Prólogo

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" Meu diafragma e eu sofremos para recuperar o fôlego, deitada em meio ao capim cortante daquela mata densa. Não sabia ao certo se os soldados logo à frente eram amigos ou inimigos, preferi não arriscar.
Em meio à todo aquele cansaço e alvoroço, imaginei meu próximo corte de cabelo que já passavam da cintura; vou corta-lo no ombro, mesmo sendo ridicularizado pelos homens. Que irônico; nem sabia se sairia de lá viva.
A guerra acabou com tudo que eu tinha de mais precioso na minha vida, e ainda nem estou contando com o que posso perder. O que me resta, graças aos céus; é minha esperança. É pouco, mas tenho e eu realmente considero como tudo para mim e não pretendo desfazer dela.

(...)

Já era noite, dormi sem querer. O tempo estava tão bom.
Do outro lado daquela estrada de chão e ao lado da cerca, reparei um soldado de guarda me observando. Não sabia ao certo se era da base inimiga, ou se não, mas precisava achar algum mantimento para levar até minha família. Me arrisquei: me levantei e sorri. Ele sorriu de volta, e percebi que aqueles eram os dentes mais brancos e retos da face da terra.
Como havia somente nós dois me virei e caminhei normalmente, até o som de uma voz suave e firme me paralizar por completo:
- Não gostaria de ficar? Tenho o sono pesado, se eu dormir não estarei cumprindo com meu dever.
- O dever de se manter acordado é seu, não meu. - falei, ainda criando coragem para me virar.
- Sou o soldado Evans, Dominic Evans... Defendo o reino de Idorian.- ele se explicou, e ao ouvir que era um soldado de Idorian suspirei de alívio e me virei- Posso fazer uma troca com a senhorita. Trocas de favores. Me mantenha acordado que eu faço o que me pedir.
- Até se arriscar a ir no território que o inimigo está tomando?
- Até isso.- ele respondeu com o sorriso de lado.
- Está certo. Mas se você não cumprir com o combinado, juro que você fica sem as mãos.
- Esperta você! Como poderei empunhar uma espada, ou atirar uma flexa sem as mãos?- O soldado analisou.- Mas errou ao me dizer o que fará, pois posso não deixar você se aproximar de mim, posso revidar antes...
- Errei... Mas você não sabe que plano tenho em mente para concretizar isto. E ainda me falou que arma melhor usa.
- Fique quieta!- Ele falou, meio baixo. Em um jogo rápido, fincou o arco e a flexa em direção a mim. Me assustei, e nada poderia me tirar aquele pensamento de morte.
- Ótimo! Agora ele me mata aqui e minha família nem fica sabendo. Mas sério, dá um recado para eles: Peter: Aperfeiçoe a flexa, vai ser o melhor. Victor: eu confesso que gosto de você, mas você se esfrega com qualquer uma. Mãe: eu...- Ele interrompeu minhas preces:
- Cale-se, sua louca!- Ele falou e logo soltou a flexa. Fecho os olhos e espero o impacto da flexa em meu peito. Mas não; não desta vez...

Efeitos De GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora