Nightmares

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                 Brandon

Ah! O silêncio. Existem vários tipos de silêncio, eu conheço 5 deles. Existe o silêncio logo assim que você acorda, porque seu cérebro demora alguns minutos para raciocinar. Existe o silêncio de pausa para escutar o outro falar. Existe o silêncio de desprezo, quando você quer ignorar alguém. Existe o silêncio perplexo, que dura uns 10 segundos antes de você soltar um ''o que?'' exagerado. E, existe o silêncio da mente, que é o pior deles, é aquele que vêm acompanhado da angústia, ansiedade e solidão. E é esse que me aflige agora, ou melhor, sempre.

A luz da lua me procura como se quisesse me dar a mão e me levar para longe de toda essa escuridão, sentado no parapeito desse velho e acabado edifício me pergunto como fui parar ali, olho lentamente para baixo e avisto a linda e luminosa Manhattan, solto um suspiro de frustração. Odeio esse lugar, tudo aqui é tão previsível, as pessoas são previsíveis, até o cheiro desse lugar é previsível, uma mistura de gás, colônias caras e chuva. Nova Iorque é linda aos olhos de todos, mas não se engane, é como aquele velho ditado diz ''Nem tudo que reluz é ouro''. Sinto um vento gélido me atingir e estremeço, o que me leva a perceber a altura em que me encontro, 49 metros abaixo de mim parecem assustadores, espero uma palpitação diferente, uma vertigem, ou até mesmo um frio na barriga, mas, nada. Sinto que estou perdendo lentamente tudo o que me faz humano. Não sinto mais medo, dor, felicidade. Quase não sinto nada, quase.

Ainda sinto alguma coisa, uma leve sensação que me persegue, a sensação que meu corpo tenta reprimir, mas minha mente a deseja. Olho novamente para baixo, totalmente perdidos em meus pensamentos, sinto uma vibração diferente no ar, ou melhor, no bolso da minha calça. Procuro o pequeno aparelho que vibra constantemente, pego e dou uma checada no visor. É Sarah. Minha Sarah. Atendo a chamada.

''Brandon? Boo?'' Sua  voz doce e preocupada invade os meus ouvidos.

''Oi anjo'' Respondo com a voz rouca e falhada.

"Onde você está?'' Ela diz com a voz chorosa o que me faz ter um impulso de susto e me equilibro para não cair.

"O que aconteceu?'' Me recupero e levanto, me afastando da beirada do parapeito do edifício.

''Boo, eu tive um pesadelo, eu... era... foi horrível'' Ela soluça e começa um choro sofrido.

Sinto como se tivesse levado um soco no estomago e faltasse ar. Odiava quando ela chorava, odiava não poder fazer nada para apagar os pesadelos. Não era justo com ela.

''Não chora, anjo. Pesadelos nunca são bons, eu já estou indo pra casa, está bem?'' Digo tentando acalmá-la, me odiando por não estar com ela.

"Por favor, vem logo, você sabe que a tia Helen não canta para eu dormir, só você, e eu não tenho pesadelos quando você canta antes de eu dormir.'' Escuto ela fungar e sorrio fraco sentindo os olhos lacrimejarem.

''Me desculpa, eu... - '' Minha voz falha. ''Já estou indo, sério. E vou cantar pra você, mas, não chora. Até daqui a pouco.''

"Ok, Eu te amo, Boo.'' Ela diz em sussurro.

"Também te amo, anjo'', mordo os lábios para segurar as lágrimas. Finalizo a chamada.

Vou em direção, ao corredor sujo e escuro do prédio abandonado e ligo a lanterna do celular para procurar a escada, desço os 15 andares com pressa, chego ao térreo e abro a porta. Sou invadido pela claridade de fora. Porra, por quê essa cidade tem que ser tão iluminada? Apresso o meu passo entre as ruas vazias, ando 4 quadras até chegar no apartamento dos meus tios no Harlem. Moro com eles desde a morte da minha mãe. Eu tinha 13 anos. Desde então tento viver um dia de cada vez nesse inferno. Vejo o antigo prédio e subo pelas escadas de incêndio em direção ao quarto de Sarah. Bato na janela uma vez e vejo um vulto pequeno andando em direção a janela, ela é aberta e sou recebido com um abraço de urso pela minha pessoa favorita no mundo. Sarah. Minha irmã é tudo nessa minha miserável vida. Retribuo o abraço e ergo seu rosto com ambas as mãos e ela me presenteia com aquele sorriso, o sorriso que é reservado só pra mim.

''Onde você estava, Brandon? Acordei e te procurei pela casa toda e não achei, fiquei preocupada.'' Ela me repreende fingindo estar brava.

''Mil perdões, senhorita, seu servo fiel promete não lhe deixar mais preocupada.'' Digo brincando e ela da uma risada gostosa. Ela se afasta me dando espaço para pular a janela e entrar em seu quarto. Ela corre pra cama e bate a mão na cama, me chamando pra sentar ao seu lado.

''Eu não consegui mais dormir depois do pesadelo'' Ela faz uma careta como se lembrasse dele. Engulo em seco, eu sou o único que a entendo, o único que tem os mesmo pesadelos só que 10 vezes pior.

''Quer contá-lo pra mim?'' Digo e me sento ao seu lado a puxando pro meu peito.

''Não, eu quero que você cante, Boo'' Diz ela e se aconchega mais.

''Tudo bem, feche os olhos e deixe as más lembranças irem embora.'' Ela faz o que digo e começo acariciar seus cabelos loiros. Canto a música que nossa mãe cantava pra ela. Canto até sentir a respiração dela mudar, ela dormiu. Observo aquele rosto tão inocente dormindo e sinto uma lágrima quente cair pelo meu rosto.

Depois de uma hora observando ela dormir, levanto com cuidado e ajeito ela na cama, pego o Sr. Popy em cima do criado mudo e coloco em seus braços. Um urso velho e encardido que dei a ela depois de ganhar no tiro ao alvo em um parque de diversões. Sarah tinha 3 anos na época, e hoje aos 10, ela continua carregando esse urso pra lá e pra cá. Deixo a luz do abajur acessa e saio do quarto fechando a porta tentando não fazer barulho. Caminho até o meu quarto. Pego meu celular e coloco o alarme pra despertar as 3 horas da manhã. É a hora que pego no trabalho hoje. Me jogo na cama, fecho os olhos enquanto a escuridão me puxa para baixo. Os pesadelos me recebem com um familiar ''olá, que bom que voltou''.

My SalvationOnde histórias criam vida. Descubra agora