Capítulo 2 - Um encontro inesperado

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Depois que Mila soltou aquela hipótese fiquei pensando naquilo. Quem poderia ser? O recado do rei não dizia nada sobre visitantes em aulas de preparação física de disformes. Eu ainda estava no meio de meus pensamentos quando Axel me chamou. Virei a cabeça em sua direção e segui com os olhos até o lugar que ele apontava. Vi o professor Shay na entrada do centro de treinamento conversando com uma inspetora. Os dois pareciam calmos e de vez em quando ela olhava para dentro da quadra para checar se não estávamos aprontando. Após alguns minutos, os alunos já haviam parado de correr e terminavam de se alongar. A inspetora respondeu um chamado no velho walk talk e correu para longe. O professor Shay se virou e fitou todos com os olhos cerrados. Parecia julgar cada um de nós.

— Todos em fila! — mandou ele.

Dessa vez ninguém quis contestar a ordem do professor. Rapidamente nos levantamos e nos organizamos de modo a formar a fila que ele havia ordenado. Nenhum de nós sabia o que estava por vir, a não ser o próprio Sr. Shay, por isso trocávamos olhares de apreensão.

— Vocês sabem o que vamos fazer hoje? — ele fez uma pergunta retórica. — Não, não sabem. Bom, hoje teremos algumas pessoas ilustres conosco. Eles aprenderão junto com vocês como se portar numa situação perigosa na floresta.

Começamos a murmurar e reclamar. Perigo e floresta juntos era muito pior do que o tal de parkour. Era tipo uma aula de parkour avançado. Como eu poderia fazer isso se nem a aula básica eu tinha feito ainda?

— Quietos! A escolha não foi minha, não ousem me culpar. Se desejam reclamar, reclamem com o Rei Edwig Hughes, se é que ousariam. — ele riu e esperou até que tudo ficasse em silêncio. — Ótimo. Sigam-me.

Seguimos o professor pelo instituto. Saímos do centro de treinamento, passamos pelo hall de entrada e fomos até o portão principal, que estava fechado. Ouvi passos rápidos vindo. Olhei de canto de olho e vi a mesma inspetora que estava conversando com o Sr. Shay correndo em nossa direção e pegando as chaves de dentro do bolso de sua calça. Abrimos espaço para que ela passasse. Ela foi até o professor e sussurrou algo. Ele assentiu com a cabeça.

— Vamos entrar no ônibus que está nos esperando aqui fora e seguiremos até a floresta. Lá conhecerão nossos convidados. — disse o Sr. Shay.

Ergui minha mão, e esperei até que ele a visse levantada.

— Diga, Sylvie.

— Posso avisar minha mãe? — perguntei. Não queria deixá-la preocupada.

— Ah, sim. Esqueci de avisar... Seus pais serão avisados em seus trabalhos. — ele explicou. — Parece que a única que realmente se preocupa com a sanidade mental de seus pais é você, Sylvie.

A monitora, que estava com o molho de chaves nas mãos, catou a maior das chaves e a encaixou no cadeado. Girou a chave até que se ouviu um estalo. Ela tirou o cadeado e empurrou um dos lados do portão. O Sr. Shay saiu e à medida que avançamos, vi do lado de fora um ônibus novinho, muito diferente dos que transitavam pela vila. Era azul marinho, tinha uma faixa dourada na lateral e lia-se "Metropolitano" em letras garrafais. Pelo jeito vinha de longe, a metrópole, Dalisea, ficava a seis horas de viagem de Vila D'aurora. Meus colegas fizeram uma fila na porta do ônibus enquanto o professor conversava com o motorista. Os dois nos apressaram, dizendo que estávamos atrasados. Entramos no ônibus. Assim que a porta se fechou o motorista pisou fundo e partimos.

A Disforme - O legado da Ira [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora