II

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      O salão principal estava repleto de convidados. Annie tentou se manter oculta atrás do homem que a acompanhava. Ele a puxou pelo braço e a fez permanecer ao lado dele.

      — Não me envergonhe! – rosnou o homem, esmagando sua mão em um aperto.

      Ela assentiu timidamente e manteve uma postura dura enquanto descia as escadas. Todos os olhares se viraram para os dois, Annie sustentou o peso daqueles olhares frios e se forçou a manter os olhos altos.

      No final da escadaria aguardava um garoto bem vestido, com aproximadamente sua idade, porém, aparentava ser mais velho por conta de seu ar de superioridade.

      — Sua companhia, senhor – anunciou o homem, conduzindo Annie até o garoto.

      Assim que o homem se retirou o garoto sorriu, e se abaixou para beijar sua mão.

      — Senhorita....

      — Por favor... – interrompeu a garota. — Me chame de Annie.

      Ele pareceu desconcertado. Ela soltou sua mão e passou a escondê-la nos bolsos do vestido.

      — Tudo bem, Annie... – ele sorriu novamente. — Me chamo Charlie Williams. Portanto, me chame do que desejar. É um imenso prazer finalmente conhecê-la.

      — Igualmente... – ela sentiu o estômago doer repentinamente, mas decidiu não deixar transparecer. Aquilo não ajudaria em nada. — Tem certeza que não nos conhecemos?

      — Não – ele pareceu confuso. — Eu me lembraria de um rosto tão bonito... – ela passou a se sentir pior. Charlie estendeu a mão para ela. —  Concede-me o prazer de acompanhá-la?

      Ela o permitiu, sem dizer mais nada. Presa por um dos braços, ele a conduziu por entre a multidão de convidados.

      “Quem é essa garotinha?” sussurrou alguém. “O que ela faz com o filho do Duque?”

      “Idiota. É irmã mais nova de Sara Smith”

      “Como? Não se aparecem em nada "

      “Sara é uma mulher. Esta é simplesmente uma pirralha ”

      “Onde estão seus modos?! ”

      Annie fingiu não escutar. Seus dedos esmagavam os doces em seu bolso. Seu estômago dava saltos de nervosismo. Ela queria sair dali, de perto daquele garoto.

      Eles deixaram o salão principal e se viram em um vasto jardim de rosas brancas. Um caminho rodeado por elas os conduziam para um côreto, onde pessoas transitavam, carregando bandejas com aperitivos.

      — Está uma linda cerimônia – comentou Charlie. Annie nada pode fazer a não ser murmurar em concordância. — Você está adorável, Annie.

      — Ce-Certo... O-Obrigado...

      Ele sorriu, e apertou o braço dela mais forte.

      — O que acha de nós...

      — Charlie! – interrompeu alguém. — Ei, Charlie!

      Um garoto correu do outro lado do jardim, atravessou os arbustos e quase os derrubou. Ele segurava o casaco em uma das mãos e tinha os cabelos bagunçados. A criança sentiu algo estranho ao vê-lo, sentiu que precisava sair de perto deles.

      — Achei você... Estive te procurando o dia inteiro... – ele parou e respirou um pouco. — Quem é essa?

      — Essa é Annie, a irmã mais nova de Sara, irei acompanhá-la hoje – e se dirigiu a ela. — Annie, esse é James. Meu irmão.

      — Muito prazer – ele estendeu a mão e a cumprimentou, chacoalhando-a com força.

      — Igualmente...

      Ele a estudou por alguns instantes, depois se dirigiu ao irmão. Os dois seguiram na frente, sussurrando um para o outro. Annie manteve distância, obedientemente.

      “Essa não é...?”

      “Não, não é ela ”.
      “É claro que é. Como não pode ser? O mesmo cabelo vermelho... Me surpreende que ela ainda não o cortou ”

      “James... Não é ela!”

      “É ela sim!”

      “Mesmo se for ela, fique quieto...”

      Ela não pode deixar de ouvir aquilo. Sua cabeça começou a latejar, e ela logo se lembrou de algo. Decidiu que iria fingir não saber. Se ficasse quieta, ninguém iria fazer nada a respeito.


***


Laughing JackOnde histórias criam vida. Descubra agora