Prólogo

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" Lá estava eu, como todos os dias estive... A vida só se tornava mais sem sentido, eu assistia toda a felicidade das outras crianças a passarem pela porta das lojas, entrando e saindo dia após dia, eu sabia bem oque era aquilo... Mas meu foco não se limitava a presentes, objetos, nem ao menos a felicidade deles, que pra mim já era utópica, algo inventado pelas lojas e estabelecimentos para nos fazer desejar coisas em busca da tal felicidade, a verdade é que eu não entendia bem o sentido dela, nem entendo ainda hoje... Mas voltando aos primórdios desses acontecimentos, oque eu queria estava além do que eu podia ver, eu era apenas um garoto de rua em uma avenida cheia de insegurança...

E enfim a noite chegou, meus pequenos olhos claros fitavam as lojas fechando as portas, as luzes ficando mais fracas e se apagando lentamente, as calçadas perdendo sua cor para o breu da noite, perdendo sua alegria, como eu via todas as noites. Deve estar se perguntando por que essa noite foi especial, não? O ar frio sondava a area como de costume, minhas roupas velhas já não davam conta do clima no fim do dia, eu me arrepiei além do normal aquela noite, quando vi um carro preto grande parar do outro lado da avenida, com o aro de suas rodas cintilantes num prata vivo, os pneus já quase carecas de desgaste, e uns suspeitos rabiscos na lataria que cortavam a tinta dando lugar ao metal puro. O clima tenso tomou conta de mim, imóvel eu sentia meu coração bater em silêncio, tentava não chamar atenção, retraído na calçada do lado de uma lixeira, me encostei na parede de uma loja e trêmulo fechei meus olhos em um silêncio subito, me imaginei de novo em meio aos sorrisos das famílias e crianças e a luz do dia, e a alegria instável que cheirava a capitalismo, me imaginei até mesmo comendo um dos poucos lanches que almas bondosas raramente me pagavam, mas ao bater das portas do grande carro preto, minha fantasia se quebrou.

A tensão tomou conta de mim... A calmaria que aparentava ter tomado conta da avenida logo se dissipou em uma explosão seguida de gritos no outro lado da rua. Senti meu coração bater mais forte, ofegante eu senti algo se aproximar lentamente, ouvi o estralar de um tipo de metal em atrito com plástico, no desespero do momento abri meus olhos, ainda encolhido ao lado da lixeira, decidi espiar minhas chances de fuga por um minuto, e lá estava ele... Sobre um corpo caído no chão agaixado, me encarando com sua máscara branca reluzente repleta de riscos em preto, vestindo uma camisa de manga longa preta justa e empunhando uma lâmina de curto gume. Eu pensei que tinha chegado a minha hora.

A Ordem Sem Nome - O Nascimento De Darmian.Onde histórias criam vida. Descubra agora