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― Só pode ser brincadeira mesmo ― O Deus viking do aeroporto disse, como se estivesse lendo meus próprios pensamentos. Ele segurava a barra de sua camisa branca, tentando afastar o tecido molhado de seu corpo sem muito sucesso. O loiro ainda usava a mesma jaqueta jeans que vestia no dia do aeroporto, o que me fez ter certeza de que não, eu não estava alucinando ― Isso é algum tipo de vingança estrategicamente planejada?

― É claro, porque você é obviamente importante o bastante pra eu me dar ao trabalho de segui-lo até aqui e esperar o momento perfeito pra me vingar! ― Ironizei, esperando inutilmente que ele estendesse a mão e me ajudasse a levantar, mas o idiota continuou imóvel, me encarando com um sorrisinho torto e irritante.

― Bom, nesse caso eu fico lisonjeado ― O loiro disse, dando uma piscadela e deixando que seu sorriso repuxasse ainda mais o canto de seus lábios. O encarei perplexa, indecisa entre continuar no chão, mantendo a calma, ou entre me levantar e acertar sua cara ridiculamente simétrica e perfeita com a minha mão.

― Você é mais babaca do que eu pensei ― Disse por fim, apoiando as mãos no chão e me levantando de maneira desastrosa, terminando de derramar o restante de suco que restava no copo em meus próprios pés. Ouvi o loiro reprimir um riso e afastar o olhar para o lado, tentando disfarçar. Bufei irritada e arremessei o copo plástico em sua direção, sendo surpreendida com seu reflexo rápido, que o fez se afastar antes que o copo o atingisse.

― Você parece ser o desastre em pessoa.

Odiei o quanto aquela afirmação dirigida a mim parecia verdadeira. E odiei ainda mais o olhar penetrante e avaliativo que ele lançou em minha direção. Fiquei em silêncio, tentando pensar em uma resposta elaborada e que o fizesse calar a boca, mas as palavras sumiram novamente assim que ele começou a se livrar de sua camisa jeans.

Meu cérebro tentava trabalhar sem sucesso enquanto meus olhos percorreriam a extensão de seu pescoço e de seus ombros e braços que pouco a pouco iam sendo expostos. Por que ele parecia estar fazendo um strip tease em câmera lenta? E por que a imagem dele se livrando de suas roupas era tão hipnótica assim? Engoli em seco quando ele pendurou a camisa na parte de trás de sua bermuda e retirou a regata branca, deixando a mostra um abdômen que era obviamente construído no photoshop. Sério, eu não sei que tipo novo e moderno de tecnologia era esse, mas aquele tanquinho obviamente não fazia parte desse mundo.

Ele jogou a regata branca sobre um dos ombros e eu segui seu movimento com o olhar, pela primeira vez prestando atenção nas pulseiras de couro que estavam amarradas em seu pulso direito. Ao lado de uma fitinha. Uma maldita fitinha azul.

― Ah caralho, eu não sou obrigada! ― Exclamei sem pensar, cravando as unhas em minhas bochechas e recebendo um olhar confuso do loiro.

― Não me lembro de ter dito que você era obrigada a algo ―Disse ele, um tom repleto de confusão transparecendo em sua voz baixa e embargada.

Parte de mim queria permanecer ali, com os pés fincados no chão em sua frente até que ele fosse o primeiro a ceder ao nosso joguinho e resolvesse ir embora. Porém, uma parte maior ainda me obrigou a dar costas para o Deus Viking e sair andando depressa em direção a minha barraca. Se o universo estava disposto a brincar com a minha cara, eu iria provar que ele teria que se esforçar muito mais para me fazer perder o controle da situação.

Passei os minutos que me restavam até o início das atividades completamente sozinha. Amberle havia desaparecido e os demais campistas estavam entretidos demais em seus próprios grupos para tentarem ser simpáticos comigo, a única criatura que parecia disposta a se isolar para aproveitar um tempo de relaxamento a sós. Lembrei de agradecer mentalmente por isso antes de me levantar e seguir em direção ao local combinado, onde uma pequena aglomeração já se formava. Me peguei correndo os olhos pelo local em busca de algum rosto conhecido – algum rosto conhecido que não fosse um rosto bonito o suficiente para ser comparado com um Deus nórdico, é claro.

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