. Nunca sentiu remorso de nada... — Anne disse passando delicadamente os dedos pelas letras entalhadas em pedra. — Mesmo com todas as coisas erradas em nossas vidas, eu ainda amo todos vocês, saibam que eu nunca os esquecerei.
— Falar com túmulos não é saudável. Nos faz lembrar ainda mais. Quem eram? — o menino, que apareceu de repente, perguntou de modo afetuoso a Anne, que até então chorava, pareceu notar sua presença e rapidamente secou as lágrimas. — Me desculpe se te assustei. Sou Mike, quem é você?
— Você faz muitas perguntas, não é? — respondeu às perguntas com outra pergunta, mesmo sabendo que não era uma resposta decente. — Eram meus pais e minha irmã, eles tinham manias bem... estranhas. Camille matava sem piedade, ela só tinha treze anos. Meus pais estavam sempre endividados, saíam escondidos de noite, sempre uma bagunça. E mesmo assim éramos felizes! Mas, infelizmente, algumas coisas da vida só aprendemos a dar valor quando perdemos...
— Sei como se sente. Não respondeu minha pergunta ainda.
— Eu sei, mas nomes são algo tão... irrelevante. Se realmente quer saber, sou Anne, Anne Miller.
— Bonito nome Anne. Vai ficar aqui até quando?
— Vou morar aqui. Mas agora eu preciso ir andando. Tenho que ir para a escola.
— Então vamos juntos, Lakesville é uma cidade pequena, só há uma escola por aqui e posso te afirmar que não vai querer entrar na escola só.
Anne ficou pensando no porquê de o garoto dos olhos verdes querer ajudá-la mesmo sem conhecê-la, lembrou-se então de uma frase muito dita por sua mãe, "onde há luz, há sombras, tome cuidado pequena Anne."
Assim como "nem tudo o que parece ser é", aquela frase era extremamente enigmática para que sua mente tão ingênua do começo dessa história entendesse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Onde há luz, há sombras
Korku"Onde há luz, há sombras, tome cuidado pequena Anne." "Nem tudo o que parece é. Abra os olhos filha, o mundo não é um conto de fadas." Frases que rondam a cabeça da menina de quinze anos que tenta irremediavelmente descobrir o sentido daquelas frase...