Capítulo 2 - A surpresa.

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— Mãe, é terrível — disse Nilce. — Como você e o papai dei­xaram chegar a esse ponto?

Nilce já sabia a resposta. Seu pai sempre fora atraído pelos esquemas de ganhe dinheiro fácil. Não era um jogador, nem gastava dinheiro em cassinos ou corridas de cavalo, mas era facil­mente convencido pelo tipo de investimento ou negócio que pare­cia bom demais para ser real. E de fato não era.

Enquanto crescia, Nilce não percebera como ele era mau nego­ciante. Nunca lhe faltara nada. Como filha única, fora mima­da.

Só quando adulta, percebeu que seus pais viviam basicamente de crédito.

Por muito tempo, ela ajudara sua mãe no orçamento da casa — deslizando para as mãos dela mil reais ou mais, sempre que se encontravam. Mas agora, parecia que as coisas tinham chegado ao limite. Seu pai não podia continuar nessa vida de aventura — uma franquia de padaria na qual ele pusera dinheiro em­prestado, de sua já afundada hipoteca.

Seu pai era razoavelmente forte, aos 63 anos. No mês passado, caíra, quebrando o tornozelo. Lógico que não tinha qualquer seguro. Qual empresa de seguros o aceitaria?

O banco ameaçava retomar a casa se não pagassem a hipoteca, atrasada há meses. Nilce podia fazer os pagamentos por uns dois meses, só que havia muitos milhares de reais atrasados.

Significando que, logo, eles não teriam dinheiro ou qualquer lugar para morar.

Nilce temia ao pensamento que eles poderiam ficar sem moradia e que talvez, fossem morar naquele aperto junto a ela. Aos 30 anos, fazia tempo que gostava de viver sozinha.

Além daquilo, tinha o seu negócio em sua própria casa, de dois quartos e com varanda, usando um deles como escritório e a sala de estar do térreo como área de recepção e entrevistas. As coisas ficariam muito difíceis com mais dois adultos no lugar. Pobres.

— Não se preocupe, querida — falou sua mãe — vou conseguir um trabalho.

Nilce revirou os olhos. Sua mãe, como seu pai, era uma so­nhadora. Não tivera um emprego normal por mais de vinte anos, ocupada cuidando da casa e do marido, com todos os seus esque­mas malucos. Além disso, tinha mais idade que seu pai.

Ninguém daria emprego a uma mulher com a sua idade e sem qualificações.

— Não,mãe — falou Nilce. — Não é tão fácil conseguir trabalho em sua idade.

— Farei faxina. Seu pai imprimiu alguns anúncios naquele ve­lho computador e impressora que você deu a ele e eu os coloquei em cada caixa de correio da vizinhança.

Nilce queria chorar. Não era certo sua mãe virar faxineira na idade dela.

—Mãe, eu poderia conseguir uma segunda hipoteca nesta casa. O valor aumentou um pouco, desde que a comprei.

— Você não fará isso — disse a mãe, firmemente. — Ficare­mos bem. Não quero que se preocupe.

O som da campainha trouxe Nilce de volta.

— Mãe, posso ligar mais tarde? Tenho um cliente na porta. — O seu primeiro, em 15 dias. Os negócios na Tinder Encontros tinham caído um pouco no último mês. Também não tinha quaisquer no­vas clientes. Talvez fosse hora de fazer outra série de anúncios em revistas. Poucos negócios sobreviviam apenas do boca a boca.

— Vai, querida. Ligue mais tarde.

— Ligarei, prometo. Nilce desligou rapidamente, abotoando o paletó do conjunto, enquanto levantava e ia para a porta.

Um rápido olhar no espelho do corredor, enquanto passava, ga­rantiu que parecia profissional. Os olhos esverdeados devidamente marcados, seus cabelos loiros quase em um tom ruivo estavam presos, num coque francês. A maquiagem era mínima e suas joias discretas. Apenas um colar ponto de luz e os sim­ples brincos pequenos, ambos de ouro.

Contrato de Casamento - Leon e Nilce.Onde histórias criam vida. Descubra agora