Capítulo 4

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4.

Estou em um andar que eu não conheço.

A madeira do piso é escura, ou a falta de claridade a escurece. Um longo corredor, cujo fim não é visível. As paredes de ambos os lados são de um tom intenso de laranja, um papel de parede vitoriano envelhecido. No teto, lustres antigos de cristal iluminam pares de portas – uma de cada lado do corredor, a intervalos de alguns metros.

Atrás de mim há uma porta de madeira grande e esculpida com arabescos que se contorcem formando arranjos florais complexos. A maçaneta parece de bronze não cede à minha tentativa de girá-la, está trancada.

Vendo que a única saída será por uma das portas à minha frente, começo a caminhar. Porém, à medida em que alcanço uma das portas, ouço o som de chaves girando do outro lado delas, alguém as está trancando antes que eu possa abri-las.

Escuto passos apressados atrás da primeira porta de que me aproximo. Olho para baixo e vejo sombras de pés sendo projetadas deste lado. Então um pedaço de papel dobrado é passado para cá. Quando em minhas mãos, percebo que é azul. O mesmo azul da turma da escola. Abro o pequeno bilhete e leio sob a turva luz do lustre, letras trabalhadas que dizem:

Aqui não é o seu lugar. Afaste-se, por gentileza.

Sigo para o próximo par de portas e apoio–me contra a da direita. Dessa vez, não há som algum, mas posso ver as mesmas sombras de passos pela fresta de luz lá embaixo. Então surge um segundo bilhete, dessa vez turquesa. Desdobro o papel e letras simples dizem:

Desculpe, mas você não pode ficar aqui. Sentimos muito.

Dou de ombros e vou para o próximo par de portas que, pela lógica, será da turma laranja. Insira cara falsa de comemoração aqui.

Tento a porta da esquerda, mas não há som algum, nem as sombras debaixo da porta. Vou para a porta da direita e antes mesmo de encostar a cabeça, olho para baixo. Sombras e passos apressados e posso ouvir daqui mesmo os risos abafados e vozes conversando animadamente. Bato na porta – por que não fiz isso nas outras? – E os sons cessam instantaneamente. Então, passos de salto alto aproximam–se da porta e outros riem atrás.

A pessoa perto da porta fala.

– Estamos lotados. – É uma voz feminina que eu não conheço. Suave e um tanto de sexy. Como um gato ronronando.

– Não seja grossa, Camilla! – Uma voz masculina responde rindo.

Ótimo. Mas, quem é o dono da voz masculina? Não parece a voz do pequeno e arrogante Adam.

– Deixe que eu resolva isso... – Aplaca a voz enquanto aproxima-se da porta. Ouço os saltos da Camilla caminhando para longe da porta, resmungando algo ininteligível, mas, ainda sexy.

A tranca faz um barulho e a maçaneta gira lentamente. A luz me faz recuar instantaneamente, antes de meus olhos se ajustarem à claridade. Por causa disso, eu só vejo a sombra de um garoto com um pouco mais de um metro e setenta de altura, eu acho.

– Sim? – Pergunta o garoto num tom alegre, apesar do olhar duvidoso.

– Oi? – Uau, dez pontos para a Grifinória por eloquência. – Ah, estou sonhando...?

– Sim, está. O problema é que você é uma penetra... – Explica o garoto, parecendo cansado da minha presença.

– O que isso quer dizer? – Meu tom irritado cada vez mais acentuado. Ele apenas expira, o que me deixa ainda mais irritada. – Olha, eu só estou procurando a saída, ok?

Os protetores (livro um)Onde histórias criam vida. Descubra agora