Olho para Cristina e há o início de um sorriso em seus lábios, com um ar um tanto amedrontador.
– Estão mandando ela embora. – Ela murmura para mim.
– Como você sabe?
– Eles estão gritando lá dentro, não está ouvindo? – Diz, incrédula, para mim.
– Não, Cristina. Só ouvi a Ana.
– Ela vai sair agora. – Ela afirma enquanto fecha os olhos, concentrando–se para ouvir melhor.
– Não é possível que esteja ouvindo i–
Então a porta da diretoria é escancarada abruptamente por Ana que sai sem fechá–la, recolhe sua mochila de onde estava e parte com lágrimas no rosto, sem falar uma palavra. Ela parece furiosa.
Os alunos iam começar a comentar, mas a secretária chama o próximo aluno para evitar qualquer questionamento. Nesse momento, Samuel retorna acompanhado por Vitor que parece muito melhor. Sem suor ou tremedeira e há cor em suas bochechas. Sorrio para eles, e eles sorriem de volta. Cristina também parece bem satisfeita. Eles sentam perto de nós dessa vez e em dez minutos, explicamos o que eles haviam perdido. Vitor quase volta a passar mal, mas Samuel dá um cutucão nele e ele segura a onda.
Não reparo nos dois garotos que são chamados em seguida, pois estava escutando os comentários sobre o que aconteceu com Ana. Resolvo olhar cada aluno mais atentamente; todos têm personalidades incrivelmente distintas e peculiares. Sejam tímidos, extrovertidos ou arrogantes, aparentam ser únicos. Eu estou sentada, recostada à parede ao lado da porta, com as pernas dobradas e encostando a cabeça nos joelhos enquanto os observo. Olho para a ponta dos meus pés e por mais que eu queira evitar, vem o pensamento: O que eu estou fazendo aqui?
Se eu não encontrar uma qualidade dentro de mim, provavelmente serei mandada embora da mesma forma que aquela garota fora. Eu não tenho uma personalidade forte da qual as pessoas possam se lembrar ou temer. Ainda estou trabalhando nisso. Pelo visto, não rápido o suficiente.
Alguns alunos que eu não conheço entram e saem durante os próximos minutos: Barbara Pyles, uma garota da minha altura, com cabelos castanhos trançados nas costas quase até a cintura, vai para a turma Azul.
Camilla, a Barbie com os cabelos quase cor de leite que conversava com Ana, vai para a turma Laranja. Enzo olha para ela com certo descontentamento por não ser seu colega de classe, ao contrário de Adam que parece mais que satisfeito por estar na turma dela. A princípio acho que é recíproco, mas, reparando bem na garota, ela observava a todos com o mesmo olhar instigante. Como se estivesse escolhendo um namorado.
– Cristina Estela Arantes, pode entrar.
Cristina encara–me por alguns segundos, aceno para ela e desejo boa sorte. Ela se levanta e caminha lentamente até o balcão. Vira-se para nós e os meninos fazem sinal de positivo. Ela bate na porta e entra em seguida.
– Querem fazer uma aposta? – Samuel pergunta baixinho para Vitor e para mim.
– Sobre o que? – Pergunta Vitor de volta.
– Eu aposto que ela vai para a turma Azul – Diz Samuel sorridente. – E vocês?
– Na verdade, é só analisar os alunos anteriores. Até agora a maior turma é a turquesa, não prestei atenção em alguns alunos, sabem qual das outras duas está atrás? – Pergunto pensativa. Samuel olha ao redor tentando se lembrar, mas Vitor está com a resposta na ponta da língua.
– Estão empatadas, tenho certeza.
– Certo, vamos ver...
Começo a repassar aluno por aluno e os que foram parar na turma Turquesa são propensos a serem carismáticos e dóceis. Os alunos da turma Azul parecem ser mais tímidos, racionais e eu diria até mais inteligentes. Meu palpite nesse momento é que Vitor irá para a turma azul também, mas, posso estar errada, ainda é muito cedo para definir.
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Os protetores (livro um)
Teen FictionPara Déa, uma garota de quinze anos que vive à sombra de sua mãe, tomar qualquer tipo de decisão não faz parte de sua rotina. Até o dia em que ela decide mudar a própria vida. Ela só não esperava o seguinte: Num mundo relativamente normal, uma porc...