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Cheguei em casa arrasada com o que tinha presenciado. E quando entrei no meu quarto batendo a porta atrás de mim, agradeci a Deus pelo meu pai não estar em casa. Não queria que ele me visse devastada daquele jeito.

Eu já tinha gostado de outros garotos antes, mas nunca na minha nova versão. Nunca tinha conseguido baixar a guarda para alguém agora. Não com tudo que tinha mudado dentro de mim, mas por algum motivo os quase dois metros de Nathan tinham me feito abrir uma exceção e eu já me sentia arrependida daquilo.
Não conseguia entender porque ele tinha feito aquela cena no banheiro, se não se importava de verdade comigo. Na verdade eu sabia, ele tinha feito aquilo porque era igual a todos aqueles que me manterão longe por tanto tempo. Nathan era um garoto como qualquer outro e aquilo não devia me surpreender.

Não conseguia não sentir raiva, mas não dele, só de mim. Eu não deveria me importar, mas me importava.

Fui até a geladeira e empinei a garrafa de vodca que o meu pai guardava escondida lá. Ele achava que eu não sabia do seu esconderijo, mas a verdade é que eu sempre tomava alguns goles quando a situação exigia. E se eu continuasse daquele jeito ia me tornar alcoólatra antes que ele percebesse que eu tinha tomado toda a sua garrafa secreta.
Às vezes eu bebia sozinha em algum bar qualquer, já tinha idade para aquilo. Mentira, mas a minha carteira de identidade falsa dizia que sim.

Depois que senti o álcool balançar meus neurônios entrei no chuveiro. Eu não tinha muito tempo para me arrumar, restava apenas meia hora antes de Agnes me levar para o ultimo lugar onde queria estar.
Meu humor estava péssimo, e tudo que eu queria era deitar e acabar logo com aquele dia. Mas eu conhecia muito bem Harry para ignorar as suas ameaças.

Trinta e cinco minutos depois Agnes bateu na porta do meu apartamento. O porteiro devia ter sido subornado, ou não estava fazendo o seu trabalho direito, já que ele precisava ligar para os apartamentos para pedir autorização antes de deixar alguém entrar. Maldito Harry, ele nunca esquecia os detalhes.

Abri a porta para uma Agnes bem produzida e sorridente.

-Pronta para a festa?- disse ela animada quando eu olhei para ela. Mas então seu olhar desceu para a minha roupa e sua boca cedeu um pouco. Qual era o problema com a minha roupa?

-O que foi?- perguntei num tom mais irritado do que inseguro.

Ela voltou a olhar para mim e depois sorriu.

-Você esta incrível.- disse ela.

Eu tinha ignorado de proposito o fato de Harry querer me ver de vestido. Tinha colocado uma camisa regata, cavada nos lados o suficiente para mostrar o meu belo sutiã preto de renda, mas comprida o bastante para esconder minha bunda e parte das pernas. A blusa em si era mais reveladora do que seria um vestido, mas a meia calça desfiada cobria o que ele queria ver a mostra. A questão não era me cobrir, mas sim não obedecer às regras dele.
As minhas botas de cano curto e a minha jaqueta de couro, caiam bem com a língua do Rollings Stones estampada na minha camisa, assim como o cordão preto amarrado no meu pescoço e a maquiagem carregada no estilo selvagem. Nem tinha me prestado a pentear os cabelos, só havia sacudido a cabeça em todas as direções para tirar o excesso de agua e deixa-lo com um ar mais feroz. Mesmo tendo me arrumado rápido, e sem muito cuidado para os mínimos detalhes, sabia que estava sexy no meu estilo de ser. O objetivo tinha sido alcançado.

-Vamos antes que eu mude de ideia. – foi tudo que eu disse a Agnes antes que partíssemos para a tal festa.

Já estávamos quase chegando na mansão onde Harry morava quando Agnes parou de falar. Ela estava empolgada de mais por estar saindo comigo, feliz por finalmente estarmos estabelecendo contato por mais de dez minutos. Eu já tinha parado de pensar em Nathan, já tinha esquecido a cena da boca dele na de Mag com ajuda da vodca. E se a bebida tinha o poder de me fazer deixar algo irritante para lá, imagina o poder que ela dava para me fazer dialogar com Agnes.
No caminho de vinte minutos até a casa de Harry descobri que Agnes era mais legal do que parecia. Ela gostava das mesmas musicas que eu, ria pelas mesmas piadas que eu fazia internamente e odiava mais pessoas do que eu podia imaginar.

-Porque você deixa eles fazerem isso com você?- me obriguei a perguntar quando percebi que ela era muito mais do que eu conseguia ver.

-Contatos.- disse ela sem tirar os olhos da estrada.

Uma ruga surgiu entre as minhas sobrancelhas.

-Como assim?- perguntei intrigada.

Ela sorriu sem olhar para mim e depois olhou na minha direção.

-Você estuda há quase um ano comigo e não sabe o que eu faço não é?- disse ela com um sorriso contido, desconfiava que ela também já tivesse bebido antes de me pegar, pelas caras engraçadas que fazia. Quando me viu confirmar o que ela suspeitava continuou.- Quero ser escritora Mcgregor, e isso não é muito fácil de conseguir sem ter contatos.

Ergui só uma sobrancelha.

-E não seria mais fácil você ganhar a vida só com o seu trabalho?- não fazia sentido para mim.

-Não nesse ramo.- disse ela. Depois revirou os olhos e dobrou a esquina por onde deveríamos seguir. Assim que o sinal vermelho apareceu no semáforo ela olhou para mim para explicar melhor o que queria dizia.- Não pense que é prazeroso ser o bobo da corte sempre, mas meus objetivos de vida são mais importante que qualquer coisa. E se pra conseguir prestigio e me sustentar como escritora eu precisar bajular um bando de babacas vou fazer sem nem pensar. Harry tem contatos e mais de uma vez prometeu me ajudar assim que se formar.

-E como você pode ter certeza que ele vai cumprir essa promessa?- perguntei impressionada com o que ela dizia.

-Porque eu confio nele. – disse ela suspirando.- Sei que ele não é de confiança quando o assunto é mulher, mas se trabalho como estagiaria numa revista hoje é graças a ele. E vou fazer o que for para manter minha posição, até mesmo aguentar a babaquice daquelas garotas interesseiras e plastificadas.

Estava completamente enganada com Agnes, ela era uma pessoa muito melhor do que eu. Era esperta de uma forma que eu jamais conseguiria ser. E naquele segundo fui obrigada a deixar as barreiras caírem, talvez eu tivesse muito a aprender com ela afinal das contas.

Olhei para a frente, ignorando o seu olhar. Depois deixei um sorriso cumplice se esparramar nos meus lábios.

-Sem querer ofender, mas você é tão interesseira quanto elas.- disse num tom debochado, mas não como na maioria das vezes, daquela vez era meu lado amigável brincando. Talvez por ajuda da vodca, ou quem sabe por que havia descoberto que eu e a Agnes poderíamos enfim ser amigas.- A única coisa que separa você delas é 300mls de silicone.

Ela soqueou meu braço de brincadeira e depois nós duas caímos na gargalhada. E vendo a cena de fora nem eu me reconheceria naquele momento. Mas sou obrigada a confessar que me sentia bem pela primeira vez em muito tempo.

Entramos na rua que levava até os portões da mansão dos Collins e foi impossível não me impressionar com o que via. Já tinha ido lá em outra ocasião, quando meu pai precisou ir até lá de emergência, mas nunca como uma convidada. E muito menos quando o lugar estava tão bem decorado.
Não tentei disfarçar quando coloquei a cabeça para fora da janela para ver melhor as lanternas de papel penduradas nas arvores. Refletores de luzes coloridas iluminavam tudo, até mesmo parte do céu, do mesmo jeito que vemos nos estádios de futebol. Parecia que eu estava indo para uma festa da MTV e não uma festa de universitários.

-Você não sabia não é?- disse Agnes, me tirando do meu deslumbre.

-O que?- disse sem olhar para ela.

-Que era a festa de aniversário dele.

Olhei para Agnes com os olhos arregalados na minha melhor atuação, depois coloquei a mão no peito e fingi desespero. Ela só riu de mim e estacionou o carro na vaga para visitantes.

-Acho que gosto ainda mais da sua versão bêbada.- disse ela sorrindo ao sair do carro.

Desci junto com ela e bati a porta com mais força que o necessário. Não fiz de proposito, mas achei engraçado quando ela se encolheu, devia estar pensando que eu não tinha gostado do seu comentário, mas na verdade eram só meus dedos que estavam um pouco adormecidos para sentir a força desnecessária que faziam.

-Então espere para ver, nem comecei a beber ainda.- disse me aproximando dela e enganchando meu braço no seu. O que a pegou completamente desprevenida e que me fez cair na gargalhada outra vez.

Quase, sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora