23 de dezembro
Anahí olhava pela janela, vendo os flocos de neve pesados que caíam do céu cinzento. A meteorologia previa chuva para o dia seguinte, o que arruinaria um Natal perfeito e bem branquinho.
Não podia se lembrar daquele Natal, do que seus filhos tinham pedido para o Papai Noel, nem de como estava o clima. Sua única recordação daquela data especial era aquela bendita papelada do divórcio. Também recordava-se de que se embebedara sozinha num quarto de hotel até que Paulina, sua melhor amiga, apareceu para ajudá-la com sua dor e seu sofrimento.
Agora, faria tudo o que fosse possível para se certificar de que nenhum problema acontecesse no dia seguinte. Determinara-se a fazer daquele Natal o dia mais perfeito de sua vida. Assim, quando se lembrasse do evento no futuro, um sorriso de pura felicidade iria iluminar suas feições.
Recordaria os rostinhos de seus filhos quando descessem a escada na manhã de 25 de dezembro e vissem todos aqueles presentes. As expressões animadas cada vez que abrissem um pacote. Os pijamas especiais que estariam usando, os presentes favoritos deles, os cabelos desalinhados depois de uma noite de sono ansioso, à espera do Papai Noel.
Lembrar-se-ia de tudo aquilo com doçura, mesmo que acabasse mal, mesmo se acordasse no inferno ou no céu.
"Deus, eu lhe suplico que me permita lembrar desses dias", rezou em silêncio.
Na véspera, fora a apresentação de Natal de Zack, na escola. Anahí não poderia afirmar se comparecera naquela festa, anos atrás. Dessa vez, contudo, entrara no auditório e ouvira as canções natalinas de peito aberto, seu garotinho fazendo um canto solo de um dos trechos da música, e Anahí se emocionou muito.
E um temor crescente se apossava dela, pela sensação cada vez mais crescente de que tudo aquilo iria se acabar. Pessoas não voltavam no tempo, não mudavam o passado, afinal de contas.
A sensação de irrealidade aumentava a cada minuto que a véspera de Natal se aproximava. Anahí se pegou rezando e rezando, implorando a alguém que não muito tempo atrás teria jurado que não existia.
Perguntou-se se ele estava lá em cima, dando uma bela risada ou chorando por tudo o que poderia ter sido. Todavia, independente de tudo o mais, Anahí esperava que Deus estivesse com humor suficiente para presenteá-la mesmo com uma nova chance.
Era sábado de manhã, e as crianças ainda estavam de pijama assistindo a desenhos animados na tv. Alfonso fora para o porão, tentar montar o cavalinho de corda de Mary.
Anahí tinha certeza absoluta de que Mary não ganhara um cavalinho de corda de presente naquele Natal, contudo, agora iria ganhar. A garotinha, quando crescesse, iria se recordar de ter sido dona um cavalinho de corda, algo que ela iria adorar, algo que sua mãe não soubera da primeira vez que ela ganhara.
Anahí inclinou a cabeça no patamar da escada e ouviu Alfonso praguejando. Descendo os degraus pé ante pé, ela o espiou, deitado no chão ao lado do brinquedo e puxando o cavalo com toda a força, tentando encaixar a mola no pequeno buraco e, toda vez, a mola escapava e saía pulando pelo solo.
- Mas que coisa! - reclamou ele sozinho, largando o conjunto todo e bufando, zangado.
- Precisa de uma mãozinha?
Ele se virou, surpreso e assustado com a aparição repentina.
- Sim. Lógico que sim. Acho que preciso da ajuda de algum técnico especializado da NASA! Minha Nossa, como esses fabricantes esperam que alguém consiga montar uma coisa dessas sozinho? E se um pai que não tem uma esposa em casa quer comprar um brinquedo desses? - Esboçou um sorriso. - Eles deveriam vender o brinquedo pronto, e não para que nós mesmos o montássemos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lição de Vida - AyA
FanfictionUma chance para viver em seus braços... Anahí Herrera que sempre teve a vida tumultuada e cercada por desencontros pensa que a vida apenas passou por ela. Presa em uma cama de hospital, recuperando-se de um ataque cardíaco, uma senhora no leito ao l...