Prólogo

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Desde o primeiro dia em que assumi a função de secretária executiva de Gabriel Caldwell, soube que estava prestes a enfrentar um grande desafio. Ele era um homem de altas expectativas, conhecido por sua perfeição implacável e sua capacidade de fazer todos ao seu redor se sentirem como se estivessem sempre na corda bamba.

A sala estava envolta em um silêncio tenso, quebrado apenas pelo suave sussurrar dos papeis sendo virados. Gabriel estava absorto em seus documentos, seu rosto sério refletindo a pressão constante que parecia carregar. Finalmente, ele quebrou o silêncio, sua voz grave ressoando no ambiente.

— Olívia, preciso de um favor — disse ele, sem desviar o olhar da pilha de papeis à sua frente.

Eu engoli em seco, sentindo a curiosidade crescer dentro de mim, uma mistura de apreensão e expectativa. Ele nunca me chamava pelo primeiro nome, então isso já era um sinal de que o pedido não seria trivial.

— Claro, senhor Caldwell. O que você precisa? — respondi, tentando manter a compostura e disfarçar a crescente inquietação.

Ele se recostou na cadeira, passando uma mão pelo cabelo de forma pensativa, e uma expressão de hesitação cruzou seu rosto normalmente inabalável. Isso me deixou intrigada.

— Eu preciso que você finja ser minha namorada.

Minhas sobrancelhas se ergueram em surpresa, e por um momento, eu quase deixei escapar uma risada. A ideia era absurda.

— Desculpe, o que o senhor disse? — perguntei, inclinando-me para frente, buscando alguma pista de que ele estava brincando, mas a seriedade em seu olhar me fez hesitar.

— Não estou brincando — ele afirmou, sua voz firme cortando qualquer traço de humor que pudesse ter permeado a sala. — Meus pais estão me pressionando para me estabelecer e parar de farrear. Eles não acreditam que estou feliz no trabalho.

— Então, o senhor quer que eu finja ser sua namorada para acalmá-los? — A incredulidade transparecia em minha voz, enquanto meu cérebro tentava processar a proposta absurda.

— Sim. Apenas por um tempo — ele insistiu, o olhar profundo e persuasivo como um contrato que exigia ser cumprido.

— Eu não... — as palavras travaram na minha boca, confusa entre a ideia ridícula e a estranha seriedade da situação.

— Quero que você pense na minha proposta. — Ele falou como se estivéssemos discutindo uma transação de negócios, a frieza de suas palavras contrastando com a natureza pessoal do que estava pedindo.

— Senhor Caldwell, minha resposta é não. — Ele levantou uma sobrancelha, o canto da boca se curvando em um leve sorriso, que, em vez de aliviar, apenas aumentou minha frustração.

— Por que não? — indagou, sua voz carregando uma pitada de desafio.

— Não vejo nenhum benefício — respirei fundo, o peso da sua expectativa pairando sobre mim. — Eu conheço sua mãe, e apesar de tudo, eu não ficaria confortável em enganar ela e o seu pai. Além do mais, a única pessoa que sai ganhando algo nessa proposta é você.

— Faz sentido, nenhuma negociação que beneficia somente uma das partes é viável. Me diga, o que você quer, senhorita Moretti? — Olhei para ele, confusa. Eu não estava pedindo nada, apenas me opunha à sua proposta.

— Não é uma negociação, minha resposta é não — respondi, com firmeza.

— Você deve precisar de algo — ele me olhou com um brilho de perspicácia nos olhos, como se estivesse tentando desvendar um mistério oculto. — Dinheiro? Um carro? Um apartamento? Deve haver algo que você precisa. — Engoli em seco, e a lembrança de meu irmão no hospital surgiu na minha mente como uma faca afiada.

Ethan tinha apenas dezessete anos e eu era a única família que ele tinha. O ano passado foi um pesadelo, descobrimos que ele tinha câncer no esôfago, estágio 2. Apesar de o plano de saúde da Caldwell Enterprise ser abrangente, ele não cobria o tratamento completo. O peso dessa realidade pesava sobre mim, e a oferta dele começou a parecer menos absurda.

— Só de olhar para você, eu já consigo ver que precisa de algo — o olhar penetrante de meu chefe parecia atravessar a minha alma. — O que precisa, senhorita Moretti?

— Eu preciso de tempo — respondi rápido, o desespero tingindo minha voz, e ele assentiu lentamente, como se estivesse considerando a profundidade do meu pedido.

— Uma semana — ele disse finalmente — e então eu quero saber a sua contraproposta.

A tensão na sala começou a se dissipar, mas uma nova camada de complexidade se formou entre nós. Aquela conversa tinha mudado tudo, e a ideia de atuar como sua namorada, mesmo que temporariamente, começou a parecer um caminho mais complicado do que eu poderia imaginar.

(...)

Mentira PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora