A noite estava fria e chuvosa, mas isso não importava. A mensagem tinha chegado no seu celular uns 7 minutos atrás, sabia que teria que agir rápido para não ter impactos. Gostava muito do seu trabalho, para ele, essa era a parte mais importante na vida de qualquer um. Não era o nascimento, afinal ninguém se lembra do próprio nascimento, não eram conquistas tolas que não seriam levadas para todo o sempre, mas o melhor, o mais importante, o que todos temiam e acreditavam, era a morte. Afinal, somente uma coisa que todos tinham certeza da vida, a certeza de que um dia iriam morrer, e poder proporcionar a morte para as pessoas era encantador, mas o melhor de tudo era o olhar.
O olhar da pessoa, essa era a melhor parte. A forma com que a pessoa encarava, a mistura de sentimentos, a dúvida, confusão e depois o entendimento e paz. Como as pessoas podiam ser tão previsíveis e iguais na hora da morte? Primeiro ficavam confusas, rejeitavam que estavam morrendo, depois entendiam, aceitavam e sentiam a paz, era belo e consolador.
Devagar vinha um carro ao longe, era quase 23hrs, e para a morte de Marcos faltavam apenas 13 minutos.
Marcos estava terminando de fechar o posto de gasolina que trabalhava na beira da estrada, como esse horário era de pouco fluxo, trabalhava sozinho. Viu de longe o carro parando perto da bomba de combustível e pensou:
- Droga, faltam só 4 minutos para fechar e o cara vem abastecer. – Se forçou a colocar um sorriso no rosto e foi até o lado do motorista no carro, não podia ser mal educado, não podia ter outra reclamação do seu trabalho senão seu chefe iria demiti-lo.
O carro que tinha acabado de parar era uma caminhonete preta, os vidros estavam fechados mais foi possível ver que existia somente uma pessoa dentro do carro, o motorista, e esse não desceu por causa da chuva.
- Boa noite.
- Boa noite, pode completar? Na gasolina.
- Claro, sem problemas. – Respondeu Marcos ao homem pegando sua chave.
Logo terminou, ou seja, o carro estava com o tanque quase cheio, olhou o marcador e mostrava 8 reais, foi até o motorista que lhe entregou uma nota de 20 e deu partida no carro falando:
- Obrigado, boa noite. Pode ficar com o troco. – E foi embora.
- Que cara estranho! Vem aqui para completar o tanque com ele já cheio, perto do horário de fechar e ainda me dá mais do que o dobro do valor.
Ainda indignado foi apagando as luzes para que não chegasse nenhum outro cliente, ao terminar foi caminhando pela lateral do posto até o seu carro, a chuva incomodava e a pouca luz e dificultava a sua visão, mas sabia exatamente o caminho, afinal fazia isso todos os dias há meses.
Seu carro era um corsa antigo, mesmo sendo um carro velho lhe ajudava muito a ir do trabalho até em casa, ainda mais nesse horário ruim que trabalhava.
Ao chegar perto do carro sentiu como se não estivesse sozinho, como se tivesse alguém observando, olhou para os lados, mas não viu ninguém, também estava muito escuro e seus olhos ainda não tinham se acostumado com a mudança da luz.
Abriu o carro e entrou, trancando a porta pelo lado de dentro, seu coração batia forte e de dentro do carro não era possível ver nada do lado de fora, a chuva piorou de repente não ajudando muito na sua visão, como não estacionava em um local coberto os vidros estavam todos encharcados. Respirou fundo, morria de medo de assaltos, sabia como era frequente assaltos em postos de gasolina ainda mais nesse horário, porém não podia se dar ao luxo de deixar de trabalhar, não arrumou nenhum outro emprego e com esse pelo menos conseguia comprar as coisas para casa.
Assim que se acalmou deu partida no carro, porém esse estranhamente não pegou.
- Só me faltava essa agora!
Criou coragem, saiu do carro e abriu o capô, vendo se tinha algo que poderia fazer.
Aquele que observava tudo de longe pensou – A hora é agora. - Saiu da sombra que estava escondido e protegido da chuva, levantou o capuz do moletom e foi andando até o carro, o coração batendo forte, era possível ouvir seus passos e o bater do seu coração ao mesmo tempo, como se fosse um alarme.
Marcos percebendo que alguém se aproximava olhou para cima, mas já era tarde demais, o seu assassino estava a menos de 3 metros de distância, já com o revolver apontando para a sua cabeça, foi possível somente ver o rosto do seu agressor, era aquele mesmo cliente que a pouco tinha completado o tanque, e em uma fração de segundos um clarão dominou sua visão e foi possível ouvir o tiro ecoando.
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A próxima fase - A guerra dos anjos
FantasyCOMPLETO - Lilian escreve todos os dias para uma coluna de relacionamentos de um jornal local. Sem entender o sentido da sua vida, não tem perspectivas para o futuro. Até que em uma ma-nhã seu mundo muda completamente, se depara com Fátima, uma mend...