♡Capítulo 4♡

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- Calma, não grita. Eu não vou te fazer nenhum mal.

Envolta do livro um brilho sutil começou a aparecer e o espaço antes ocupado pelo ar foi se transformando em um garoto.

Fechei a boca.

Sei que deveria continuar gritando, tinha um fantasma bem na minha frente, mas era o fantasma mais lindo que vi na vida - Não que eu já tivesse visto outros.

Ele tinha olhos azuis encantadores, cabelos castanhos quase loiros e lábios rosados.

Era parecido com um anjo e me transmitia um sentimento estranhamente bom.
Levei a mão até o peito sentindo as batidas descompassadas do meu coração.

- Pode confiar em mim Ingrid. - Ele falou dando um passo em minha direção.

- Aí Meu Deus...Não chega perto! - Levantei minhas mãos para ele notar que eu estava falando muito sério. - Como você sabe meu nome?

- Eu tenho estado com você. Sei seu nome, endereço, quem é seu namorado, qual é a aula que mais odeia aqui no colégio..

- Pode parando! Além de fantasma, você ainda é um perseguidor, um psicopata?- Perguntei incrédula.

Isso é muita loucura.

- Ingrid, está tudo bem por aqui? Estava falando com quem? - Sandro apareceu de repente e passou pelo garoto fantasma.

Passou dentro dele. Isso foi meio assustador.

- Não se preocupe, ele não pode me ver, nem me escutar! - Disse o fantasma fazendo caras e bocas em frente ao rosto do meu professor.

- Está tudo bem Sandro. - Respondi não sabendo pra qual dos dois olhar.

- Ok. Deixei um lanche pra você lá na frente. Qualquer dúvida estou na sala dos professores. - Ele falou me olhando demoradamente.

Tentei sorrir pra mostrar que estava tudo bem, mesmo que de fato não estivesse.
Pensei em pedir sua ajuda, mas não adiantaria nada contar o que estava acontecendo. Ele não o enxergou, e não notou nada além de mim. No fim, só iria achar que sou uma louca desvairada.

- Ok, obrigada!

Depois de mais um dos meus sorrisos tranquilizadores, ele foi embora.
Suspirei e apoiei a cabeça na prateleira.
Muita loucura para um dia só.

- Você deveria ir lanchar. A última coisa que comeu foi aquele sanduíche horroroso que seu namorado fez. - Ele riu e eu o encarei.

Não acredito que ele estava até na casa do Gabo. Será que ele viu eu e meu namorado fazendo...? Ah Não. Espero que não.

- Você está me deixando assustada. - Falei e sai andando.

Eu realmente precisava comer alguma coisa.

- Eu não quero te deixar assustada.

O fantasma apareceu bem em minha frente, fazendo meu coração disparar.

- Não é o que parece. Eu só vou ficar calma quando me explicar o que está acontecendo. Me diz seu nome e também porquê eu estou vendo um fantasma... - Falei de uma vez só tudo o que me afligia.

- Primeiro, eu não sou um fantasma. Segundo, o que está acontecendo é meio louco e complicado.

- Louco é uma ótima definição. - O cortei continuando meu trajeto.

- É, eu concordo...Mas terceiro e último, sou o Theo. Prazer. - Estendeu a mão com um sorriso fofo no rosto.

Encarei seus dedos levemente transparentes. O medo e o susto inicial estavam passando, dando lugar a um sentimento estranho.

E como disse antes, um sentimento estranhamente bom.

De forma cautelosa levantei minha mão que se acomodou perfeitamente na dele.

- Porque minha mão não atravessou a sua? - Perguntei confusa.

- Porque eu quis muito sentir sua mão. Mas não tenho certeza. Ainda não consigo entender bem essa parada de fantasma. - Colocou as mãos casualmente nos bolsos da calça jeans.

- Eii, você tinha dito que não era fantasma.

- Tecnicamente não sou. Eu não morri... ainda. Vou te explicar tudo direitinho. Primeiro quero que se alimente. - Sorriu e apontou para a mesa onde estava uma bandeja.

Me sentei na cadeira giratória de Dona Gilda e fui até o lanche, enquanto Theo ficou sentado sobre uma estante me olhando atentamente.

- Que foi? Quer um pedaço? - Perguntei oferecendo minha maçã.

- Não. Valeu. Essa minha atual versão não precisa de alimento. - Ele sorriu balançando a cabeça.

- Ah, é verdade. Esqueci que você é um fantasma... Aliás que tal começar a me contar como tudo isso começou?

- Resumindo: Eu sofri um acidente e quando acordei já estava assim.

- Não quero resumo. Me conta direito a história, e como eu entro nela também.

- Quando eu acordei no hospital vi que estava dessa forma, e meu corpo estava bem ao lado ligado a diversos aparelhos. Pelos hematomas, imaginei e tive breve lembranças do acidente. Toquei no meu braço tentando entender como isso é possível, mas então fui tele transportado até seu quarto. Eu tentei me afastar e voltar ao hospital, mas o máximo que conseguia era ficar tipo, uns cinco metros longe de você. - Levantou-se do lugar onde estava e foi para perto da janela.

Não acredito que vou ficar com um fantasma em meu encalço. Mas a história não fazia sentido algum. Porque justamente eu?

- E você não sabe porque foi parar no meu quarto? - Me levantei indo até ele.

Me posicionei atrás de suas costas. Mais próxima do que o recomendável, e bem, eu não sei porque fiz isso, mas parecia que ele emanava uma energia boa e isso me atraia.

Theo se virou e percebeu que eu estava muito próxima. E do nada resolveu não passar ao meu lado, mas passar por dentro de mim.

Não doeu nem nada, só senti um formigamento, mas foi assustador ver um cara atravessando meu corpo.

- Sério. Nunca mais faça isso, escutou? - Falei com raiva.

- Ok, foi mal. E realmente não sei como fui parar justo no seu quarto.

- Tenho mais uma pergunta. - Na verdade eu tinha várias só não ia fazê - las todas de uma vez. - Você me viu trocando de roupa?

Ele deu um sorriso meio de lado.

- Eu fechei meus olhos em quase todas as vezes.

- Em quase todas?

- É brincadeira Ingrid. Não sou um cafajeste, nem um cara mal e nem nada do tipo.

Seus olhos azuis me diziam o mesmo que seus lábios rosados. Ele não era um cara mal.
E é por isso que resolvi que não vou pirar porque estou interagindo de forma natural com um fantasma.

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