Sou uma pessoa de bagagem.
Quando vou, não vou sozinha; levo comigo tanta tralha interior (e exterior, é certo) que não admira que me custe fechar a boca por um segundo que seja. Mas quando falo, repara, falo do que há em volta ou na superfície de mim, nunca do que levo cá dentro. Não foi a vida que me deu bagagem para os ombros, na verdade, foi sempre tão amável comigo que até parece injusto: fez-me emocionalmente leve e tornei-me pesada, apanhando coisas pelo caminho. Que coisas?, perguntas tu; que coisas guardo eu que pareço tão lisa a quem olha? Olha, coisas, coisas dos outros - amores que perderam, dores que fizeram por esquecer, sentimentos esquisitos que já ninguém quer, vergonhas, tristezas, também alegrias, mas angústias, medos, loucuras. E sobretudo, problemas. Apanho problemas como quem apanha cogumelos. E trago-os na mala, embrulhados em cobertores, cuido deles e faço-os meus porque, no fundo, gosto de pensar que sou complicada, que sou das malas de viagem e não daspochetes, que "tenho mundo" em mim. Todos os meus problemas, angústias e medos, todas as minhas alegrias e vitórias só existem porque os apanhei e guardei. Se os tivesse deixado quietos no chão, não seriam meus. A vida fez-me vazia e eu enchi-me com coisas que apanhei na rua. Agora sou da bagagem, como sempre quis.Lory.
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Quando 'te vês' é tudo.
AléatoireIsto não é uma história. Isto não é um romance. Isto não é ficção. Isto sou eu, como me vejo. E quando me vejo, é tudo. *Título retirado de um poema de Álvaro Lapa.