VII

246 25 12
                                    

      — Esta aqui... – informou o palhaço, esfregando as mãos em sinal de contentamento — está dormindo como um bebê... Deveríamos acordá-la?

      — Nós podemos... acordá-la depois... – murmurou Annie.

      — Não. Todos eles precisavam assistir ao espetáculo. Não é mesmo? – ele se virou para as outras vítimas amarradas a cadeiras e sorriu.

      — Você... está certo... – ela se afastou, e se sentou sobre a cama, cobrindo a boca.

      — Annie? – o palhaço abandonou sua platéia e correu em direção a ela, se ajoelhando a sua frente. — Está tudo bem?

      — Sim, eu só... me sinto um pouco tonta... – ela pôs a mão sobre o próprio estômago.

      — Ann, você vai...?

      — Não. Não vou – ela riu e fechou os olhos por alguns instantes. Ele pousou a mão sobre sua testa, depois suas bochechas e seu pescoço.

      — Pode ter sido algo que você comeu... – ela afastou suas mãos, constrangida. — Não prefere vir comigo? Eu posso preparar algo para...

      — Jack. Eu estou bem – ela sorriu, e o segurou. — Eu só preciso respirar um pouco. É um pouco... demais para mim... Entende?

      — Sim. Sim, claro. Tudo bem – ele se levantou. — Eu preciso buscar algo. Voltarei logo. Você ficará bem sem mim, não é?

      Ela assentiu, o palhaço bagunçou seus cabelos ruivos afetuosamente e deixou o quarto, fechando a porta atrás de si.

      — Divirtam-se, crianças.


***

      — Annie... – sussurrou alguém. — Annie... Ann!

      Ela encarava o chão, sem perceber que alguém chamava por seu nome. Inalava com dificuldade aquele ar pesado e o expelia lentamente, tentando se acalmar. Levantou os olhos ao perceber que alguém gritava por ela.

      — James? – ela perguntou.

      — Ele já foi embora... – segredou ele, aguardando algo.

      — Jack?

      — É assim que você o chama? – ele pareceu enojado. — Se apresse e me desamarre...

      — Por que eu faria isso? – ela não se mexeu.

      — Ele vai voltar logo! Se apresse – o garoto começou a se movimentar na cadeira. — Olhe o que ele fez com Charles, eu não quero acabar como ele. Ande logo!

      A aparência do garoto havia decaído. Ele não parecia passar de um cadáver. Pálido de medo como estava, a pele de seu rosto havia sido esfolada até a carne, faltavam-lhe vários dedos das mãos, e nacos de sua carne haviam sido arrancados.

      — Eu vi quando ele... tirou a pele do rosto dele... e quando os dedos foram cortados com a alicate... Eu vi as coisas estranhas que ele fez com meu irmão depois dele... dele... – James passou a se movimentar com mais desespero, tentando se libertar das amarras. — Annie. Se apresse. Eu não quero... eu não quero morrer.

      — Eu não vou... fazer nada para te ajudar! – ela gritou.

      — Annie...

      — Nós só vamos... nos divertir um pouco... Eu mereço isso. Depois de tudo que vocês fizeram... – ela riu amargurada.


***

Laughing JackOnde histórias criam vida. Descubra agora