- Calma, não grita. Eu não vou te fazer nenhum mal.
Envolta do livro um brilho sutil começou a aparecer e o espaço antes ocupado pelo ar foi se transformando em um garoto.
Fechei a boca.
Sei que deveria continuar gritando, tinha um fantasma bem na minha frente, mas era o fantasma mais lindo que vi na vida - Não que eu já tivesse visto outros.
Ele tinha olhos azuis encantadores, cabelos castanhos quase loiros e lábios rosados.
Era parecido com um anjo e me transmitia um sentimento estranhamente bom.
Levei a mão até o peito sentindo as batidas descompassadas do meu coração.- Pode confiar em mim Ingrid. - Ele falou dando um passo em minha direção.
- Aí Meu Deus...Não chega perto! - Levantei minhas mãos para ele notar que eu estava falando muito sério. - Como você sabe meu nome?
- Eu tenho estado com você. Sei seu nome, endereço, quem é seu namorado, qual é a aula que mais odeia aqui no colégio..
- Pode parando! Além de fantasma, você ainda é um perseguidor, um psicopata?- Perguntei incrédula.
Isso é muita loucura.
- Ingrid, está tudo bem por aqui? Estava falando com quem? - Sandro apareceu de repente e passou pelo garoto fantasma.
Passou dentro dele. Isso foi meio assustador.
- Não se preocupe, ele não pode me ver, nem me escutar! - Disse o fantasma fazendo caras e bocas em frente ao rosto do meu professor.
- Está tudo bem Sandro. - Respondi não sabendo pra qual dos dois olhar.
- Ok. Deixei um lanche pra você lá na frente. Qualquer dúvida estou na sala dos professores. - Ele falou me olhando demoradamente.
Tentei sorrir pra mostrar que estava tudo bem, mesmo que de fato não estivesse.
Pensei em pedir sua ajuda, mas não adiantaria nada contar o que estava acontecendo. Ele não o enxergou, e não notou nada além de mim. No fim, só iria achar que sou uma louca desvairada.- Ok, obrigada!
Depois de mais um dos meus sorrisos tranquilizadores, ele foi embora.
Suspirei e apoiei a cabeça na prateleira.
Muita loucura para um dia só.- Você deveria ir lanchar. A última coisa que comeu foi aquele sanduíche horroroso que seu namorado fez. - Ele riu e eu o encarei.
Não acredito que ele estava até na casa do Gabo. Será que ele viu eu e meu namorado fazendo...? Ah Não. Espero que não.
- Você está me deixando assustada. - Falei e sai andando.
Eu realmente precisava comer alguma coisa.
- Eu não quero te deixar assustada.
O fantasma apareceu bem em minha frente, fazendo meu coração disparar.
- Não é o que parece. Eu só vou ficar calma quando me explicar o que está acontecendo. Me diz seu nome e também porquê eu estou vendo um fantasma... - Falei de uma vez só tudo o que me afligia.
- Primeiro, eu não sou um fantasma. Segundo, o que está acontecendo é meio louco e complicado.
- Louco é uma ótima definição. - O cortei continuando meu trajeto.
- É, eu concordo...Mas terceiro e último, sou o Theo. Prazer. - Estendeu a mão com um sorriso fofo no rosto.
Encarei seus dedos levemente transparentes. O medo e o susto inicial estavam passando, dando lugar a um sentimento estranho.
E como disse antes, um sentimento estranhamente bom.
De forma cautelosa levantei minha mão que se acomodou perfeitamente na dele.
- Porque minha mão não atravessou a sua? - Perguntei confusa.
- Porque eu quis muito sentir sua mão. Mas não tenho certeza. Ainda não consigo entender bem essa parada de fantasma. - Colocou as mãos casualmente nos bolsos da calça jeans.
- Eii, você tinha dito que não era fantasma.
- Tecnicamente não sou. Eu não morri... ainda. Vou te explicar tudo direitinho. Primeiro quero que se alimente. - Sorriu e apontou para a mesa onde estava uma bandeja.
Me sentei na cadeira giratória de Dona Gilda e fui até o lanche, enquanto Theo ficou sentado sobre uma estante me olhando atentamente.
- Que foi? Quer um pedaço? - Perguntei oferecendo minha maçã.
- Não. Valeu. Essa minha atual versão não precisa de alimento. - Ele sorriu balançando a cabeça.
- Ah, é verdade. Esqueci que você é um fantasma... Aliás que tal começar a me contar como tudo isso começou?
- Resumindo: Eu sofri um acidente e quando acordei já estava assim.
- Não quero resumo. Me conta direito a história, e como eu entro nela também.
- Quando eu acordei no hospital vi que estava dessa forma, e meu corpo estava bem ao lado ligado a diversos aparelhos. Pelos hematomas, imaginei e tive breve lembranças do acidente. Toquei no meu braço tentando entender como isso é possível, mas então fui tele transportado até seu quarto. Eu tentei me afastar e voltar ao hospital, mas o máximo que conseguia era ficar tipo, uns cinco metros longe de você. - Levantou-se do lugar onde estava e foi para perto da janela.
Não acredito que vou ficar com um fantasma em meu encalço. Mas a história não fazia sentido algum. Porque justamente eu?
- E você não sabe porque foi parar no meu quarto? - Me levantei indo até ele.
Me posicionei atrás de suas costas. Mais próxima do que o recomendável, e bem, eu não sei porque fiz isso, mas parecia que ele emanava uma energia boa e isso me atraia.
Theo se virou e percebeu que eu estava muito próxima. E do nada resolveu não passar ao meu lado, mas passar por dentro de mim.
Não doeu nem nada, só senti um formigamento, mas foi assustador ver um cara atravessando meu corpo.
- Sério. Nunca mais faça isso, escutou? - Falei com raiva.
- Ok, foi mal. E realmente não sei como fui parar justo no seu quarto.
- Tenho mais uma pergunta. - Na verdade eu tinha várias só não ia fazê - las todas de uma vez. - Você me viu trocando de roupa?
Ele deu um sorriso meio de lado.
- Eu fechei meus olhos em quase todas as vezes.
- Em quase todas?
- É brincadeira Ingrid. Não sou um cafajeste, nem um cara mal e nem nada do tipo.
Seus olhos azuis me diziam o mesmo que seus lábios rosados. Ele não era um cara mal.
E é por isso que resolvi que não vou pirar porque estou interagindo de forma natural com um fantasma.
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Coisa De Destino
Fiksi RemajaUm acidente Um fantasma Uma garota problemática e Um amor improvável Elementos bons o suficiente para te fazer ler "Coisa de Destino".