Capítulo 3

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      Como o combinado, Dominic me esperava no início do turno da noite (que não era seu), debaixo da mesma árvore que nos encontramos da última vez. Ele continuava com uma farda, mas hoje ela estava menos abarrotada e seus cabelos estavam meio molhados ainda. Deve ser do banho.
      - Pensei que ia ter que esperar a noite toda, senhorita Loren! - ele me disse com aquela sobrancelha malvada levantada.
      - Vi que você tomou banho, Dominic. Eu também tenho esse direito. Não?
      - Desde que não chegue perto de mim caso não o fazer...
      - Podemos ir direto ao ponto? - Disse, me endireitando e cruzando os braços. Ignorando totalmente a conversa anterior.
      Nós começamos a caminhar em direção ao tal galpão.  Já conseguia saber pra onde ir, mas não exatamente.
      Aquela noite estava tão clara. Conseguia ver seus cabelos brilhando a minha frente, sua silhueta bem desenhada com aquela farda dobrada na manga. Estava tão fixada nele que nem notei quando ele parou.
      - Opa! Me desculpe... Estava bocejando, não vi o senhor parar. - Me desculpei. Graças aos céus era noite,  era só abaixar um pouco o rosto que já dava pra esconder minhas bochechas vermelhas. Ele me olhou e apenas deu aquele sorriso de lado maravilhoso, se virou e falou:
      - Só Dominic, chame seu pai de "senhor"!
      - Certo.
      Ele abriu a tampa e descemos. Fizemos o mesmo processo da última noite.
      - O que ficamos de pegar hoje?- ele parou e me perguntou.
      - Produtos de higiene pessoal e roupas para crianças... Se não for muito incômodo, claro.
      - Nossa, sua educação me emociona! - ele falou virando aqueles olhos claros maravilhosos. - Ah... Sinto em te informar, mas vamos ter que ir até o último andar lá em baixo. Vamos de elevador.
      - Ótimo! Mais um teste para o coração...
      Nós entramos no elevador e já cerrei meus punhos. Ele puxou a alavanca. Ao fazer isso fechei meu olhos pelo impulso e ele percebeu minha reação. Ele simplesmente pegou minha mão, desfez toda força que eu estava apertando e a apertou bem forte. Aí sim pensei que meu coração pularia pela boca. De novo? Pensei.
      Abri meus olhos e o fitei. Ele olhou para mim com um sorriso fraco e um olhar tão cansado. O agradeci com um aceno.
      - Parece cansado...- falei.
      - Sim... Você se parece muito com minha noiva!
      Arregalei meus olhos e soltei sua mão, fiz um "o quê? " com o rosto e ele entendeu a pergunta.
      - Fique tranquila. Ela morreu a alguns meses. Sinto falta dela, e ela era muito corajosa... Como você.
      - Sinto muito...- senti de verdade. Ao ponto de não mexer um músculo se quer. Tomei fôlego e peguei em sua mão novamente. - Por isso a tristeza?
      - Também... Ela era de uma aldeia cheia de costumes como a sua... de não poder dar nenhuma demonstração de afeto em público. Ela era como você, a "revolucionária". - Eu ri nessa parte e olhei novamente. Sua expressão era ilegível. Como sempre. - Meu pai é o primeiro ministro das forças armadas... Depois que ela se foi, acabou a graça em tudo. Pedi que ele me mandasse pra guerra, ele não achou muito bom mas acatou minha decisão. Estou com saudade da minha família. Dela também.- Ele fala me olhando.
      - Sinto bastante!... Qual era sua profissão então?
      - Primeiro ministro do conselho real. Por isso minha facilidade em te fazer aceitar algo.- ele me olhou com um sorriso baixo.- Sua aldeia é pior do que a dela.
      - Por que?
      - Porque lá as mulheres podem cursar qualquer profissão, a menos que impunha uma espada.
      - Como você a conheceu? - Perguntei, muito curiosa e ansiosa pela resposta.
      - Ela conseguiu uma hora para falar com o rei. Ela queria o acesso livre das crianças de sua aldeia, que era próximo da Capital, à biblioteca de lá. Quando vi como ela defendia o que queria, a força que ela tinha pra isso... Cada não falado pra ela eram dez mais argumentos fortes que ela arrumava... Fiquei abobado com sua força e beleza. Defendi a causa junto com ela. Não pelas crianças, mas por ela mesma... Confesso. Fiquei dias e meses indo em sua casa. Vi que ela se apaixonou por mim assim como eu estava apaixonado por ela. Fiz o pedido esperado, enfim. Ela me disse que não, acredita? Disse que eu era da realeza, que não daria certo. Ela
me obrigou a beijar ela em público. Assim ficamos noivos, e eu sei que ela gostou.
       - Sinto muito por sua morte...- Apertei sua mão, não só pelo solavanco do elevador, mas por pensar que isso poderia o reconfortar. Mas uma coisa surgiu na hora: - Espere! Como você sabe qual era minha aldeia e seus costumes?
      - Seus cabelos são pretos, e as pontas ainda carregam um tom meio amarelo. Somente garotas do leste carregam esses tons. Não sei qual aldeia você é exatamente, mas as regras do leste são as mesmas.
      - Ah. Claro.- falei já me preparando para o impacto do elevador no chão. E pronto, coração testado!
      - Pode andar e escolher o que quiser, dentro do seu limite de peso. Todos os fardos tem identificações.

(...)
      - Eu carreguei isso até aqui Emanoel, não será possível que você não consegue carregar até lá! - provoquei enquanto tentava puxar o saco menor.
      - Nossa, mas esse tá pesado hoje! Mas não vamos reclamar, isso significa suprimentos para algumas semanas, além de ter para o aniversário. .
      - Sabe, o aniversário é algo importante pra mim, mas acho que sempre que comemoramos, os Líderes ficam estranhos, quietos e calados... - disse, o fitando.
      - Você e suas paranóias! Se não parar vão pensar que está louca! Ninguém tem nada pra esconder, qual seria o sentido? Já basta eles aceitar a senhorita nas buscas!
      Emanoel tinha razão, era melhor guardar minhas opiniões somente pra minha consciência e eu, pois já estava em um lugar de grande valia. Mas logo minhas suspeitas seriam confirmadas...

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2018 ⏰

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