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― Você é completamente louca, garota ― Christopher disse, mas sua voz estava bastante controlada e ele não parecia estar irritado. Porém, minha cabeça parecia um pouco zonza demais para que eu tivesse certeza do que estava acontecendo. Me obriguei a sentar e percebi que estavamos nas margens do rio, em uma região bastante afastada e de mata fechada.

― O que aconteceu? ― Minha voz saiu bastanta arranhada e falha, e precisei tossir algumas vezes ao final da frase. Uma quantidade razoável de água pulou para fora de meus pulmões, me deixando um pouco mais alerta e desesperada. Pouco a pouco minha consciente voltava a colocar cada peça em seu devido lugar, e tudo ficava mais claro.

Percebi que uma das mãos de Christopher estava em meu pescoço, oferecendo algum apoio para meu rosto. Seu polegar deslizava por minha mandíbula, e seus olhos azuis e repletos de preocupação continuam fixos aos meus. Foi apenas quando respirei fundo e soltei o ar pela boca que ele resolveu responder minha pergunta.

― Você estava tentando se exibir para mim e acabou levando nós dois pra água ― Chris explicou. Chris? Por que eu havia resolvido dar um apelido pra ele? Eu devia ter engolido muito água. E por favor! Eu não estava tentando me exibir para ele! Ou estava só um pouco...

― Eu duvido que a culpa tenha sido minha ― Me defendi, vendo-o estreitar o olhar e esperando por uma justificativa ― O rio estava agitado, pode muito bem ter sido isso...

― Daisy ― Nenhum palavra escapou depois de meu nome, e ele pareceu perceber que sua mão continuava em seu rosto. Quando seu polegar seu afastou de minha mandíbula, e a carícia delicada e suave desapareceu, alguma coisa em meu estômago se agitou sem permissão. A preocupação em seu olhar se tornou mais amena e ele curvou os olhos no seu já conhecido sorrido torto e malicioso ― Você estava usando muito força, e acabou desequilibrando a canoa. A culpa foi definitivamente sua.

A canoa.

Onde estava a canoa?

― Cadê nossa canoa? ― Perguntei, olhando em todas as direções na esperança de encontrar nosso único meio de transporte, mas não havia o menor sinal dela. Christopher se levantou e balançou a cabeça, agitando os cabelos e fazendo com que alguns pingos de água voassem em minha direção.

― A correnteza levou ela e os remos ― Disse ele, com a maior tranquilidade do universo, como se isso não fosse um grande problema.

― E você não tentou segurar ela por quê?! ― Exclamei, me colocando de pé e percebendo que eu me encontrava em um estado deplorável. Christopher inclinou o rosto para o lado e me encarou com um expressão vazia.

― Isso não é meio óbvio? ― Continuei em silêncio ― Talvez por que eu estava tentando segurar você?! ― Disse ele, usando um tom de voz mais alto do que anteriormente.

A irônia da situação me atingiu em cheio. O babaca do aeroporto salvando minha vida. Eu não sabia lidar com essa situação. Primeiramente, eu não sabia lidar com pessoas. Muito menos com pessoas que se pareciam Deuses nórdicos, e definitivamente eu não sabia lidar com Deuses nórdicos salvadores de vidas. Minha vida estava segura mas por algum motivo parecia completamente destruída. Eu sabia que alguma coisa nesse cara jamais iria me deixar em paz, mas eu parecia incapaz de descobrir o porquê disso. Sem saber direito o que fazer diante de tudo isso, optei pelo caminho mais fácil.

― Ótimo ― Falei ironicamente ― Como saímos daqui agora?

Christopher permaneceu sério. Não havia traço algum de sorriso em seu rosto, e seus olhos azuis pareciam mais escuros do que eram de fato. Seu olhar chamuscava sobre o meu e a intensidade com a qual ele me fitava parecia estar roubando todo meu ar. Pouco a pouco seus pés começaram a se arrastar em minha direção e seus passos foram ganhando velocidade. Ele tinha me salvado mas agora ele ia me matar, é claro. Eu merecia, já que eu estava sendo completamente babacada.

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