Capítulo 18 - Último

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Dia de Natal

Anahí acordou com o som insistente de um bipe. A princípio, achou que fosse um alarme e se perguntou por que Alfonso ajus­tara o radiorrelógio para despertá-los numa manhã de Natal. O que não fazia sentido, uma vez que, com toda a certeza, as crianças os acordariam em breve com muito barulho e algazarra.

Todavia, por alguma razão, ele pusera o relógio para despertar, e agora não desligava o barulho irritante e... Aquilo era muito estranho...

De súbito, o corpo todo de Anahí ficou paralisado, exceto pela dor que pulsava em seu coração. Não podia se mover, nem abrir os olhos. Faltava-lhe coragem para isso.

- Não... - sussurrou, agarrando forte a coberta que não se parecia nem um pouco com seu edredom antigo e confortável.

De olhos ainda fechados, desejou que tudo aquilo fosse um sonho ruim, um terrível pesadelo, e rezou para que parasse, que fosse embora e a deixasse acordar em seu lar. Desejou que Alfonso estivesse dormindo a seu lado na grande cama do casal. Desejou que seus filhos estivessem acordando excitados e indo chamá-los no quarto, porque era manhã de Natal, e Papai Noel viera durante à noite.

"Por favor, Deus, por favor!", implorou em seu íntimo. "Isso não pode ter sido um sonho. Diga-me que não foi. Diga-me que não sonhei que retornei ao passado e Alfonso desistiu de me pedir o divórcio, jogando a papelada na lareira!"

- Está tudo bem com você, Anahí?

Grace... Aquela era a voz da senhora idosa que encontrara no hospital. Anahí a reconheceu de imediato, porque a mulher parecia bem calma e tão doce... como quando no momento em que lhe apertou os dedos antes que tudo escurecesse a seu redor e ela voltasse ao passado.

- Quer eu chame a enfermeira para você?

"Senhor, até a frase é a mesma!", pensou ela, desesperada. "Es­tou em um hospital, de novo. Ou então, nunca saí daqui."

Anahí apenas conseguiu menear a cabeça. Não podia falar, es­tava ainda estática por causa do medo. Ainda sentia-se apavorada demais.

"Vou abrir os olhos agora e ver meu quarto em casa", murmurou para si mesma, tentando convencer-se, embora, no fundo, soubesse que não era verdade. "Aí, virarei a cabeça e verei o rosto de Alfonso a meu lado."

Anahí respirou fundo algumas vezes, aterrorizada, envolvida por uma angústia tão profunda que se perguntou se aquilo seria capaz de matá-la.

- Grace?

"Não responda. Seja Alfonso, todo confuso sobre por que o estou chamando de Grace", orou com fervor.

- Sim?

Anahí ergueu as pálpebras e viu aparelhos médicos e o frasco de soro atado a seu braço por uma borracha. Baixando o rosto, fitou o cobertor branco hospitalar, e em seguida, as próprias mãos.

Suas mãos, que estavam envelhecidas e enrugadas. Mãos de uma mulher com mais ou menos cinqüenta anos de idade que não soube se cuidar bem.

- Não... - murmurou e, logo em seguida, emitiu um grito descontrolado: - Não pode ser! Isso não é justo!

Ergueu aquelas mãos enrugadas e enterrou o rosto nelas.

- Tudo aquilo não era um sonho, meu Deus. Não era!

- Claro que não era. - Grace continuava falando no mesmo tom tranqüilo que Anahí costumava usar com Mary quando sua menininha tinha um pesadelo e acordava chorando.

Lição de Vida - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora