"São 06h30 da manhã, quando o meu despertador tocou, desliguei-o, mas não me levantei... fiquei 15 minutos a olhar para o nada. Não me aptecia sair da cama, aqui em Lisboa está uns 10°C.
Eu gosto do frio, mas não quando tenho que tirar o pijaminha..."- Leonor! Tu entras a que horas na escola? - Disse a minha mãe, ao entrar de repente no meu quarto. Ligou a luz e subiu os estores.
- Eu estou acordada mãe. Fogo! É preciso subir os estores e abrir a janela? Tá frio! - Disse eu toda indignada e encolhendo-me mais no cobertor.
- Levanta... Está na hora!"Eram quase 07h, quando olhei para o relógio quase tive um treco, tomei um banho rápido, vesti um vestido de ganga, collants pretas, escovei os dentes, calçei uns botins pretos da Primark, fiz o meu coque de sempre. A minha mala já estava preparada para a aula de hoje, peguei na minha lancheira e fui.
Quando saí do meu prédio, havia muito sereno no ar, os carros estacionados estavam com os vidros embaciados, o sol não tinha nascido por completo, vai-se alguns raios miúdos a tentarem espreitar por baixo daquele nevoeiro matinal, dei graças a Deus pôr estar as usar casaco e cachecol...Apanhei o metro na Pontinha e depois o autocarro na Avenida para chegar à escola Manuel da Maia. Finalmente! Última semana de aulas...
Quando chego à escola encontro Andreia, a única menina que conversava comigo e que era minha amiga.
Andreia era uma menina muito simpática, branca, cabelos lisos e longos tinha os olhos verdes enormes, super estilosa. Fazia parte da classe média-alta, mas apesar das diferenças entre nós ela nunca tratou-me de forma diferente.E uma das coisas que eu prezo, é quem não faz acepção de pessoas."
- Pensava que não vinhas mais! - Disse Andreia, encostada ao portão da escola.
- Claro que vinha, achas o quê? Última semana de aulas nessa escola, eu iria perder? Só que não né!"Trrrimm... o sinal tocou interrompendo a nossa mini-conversa, eu e a Andreia seguimos para os cacifos, o corredor estava muito movimentado, jovens de todas as idades passavam por nós, alguns falavam alto, os putos corriam e empurravam, a maioria estava eufórico. Pois era a última semana de aulas.
Comecei a tirar o meu livro de biologia quando de repente vejo o grupinho dos populares, 3 meninas e 4 rapazes, eu fiquei encostada no cacifo a espera que eles passassem.
Não queria ficar à frente deles, já sei que iriam cochichar sobre a minha roupa ou rir do meu cabelo.Foi então que eles começaram a aproximar, parecia em câmera lenta (tal e qual aos filmes adolescentes americanos) as 3 meninas cumprimentam a Andreia e para mim como sempre olharam com olhar de desdém, de cima a baixo, analisando as minhas medidas... eu ouvi um dos rapazes a gritar "Essa preta é esquisita! Olha o tamanho do nariz... parece um macaco!" E todos começaram a rir, excepto um dos rapazes do grupo, o Felipe.
(Aquelas palavras parecendo que não magoavam, que culpa tenho eu de ter feições africanas? Às vezes no meu quarto eu me debatia com Deus e pedia para que mudasse a minha cor... o facto de ser odiada devido à minha aparência me deixava frustrada, e eu só queria livrar-me daquilo)
Felipe era o único dos populares que não se ria de mim, mas também não me defendia, ele apenas observava ou fingia que não estava lá.
Deixei os bastardos passarem, toda a gente no corredor ficou a olhar para mim, passado 30 segundos o corredor voltou a agitação novamente.
A Andreia não me defendia, mas dava para ver que ela não estava confortável com a forma que a maioria dos alunos me tratavam... mas vá, eu fingia que estava nem ai é ela também..."
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Negra de Corpo e Alma
ChickLitLeonor é uma menina portuguesa descendente de africanos (São Tomé e Príncipe) que passa por dificuldades por ser negra e com isso a sua auto-estima vai abaixo. Ela sente-se sozinha, deslocada e até mesmo acha impossível encontrar o amor da sua vida...