Capítulo 03
De perto ela parecia assustadoramente enorme, dava até um frio na barriga só de pensar em andar ali.
- Eu sou a pessoa mais sortuda do mundo! – Dei uma pirueta depois de encarar a fila que nem estava tão grande, não devia ser uma época de turismo, e ainda mais por ser de manhã... Não sei, não entendo dessas coisas. Só sei que não ia demorar.
- Você consegue ser menos exagerada Alexia? – Neal ria enquanto falava.
- Impossível. – Cutuquei o meio do seu peito. – Vamos!
Alguns minutos depois estávamos embarcando na roda gigante. Tinha muito espaço e algumas pessoas conosco. Observei os nossos colegas de cabine, tinha um que era meio idoso e estava olhando feio para minhas meias. Acho que a menina do outro lado discordava dele.
- Vem pra cá. – Neal me chamou, nem tinha percebido quando ele se afastou de mim e foi pra mais perto do vidro. Fui até ele.
Olhei através da superfície transparente, era tudo tão lindo. A cidade era linda e vista dali ficava um milhão de vezes melhor. Só que toda aquela transparência começou a me incomodar, parecia que a qualquer momento o vidro racharia e eu cairia para a morte. À medida que subíamos eu percebia o incômodo aumentar.
- Alexia? – Neal me encarou estranho.
- Oi? – Respondi um pouco ofegante.
- Tá tudo bem?
- Lógico... – Tentei fingir, mas subíamos mais e mais. E o incômodo estava se transformando em pânico. – Na verdade eu não estou bem não.
- Tá com medo de altura? Sério? – Ele gargalhou.
- Você tá rindo de quê? Vamos todos morrer quando esse negócio despencar, idiota! – Eu acho que estava um pouco alterada, mas eu precisava que ele acreditasse em mim. Eu queria sair dali.
- Se você tinha medo de altura, porque queria tanto vir? – Ele ainda não tinha parado de rir.
- Cala a boca e me tira daqui! Para essa coisa! – Sim, eu estava gritando. Sim, eu estava armando um barraco dentro da London Eye. Todo mundo da cabine estava olhando pra mim. Agarrei os braços do Neal e falei um pouco mais baixo. – Eu não quero morrer, manda pararem isso logo. – Agora o riso dele era silencioso e eu não percebia mais deboche nele.
- Calma. – Ele soltou as minhas mãos do braço dele e eu percebi que tinha apertado um pouco forte de mais. – Não podemos parar, é a London Eye, eu não posso simplesmente mandar parar ‘essa coisa’. – Me imitou há poucos minutos, eu estava ofegante e tentando me concentrar nele e não no risco iminente de morte. – Respira fundo, quer sentar? – Agora ele se controlava para não cair no riso novamente.
- Quero sim. – Respondi, sentei do lado dele no chão enquanto olhava para os meus próprios pés. Se é que pode se chamar de chão algo que está suspenso no ar. Passei alguns minutos assim, enquanto só sentia que subíamos mais e me controlava para não surtar.
- Você tem certeza que não quer tentar olhar. É tão lindo. – Neal perguntou, sem sarcasmo nem nada. Percebi que ele estava mesmo admirado. – Você pode segurar minha mão se preferir. – Ele estendeu a mão, ali sim tinha sarcasmo.
Revirei os olhos e me atrevi a levantar o olhar, mas não para o vidro. Encarei o Neal.
- Olha só, já é um progresso. – Ele riu. Eu nunca tinha visto o Neal como nada mais além do meu instrutor de intercâmbio, mas naquele momento algo pareceu mudar. – Vamos lá, você está perdendo a parte boa. – Insistiu. Eu estava menos em pânico agora e o fato de ele estar comigo ajudava.
Olhei para o lado devagar, demorei para conseguir desviar a atenção da altura e focar na vista. Nem percebi que realmente estava segurando a mão dele, acho que apertando mais do que devia. Se doeu ele não reclamou.
- Talvez agora o risco de morte seja um pouco menor, ou pelo menos eu morro feliz. – Neal revirou os olhos e riu. Eu ainda queria descer, mas pelo menos podia aproveitar o lado bom.
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Uma manhã em Londres
RomansaPerdida em Londres no seu último dia de intercâmbio Alexia Vasconcelos acaba precisando, mais uma vez, da ajuda do seu instrutor Neal. Um paulista, assim como ela, que tem um ótimo senso de humor. Assim que Neal encontra Alexia eles decidem aproveit...