Blood Brothers

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- Pelo amor de Deus, Sherlock, onde você estava? Você tem que ao menos me avisar para onde está indo. - Watson reclamou, como de costume, em vão.

O detetive ignorou-o por completo. Seu complexo cérebro estava pensando tão rápido que ele não conseguia ouvir nenhum som emitido externamente. John revirou os olhos e logo depois deu de ombros. Ele sabia como o seu colega de quarto era recluso. Se não quisesse lhe contar algo, simplesmente não contaria.

Sherlock pegou o computador e esperou que Watson se retirasse do cômodo para enfim procurar a pasta na qual as gravações feitas na rua eram transferidas automaticamente. Entretanto, para a sua surpresa, a pasta estava completamente vazia. Mais uma vez o detetive pensou na possibilidade de seu companheiro de quarto estar apunhalando-o pelas costas. Sabendo que de fato isso seria possível, resolveu não contar nada à John ainda. Até o momento em que as suspeitas fossem desconsideradas, Holmes permaneceria com o silêncio e os segredos.

"O que fazer agora?" - Sherlock perguntou a si mesmo. Ele só possuía uma certeza, de fato; como dizia Fox Mulder no seriado americano The X Files: "Não confie em ninguém". Qualquer um, próximo ou não, suspeito ou não, poderia ser o culpado. Se tem uma coisa que o detetive aprendeu, é a não subestimar ninguém. É claro que ele já havia o feito pensando que John era inocente e burro demais para o trabalho sujo, mas ele não poderia esquecer de que o mesmo já o ajudou a solucionar milhares de casos e a sua ajuda, na maioria deles, foi essencial. Mas, por outro lado, era isso que deixava Holmes intrigado. Por quê John o trairia?

Enquanto ele ponderava sobre a possibilidade de ter sido traído por alguém próximo, seu celular apitou indicando uma nova mensagem. 

- Olá, irmãozinho. Compareça em meu escritório amanhã às 8h. 

Mycroft é o irmão mais velho de Sherlock. Ambos compartilham um aguçado senso de observação e de dedução, e graças a isso, criou-se uma certa rivalidade entre os irmãos Holmes. Desde pequenos, competiam por causa de tudo e todos, entretanto seguiram caminhos diferentes. O irmão mais novo tornou-se, como ele mesmo gosta de se chamar, o primeiro e único detetive consultor, que na maioria das vezes auxilia a Polícia Metropolitana de Londres em casos avulsos, desde que sejam enigmaticos de um jeito que os deixem desnorteados. O outro irmão passou a se envolver com política, ocupando uma importante posição no governo. Porém, também faz participações na CIA e no Serviço Secreto Britânico. Os dois exerciam cargos importantes e, em suas profissões, davam o máximo de si.

No dia seguinte, às oito em ponto, Sherlock se encontrava em pé à porta principal do Palácio de Buckingham, local de trabalho de Mycroft. Lá trabalhavam pessoas importantes do Legislativo, e o acesso era limitado somente à elas. O detetive era a exceção, devido aos diversos trabalhos que havia feito para ajudar Mycroft em sua posição política. Holmes sabia demais, portanto, recebia certos benefícios do governo para que mantesse sua boca calada. Poder adentrar naquele Palácio sempre que precisasse era um desses benefícios. Portanto, com o seu cartão de acesso, passou pela roleta que o levava para o salão principal. Diversas pessoas trabalhavam lá, tão concentradas que nem perceberam a presença do detetive. Com os olhos fixos nos seus respectivos computadores, mexiam com gráficos, tabelas e mapas, editavam vídeos e manipulavam propagandas eleitorais. Sherlock deu de ombros e seguiu o seu caminho, chegando em um corredor com diversas portas numeradas. O escritório de seu irmão era o de número vinte e um. Chegando lá, bateu na porta e ela logo se abriu. Estava encostada, o que fez o detetive ficar intrigado. Tomou partido e tratou de abrí-la logo, dando de cara com um escritório completamente vazio, sem sinal de Mycroft.

O lugar era obviamente muito confortável e elegante, havendo em sua composição uma estante cheia de livros com uma cor padrão, um sofá virado de frente para uma televisão enorme embutida na parede, uma mesa com o nome de seu irmão mais velho, um computador, um telefone fixo, uma cadeira extravagantemente espaçosa e um armário com a porta de vidro fazendo com que pudesse ser impossível enxergar diversos tipos de bebidas alcoólicas. Quadros na parede retratavam paisagens e pontos característicos da cidade, como o London Eye. Havia ainda uma porta localizada à esquerda da mesa de Mycroft, porém Sherlock sabia que ela levava ao banheiro. Ele bateu naquela porta e ninguém respondeu. Abriu-a e confirmou que não havia ninguém.

- Olá, irmãozinho. - disse uma voz atrás do detetive. - O que está fazendo aqui?

- Oh, Mycroft, poupe-me dos cumprimentos. O que você quer?

- O que você quer dizer com isso? Não fui eu que invadi o seu escritório. - ele disse, enquanto sentava-se na cadeira frente à mesa.

- Tenho outros assuntos para lidar. Apenas me diga logo.

- Acho que houve um mal entendido. Não lhe chamei aqui, você veio por contra própria. Então apenas me esclareça as coisas.

- Eu recebi uma mensagem de seu celular pedindo pra me encontrar aqui às oito da manhã. - o detetive disse, claramente confuso.

Mycroft ficou de costas para o seu irmão mais novo, virando-se em direção ao armário de bebidas alcoólicas, concentrando-se para escolher um drink perfeito para a ocasião. Sherlock sentiu alguém segurando-o por trás, colocando algo contra o seu rosto. Holmes sabia o que aquilo era: uma variação de gás éter. Sua visão ficou turva e o corpo completamente mole, deixando-lhe sem opções. Revidar era, naquele ponto, impossível. Aos poucos, o detetive foi ficando inconsciente.

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