My Salvation

Cuba Libre

                              Brandon

Trabalhar no Devil's House tem suas vantagens, observar as pessoas com suas vidas sem graça consegue me distrair do constante terrível presente. Gosto de observar. E aqui posso fazer isso sem restrições. Eu não estava pensando em muita coisa quando aceitei trabalhar de Barman, eu sei, não combina comigo. Eu precisava de um emprego e o Sean deve ter visto alguma coisa em mim além do sangue escorrendo na minha cara quando ele me tirou de uma briga no fundo da boate anos atrás e me ofereceu esse emprego. Não preciso de muita coisa, mas preciso de dinheiro e aprendo rápido. Sirvo drinks e escuto as longas histórias, as mais típicas são traições, chefes cuzões e amores não correspondidos. Fico calado o tempo todo, as pessoas não ligam, só se importam em ter alguém para escutá-las.  A boate está cheia hoje, então trabalho rapidamente junto com Gwen, ela pega o mesmo turno que o meu, e já estava aqui quando comecei a trabalhar, não nos falamos muito, apenas o básico, ela tem suas próprias merdas para lidar.

''Ae, Brandon'' Gwen me cutuca enquanto eu preparo uma pinã colada para uma garota que está justificando para o namorado que só estava com a roupa amassada porque teve um acidente no banheiro. Hm, típico, penso e olho para Gwen.

''Fala'' Digo e entrego o copo para a garota que sai puxando o cara pra pista de dança.

''Mitchell está jogado ali no final do balcão pedindo mais vodka, ele já bebeu muito e não quer me ouvir, é a sua vez'' Ela da uma piscada. Mitchell é um antigo cliente com sérios problemas de alcoolismo. Não sei o porquê mas ele só conversa comigo quando está assim.

''To indo, me cobre'' Caminho até o final do balcão e o vejo sentado no chão, ele da um sorriso de bêbado quando me vê.

''Oi, garotoo, você demorou dessa vez, a loira não quer me servir, da um jeito nela'' Sua voz sai arrastada. Tento o levantar mas ele recusa.

''Vamos, Mitchell. Chega de bebida pra você, são as normas.'' Estendo a mão e ele pega, sinto o cheiro forte de vodka.

''Você sabe onde está a minha Natalie? Minha filhinha, ela disse que ia fazer um desenho pra mim, mas eu não consigo achar ela'' Ele pergunta enquanto ajudo levando ele até saída do bar. Não sei muito sobre Michell, só sei o que a vodka conta. Há dois anos ele perdeu a única filha em um acidente de carro e desde então ele tenta superar com a bebida e vem aqui dia sim, dia não. Não o julgo, sei o que é ter uma vida miserável e não ter ideia de como lidar com ela. Quando chegamos na saída, aceno para um táxi e coloco Mitchell dentro e passo o endereço para o taxista. Antes de fechar a porta, abaixo até a janela porque escuto um murmurio vindo de Mitchell e coloco o ouvido na direção de sua boca para escutar o que está balbuciando.

''A paz que procura vem hoje, não consegue sentir?'' Mitchell diz e apaga no mesmo instante. Sinto um calafrio, bêbados são estranhos. Aceno pro motorista e o carro parte. Observo o carro se afastar e entro na boate apressado.

                              Scarlet
                                          

Tem dias que você sente que seu dia vai ser bizarro. Você simplesmente sente que não vai ser a mesma rotina. Esse é meu primeiro pensamento depois que entro na boate, o segundo é ''está cheio, vou embora''. Recuo imediatamente e Molly olha pra atrás me procurando, sinto falta de ar e tento sair da boate mas acabo trombando em alguém que entra as pressas, tento me equilibrar e a pessoa me segura.

''Me desculpa, eu estava entrando mas fiquei com falta de ar e fui sair e acabei não te vendo e..'' Finalmente ergo os olhos para a pessoa, paro de falar,  a respiração que já me faltava é cortada de mim em um só instante. Sabe quando você brinca com um dois imãs e um sempre atrai o outro com mais força e você acaba soltando o imã sem forças para impedir que se atraiam. Sinto essa força invisível agora, me puxando até ele. Olhos castanhos em um tom forte de dourado encontram os meus e minhas pernas falham.  Mãos fortes me seguram.