Sol da Tarde

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Passei a mão no afinador e puxei a de volta. A terceira corda estava novamente desafinada. Queria entender o porque de tanta rebeldia. Ela que é sempre a primeira nota que dedilho e o primeiro acorde que toco, mesmo antes de saber o que tocar. Ela é a corda sol, ele o violão, que não tinha culpa de nada e ainda assim insistia em brilhar apesar das marcas de dedos por todos os lados e das teias de aranha em seu interior. E esse sou eu, agora sentado no sofá com uma xícara de café ao lado. O café era só pra sentir o cheiro quente, havia um total descuido da minha parte com tudo, menos com ela. Se no violão havia teias de aranha então havia vida. Se no café havia calor então eu ainda podia bebê-lo. Em silêncio no quarto eu aguardava ela entrar pela janela. Com as cortinas entreabertas e o vento a balança-las, lá fora nublado e aqui dentro tudo cinza, eu enchi o pulmão de ar e me preparei. Enquanto acariciava aquelas cordas soltei a voz com todo ar que guardei "Sol ilumina aqui, e ali, vem e vê que estou em paz, com ou sem você, sol da tarde". 

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