Brandon
Em abril chove bastante, então não me surpreendo quando pequenas gotas de água começam a cair no chão. Sempre gostei desse clima cinzento e nublado, mas sou suspeito a dizer por só reparar em dias assim. Estranhamente hoje, penso que um céu limpo e clareado pela luz de um sol forte não seria um incômodo para mim, somente, hoje.
''Brandon?'' Sarah chama me despertando dos meus pensamentos.
''Oi? Desculpa, eu não escutei'' Respondo e a olho.
''Estava falando que me diverti bastante hoje com a Scarlet.'' Ela soa empolgada e lembro o porquê dessa diversão toda que ela cita, teve de acontecer. Essa madrugada foi preocupante demais.
''Você sabe que não pode sair sozinha por aí, ainda mais naquele horário, você me deixou preocupado.'' Eu a advirto, mas não queria. Amo seu instinto, sua coragem, sua determinação.
''Você gostou dela?'' Ela pergunta ignorando totalmente o que falei e eu finjo que não escutei. É mais fácil os animais aprenderem a falar do que eu conseguir esconder qualquer coisa dessa menina.
''Você gostou!'' Ela ri e me cutuca ''Sabia que gostaria, ela é legal, não é?'' Ela caminha junto comigo e me puxa para atravessar a rua até o nosso prédio. Legal não é bem a característica principal que eu daria a ela, embora não possa negar que ela foi realmente legal. A primeira coisa que reparei nela não foi nada físico, não foi carnal, foi mais profundo. Vi uma força, uma grande força oculta, mas estava lá. Ela exalava uma (auto) confiança invejável que aspirei com tanta força que me deixou zonzo. Intensidade, foi o primeiro sentimento que despertou do vazio dentro de mim. Esse sentimento estava amortecido há um bom tempo, e, sentir ele de novo foi como um vício, viciei rápido na intensidade que ela deixou em mim e quis mais. E meu subconsciente me pergunta se esse foi o único rastro deixado por ela.
Entro em nosso apartamento com Sarah e está tudo silencioso. Tia Helen já deve estar no trabalho. Sarah passa por mim e corre em direção ao seu quarto e a sigo.
''Quer comer alguma coisa?'' Digo e ela se joga na cama.
''Nãoum, dormir.. dorm..'' Ela balbucia e se aconchega mais na cama
''Você tem aula hoje, sua espertinha. Tem que se arrumar'' Faço cocégas nela e ela se contorce rindo.
''Nãooo, Boo. Deixa eu faltar só hoje, estou com muito sono, por favor.'' Ela faz a cara que sabe que vai fazer eu ceder.
''Tudo bem, Sarah. Mas só hoje.'' Falo e ela senta para me dar um abraço que retribuo. Ela deita novamente e cai no sono rápido. Observo ela dormir alguns minutos como sempre faço. Bocejo e fecho as cortinas da janela, tiro o tênis, as meia e a camisa. Desligo o alarme do celular já que não tenho turno essa noite e coloco o celular no criado mudo. Deito ao lado de Sarah que faz um suspiro de sono e se aconchega em mim. Sinto o cheiro de seus cabelos e deixo o sono me puxar para a familiar escuridão. Sonho com... Espera, sonho? Não é um pesadelo? Olhos azuis, grandes olhos azuis... Assustados? Sim, estão aterrorizados! Seus lábios delicados e de um tom de vermelho forte estão dizendo... Dizendo o quê? O sonho está nebuloso, não consigo escutar o que ela está dizendo...''Fala mais alto'' Grito. Barulho, uma música alta tocando. Acordo ofegante e confuso me sentando na cama, demoro alguns segundos para identificar um som alto de um celular tocando, até perceber que é o meu. Pego o celular e olho para Sarah que ainda dorme profundamente. Atendo a ligação.
''Brandon?'' Reconheço o sussurro assustado da voz que estava assombrando meu sonho há alguns minutos.
''Scarlet?'' Pergunto. E escuto um barulho de algo caindo do chão do outro lado da ligação seguida de um suspiro assustado. E a próxima coisa que ouço, é a palavra que estava tentando decifrar no meu sonho?
''Socorro!'' A ligação cai.
Assustado, levanto apressado da cama. E ligo para o número dela.
''Olá aqui é a Scarlet, você já sabe o que fazer...''
Droga, tento de novo e cai na caixa postal novamente. Por que estou tão preocupado? Eu nem a conheço, ela cuidou da Sarah sem conhecê-la, meu subconsciente lembra. Porra! O que eu vou fazer? Checo a hora no celular, seis horas da tarde. Eu nunca dormi tanto. Brandon se concentra, caralho. Saio do quarto de Sarah em direção ao meu, visto uma camisa e um casaco e calço o tênis com pressa. Escrevo um bilhete para Sarah para quando acordar não sair. Tia Helen sai do trabalho as seis, então já deve estar a caminho. Fecho a porta do seu quarto e tranco e saio descendo as escadas com pressa até chegar ao primeiro andar. Não está mais chovendo, mas sinto o vento gelado enquanto corro pelo meu bairro bastante movimentado. Avisto a entrada do metrô, vou até a cabine e compro um bilhete. Passo pela roleta e esbarro sem querer com um mulher de meia idade que me olha com raiva. Murmuro um pedido de desculpas e saio apressado, o metrô que preciso pegar já está saindo e consigo entrar raspando enquanto as portas são fechadas. Olho ao redor e as pessoas me olham de volta. Devo estar bizarro vestido todo de preto e com o cabelo bagunçado. Levanto o capuz do casaco e coloco as mão no bolso do mesmo. Sento em um lugar vago e penso em quantos minutos já se passaram desde a ligação de Scarlet. Balanço minhas pernas freneticamente e uma senhora que está no lugar a minha frente me olha por alguns segundos e da um sorriso genuíno que faz as minhas pernas pararem de balançar. Desvio o olhar dela e tento ligar novamente para Scarlet, direto na caixa postal. Depois de algumas estações, saio e subo as escadas até estar nas ruas movimentadas do Brooklyn. Ando, corro mais do que ando por algumas quadras até chegar no meu destino. Olho a pequena casa amarela com um tom velho de branco e vou até a porta, dou um suspiro e aperto a campainha. A porta é aberta e eu encaro o rosto sério e chocado da única pessoa que há muito tempo atrás, chegou bem perto de ser meu amigo. Em um passado que eu ainda podia ter essa humanidade. Preciso rastrear o número do celular em que Scarlet me ligou e se tem uma pessoa que sabe bem o que fazer, essa pessoa é o Tom.
''Oi Thomas, preciso da sua ajuda.'' Digo antes da porta fechar bem na minha cara.
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My Salvation
RomanceScarlet Hayes não esperava que depois de um acontecimento terrível em sua vida, ela poderia voltar a sentir o amor. Brandon Daniels depois de viver a morte, não esperava sentir qualquer coisa. Alguns sentimentos simplesmente não morrem, apenas perma...