V

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      Annie parou e apoiou-se em uma das árvores, nos limites do jardim. Arfava sem nenhum controle, seus pulmões queimavam e seu peito doía. Ela lutou contra a garganta sufocada e tentou se acalmar.

      — Annie? – chamou uma voz ao longe.

      Pensava em se levantar e correr, mas não restavam mais forças. A menina caiu sobre seus joelhos e cobriu a boca.

      — Annie? Onde você está? – chamou novamente, cada vez mais próxima.

      Ouviu-se farfalhar e passos. Annie sentiu alguém a sua espreita, mas não quis verificar. Ela sabia o que iria acontecer.

      — Levante-se – ordenou a voz. Ela mal pode se mexer. — Eu mandei levantar!

      Mãos frias a arrebataram e a colocaram em pé. Ela se esforçou a manter-se assim. A visão a fez perder o fôlego. Sara, deslumbrante em seu vestido branco, tinha o semblante zangado. Sua testa estava franzida e os olhos profundos, frios como gelo.

      — Sara... Eu... sinto muito.

      — Sente muito? – ela riu com amargura. — Você é patética. Por isso aquela garota fez isso. Qual foi a única coisa que eu disse para você?

      — Não... não me...

      — Não me envergonhe! E olhe o que você fez.

      — Me... Me desculpe... – ela sentiu um tapa acertar sua bochecha. Sara a segurou, para que não caísse, e logo desferiu outro.

      — Pare de se desculpar! Não há nada que você possa fazer!

      — Sara... – ela soluçou.

      — Cale a boca.

      Annie sentiu as lágrimas quentes rolarem em sua face. Ela tentou limpá-las, mas as mãos de Sara em seu corpo inibiam seus movimentos.

      “Não chore, Ann”

      — Patético... – murmurou ela. — O que eu deveria fazer com você agora?

      Ela deslizou as mãos pelo rosto de Annie, seus dedos percorreram seu cabelo, suas unhas se enterraram no crânio.

      — Eu deveria arrancar todo seu cabelo – ela sorria largamente enquanto enrolava as mechas em seus dedos e puxava. — Isso deve ser o suficiente...

      Sara tentava conter a risada enquanto brincava com o cabelo de Annie. Ela chorava ainda mais, mas não lutava contra ela.

      Aquela melodia cresceu novamente. Annie se absteve de cantarolar junto, mas não pode evitar.

      — O que está fazendo? – Sara a acordou com um puxão que a fez gemer. — Está cantando?

      Annie não respondeu, apenas continuou a cantarolar. A melodia estava para se encerrar quando ela deixou sua voz escapasse:

      “Pop! Goes the weasel”

      — Pare de cantarolar! – gritou Sara, puxando com força uma das mechas.

      Ela teve em sua mão o cabelo arrancado, e um fio de sangue escorreu pela bochecha de Annie. Ela já havia parado de chorar, mas seu peito ainda se movia com os soluços.

      Sara começou a rir descontroladamente, admirando a peça. Ela parecia satisfeita. Seu corpo inteiro tremia com aquele prazer doente.

      A criança manteve seus olhos baixos. Ela ronronava a melodia, tão baixo que nem ela podia ouvir. Quieta, ela poderia aguentar aquilo. Iria acabar logo.

Laughing JackOnde histórias criam vida. Descubra agora