Capítulo 2

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Já sabia o que aí vinha … Holmes Chapel foi a minha casa desde que nasci praticamente, nunca conheci tão bem uma cidade como esta. Será impossível, eu deixar a minha “terra natal”!

“Carrie, nem penses evitar este assunto muito mais tempo!” repreendeu-me a minha mãe depois de se levantar e colocar as mãos sob o tampo da mesa.

O choque passava pelos meus olhos e não me conseguia mexer, muito menos sentar-me perto deles.

“Senta-te agora, Carrie Kydd!” ordenou ela com uma voz rude e cansada.

Obedeço e sento-me o mais longe possível, isto é, do outro lado da mesa.

“Eu passei a noite toda acordada, a pensar num futuro melhor para vocês e para mim, depois daquilo que nós sabemos. E só consegui arranjar uma solução. Escolhi esta porque não aguento olhar para um sítio e lembrar-me do vosso pai. É esgotante e não consigo viver assim. Ele foi e sempre será o maior amor que tive na vida. É por isso que não consigo estar aqui…” acabou o seu discurso, provavelmente treinado durante a noite.

Reparo que o lábio inferior do Derek está tremer e faltará pouco para começar a chorar. Levanto-me e encaminho-me para junto dele e aperto a sua pequena e delicada mão, ele dá um sorriso fraco. Não consigo ver uma criança pequena, assim, neste estado, simplesmente parte-me o coração. É a peste do meu irmão, mas só Deus sabe o amor e carinho que tenho por ele.

Embora a minha mãe ainda não tenha falado no assunto desta conversa já o sei, não é justo para a minha mãe, mas sair desta pequena vila para ir para uma cidade qualquer é um pesadelo. Todos os pontos de simplicidade presentes nesta cidade faz aumentar o amor que sinto por ela, sei que parece estúpido amar uma cidade, mas… não há palavras!

“Por amor de Deus, Mãe, vai direta ao assunto, por favor” apresso-me sentindo um aperto de Derek em sinal de agradecimento.

“Para onde iremos? Quando? Como?” interroga o meu irmão.

“Não há pressa, bem há, podemos é ir com calma. A viajem está prevista para o próximo mês. Eu tenho um pequeno apartamento em Bradford…” responde a minha mãe de algumas perguntas do Derek.

“Bradford? Estás bem?” estalo.

Ela assente e olha para baixo, reparo que ela está nervosa, pois está a “brincar” com as unhas.

“Derek está a ficar muito tarde, vai subindo. Eu já vou dar-te um beijinho. Vou continuar a falar com a tua irmã” a minha mãe manda.

De cabeça baixa, desanimado, ele faz o que a mãe manda e quando desaparece da nossa vista, eu decido quebrar o silêncio.

“Mas, tu pensas? Isto não é justo para o Derek, já nem digo para mim! O Derek tem aqui tudo o que sempre sonhou e tu vais estragar isso.” cuspo.

“Já está tudo marcado, não irei voltar atrás com a minha palavra. Mentaliza-te e aproveita o tempo que ainda te resta com o Harry”

E ela tocou-me no meu ponto fraco. Só de imaginar que não irei mais ver aqueles olhos verdes, que nunca mais irei ouvir a sua maravilhosa gargalhada rouca, o seu jeito de afastar o cabelo dos seus olhos. Saber que nunca mais irei ver o rapaz que amo. Isso destrói os bocados que ainda tinha dentro de mim. Não irei chorar em frente da minha mãe, mas não resisto e pequenas lágrimas já se formam.

Começo a assentir negativamente com a cabeça e corro para o meu quarto.

Abro a porta do meu quarto e quando a fecho, desliza-o por ela abaixo até chegar ao chão. Bradford? O que é que irei fazer à minha vida, porra? Sem amigos, sem o Harry…

(…)

Acordo às 7:00h da manhã. Quero ir à padaria onde o Harry trabalha, todas as manhãs, preciso mesmo de falar com ele pessoalmente.

Estava a chover a cântaros e decido apanhar o autocarro para não me constipar, apesar de ter uma camisola polar.

Chego à “Famou’s”, onde passei quase todo o meu tempo livre a ver o Harry trabalhar. A apreciar a maneira com ele trata os clientes, com um sorriso incomparável. Respiro fundo e entro com o pé direito na padaria.

“Carrie” ouço a familiar voz rouca chamar atras de mim.

“Que fazes aqui tão cedo?” ele pergunta.

“Eu sei, eu sei, só que precisamos de falar” esclareço-lhe.

“Claro, vamos…Para ali, anda!” indicou-me uma mesa no fundo.

Enquanto ando sinto o olhar do Harry cravado em mim, mas finjo não reparar.

“Podes falar” o Harry sorri.

“Eu nem sei por onde começar…” brinco com as minhas unhas.

“Que tal pelo inicio?” ele interrompe-me e entrelaça as nossas pernas para me acalmar.

“Ahm… Harry, é que isto não é fácil de falar, e ainda por cima contigo” noto as sobrancelhas dele levantarem-se “Ontem, tivemos uma reunião de família e… Eu ficaria aqui a minha vida inteira só por te ter ao meu lado, mas nós, eu e a minha família, vamos partir no mês que vem. É por isso que estou aqui para aproveitarmos todos os minutos que nos restam. Iremos sempre tentar estar juntos, nos fins-de-semana, TUDO, prometo! Desculpa, eu não…”

Paro de falar, porque não aguento ver o seu rosto em choque. O Harry já não olhava para mim, e os seus olhos verdes, estavam agora cinzentos.

“Diz alguma coisa” imploro e luto contra as minhas lágrimas.

“Não será a merda da distância que nos irá separar” responde no seu tom mais sincero e desta vez olhando-me nos olhos. Cor verde com cor azul.

O Harry levanta-se e dá-me um abraço apertado. Sinto-me um aperto no coração e até já sinto saudades dele, a sua respiração está acelerado e quente, o que é reconfortante.

“Seja para onde vás, não me troques!” ele ronrona no meu ouvido.

“Nunca, ninguém ocupará o teu lugar” respondo e trinco o lombo da sua orelha.

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CatarinaQueirós

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