wreck this journal ;; lrh

cap13

eu estava um pouco que nervoso quando o meu corpo se encostou à porta da morada escrita no papel e os meus pés assentaram em cima do tapete que dizia "welcome". estalei os dedos antes que os mesmos chegassem à campainha e tocassem.

"estou a ir" a sua doce voz aproximava-se cada vez mais da porta. "quem é?" algum silêncio acabou por se instalar e calculei que estivesse a espreitar pelo buraco na porta.

quando a mesma se abriu, Venus estava com umas calças listradas de pijama vestidas e com uma sweatshirt preta cerca de dois ou três tamanhos acima do seu tamanho original e calçava apenas uma única meia. o seu cabelo estava apanhado num totó mal feito e os olhos tipicamente borrados e os lábios sempre rosados. 

ela sorriu-me.

eu sorri-lhe de volta.

"posso hm, entrar?" perguntei e a mesma apenas acenou com a cabeça e se afastou para que eu entrasse. "como estás?" perguntei enquanto nos encaminhavamos para a sala, onde nos sentamos num sofá existente na mesma.

"bem"

sorri lembrando-me que sempre fora teimosa.

"não queres saber como estou?"

ela rolou os olhos. algo que também costumava fazer e bufou. eu sentia como se a criança dentro de si nunca a tivesse abandonado. nem mesmo agora, que se encontrava ligeiramente mais velha.

"acha que pode aparecer agora, não sei quantos anos depois de me ter deixado sozinha na merda de um hospital e agir como se nada tivesse acontecido?" ela foi breve e calma. direta demais também, algo que me afetou ligeiramente.

engoli a seco antes de responder. 

"e-eu jamais te abandonaria Venus, para de agir como se ainda fosses uma criança e não soubesses disso"

ela batocava com os dedos no braço do sofá e olhava fixamente para mim, como se estivesse completamente nervosa. 

"pare você de agir como se eu ainda fosse uma criança e não soubesse que só me queria por mero prazer" soltou um riso irónico que apertou o meu coração.

"Venus, tu consegues mesmo enganar-te a ti mesma dessa maneira?"

os nossos olhares cruzaram-se e ela desviou o seu rapidamente, como se o que eu tivesse dito a tivesse feito pensar devidamente. e, agora, outra rapariga estava à minha frente. a confiança que antes tivera tinha sido completamente perdida, e os seus olhos rapidamente escureceram e se molharam, mesmo que não chorasse. 

a sua cabeça estava baixa, o que mal me permitia que a visse, mas eu tinha o dom de ve-la. eu sempre tivera. 

aproximei-me do seu corpo magro e surpreendi-me quando não recusou. agarrei-a com alguma força e ela apertou os meus braços com demasiada, como se pedisse para que eu não a largasse. envolvi o seu corpo completamente no meu e deitei-nos no sofá. tapei ambos com um cobertor que estava no chão e deixei que ficassemos ali, em silêncio. 

fechei os meus olhos, mesmo parecendo que eles já estavam antes. como se tudo isto fosse um sonho onde eu estivesse preso há anos. como se isto fosse um sonho de onde eu, definitivamente, não quisesse acordar.

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venus