Assuntos do passado

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Ema

Ema não se habituava com aqueles enormes vestidos. O que estava usando era Verde com as mangas prateadas. O espartilho não a deixava respirar direito. Estava muito apertado. Abbie dizia que preferiria usar roupas masculinas do que aguentar aquele espartilho. Mas tinham que fazer tudo que a senhora mandasse. Senão acabariam na fogueira.
Quando Ema e Abbie chegaram, tudo que antes tinham havia virado poeira, menos as roupas. Elas ficaram observando o vilarejo que era o início de DarkWoods quando uma senhora veio ao encontro delas. Era mais velha mas muito bem vestida.
- Uma bruxa. - Ela sorriu para Ema, deixando as duas assustadas. - Nao tenha medo. Me sigam se querem viver, DarkWoods não é um lugar seguro para bruxas.
Elas andaram meio escondidas na floresta para não repararem em suas roupas enquanto a mulher as guiava por uma trilha. Ela usava roupas negras e um véu da mesma cor na cabeça. Chegaram a um grande casarão de pedra escondido entre as árvores. Elas entraram e descobriram tudo. Abbie não confiava na mulher de jeito nenhum. Ela lhes disse que era uma bruxa e Abbie já desconfiou ainda mais.
- Disse que DarkWoods não era seguro para bruxas, mas diz ser uma. - Abbie disse.
- Bruxas que não sabem disfarçar seu dom, criança. - Disse a senhora. Seu nome era Maviza Silvern. Era viúva de um grande senhor que morreu em uma caçada. Sua casa era abarrotada de escravos. Ema não gostou nada disso. Parecia que foi engolhida pelo livro de história. Tiveram que acreditar na mulher. Não tinham a onde ir. Ela disse que iria ajuda-las. Colocou as duas em um quarto. Disse a elas que a cidade era dominada por caçadores. Se elas se mantivessem na linha como ela, sobreviveriam. Maviza não perguntara nada sobre as roupas. Quando Ema tentou explicar que viera do futuro, Maviza a silenciou com um gesto.
- Não pode dizer nada sobre o futuro. - Maviza tinha a voz severa quando queria. - Sei de tudo que preciso saber sobre vocês. As cartas me disseram tudo. Sugiro que troquem de roupa e façam tudo que eu disser.
Assim foi por uma semana. Ficaram praticamente presas no quarto. Abbie sempre dizia que era uma armadilha, mas Ema via bondade em Maviza. E além do mais Maviza era uma bruxa sem clã. Não era tão forte quanto Ema. Isso era o que Ema pensava.
Ema se livrou dos pensamentos e olhou para a mulher que arrumava seu vestido. Ela era bonita, com uma pele negra reluzente. Usava um vestido branco simples.
- Não precisa. - Ema se afastou. - Eu arrumo sozinha.
- Esse é meu trabalho, senhora. - A mulher se ajoelhou novamente e arrumou o vestido embaixo. Ema sentia um aperto no coração. Não podia mudar a história. Uma batida na porta fez a mulher parar de arrumar seu vestido e abri-la. Abbie sorriu para a mulher e entrou. Usava um vestido amarelo igual ao de Ema e tambem andava com dificuldade por causa do espartilho e dos saltos.
- Maviza quer nos ver. - Abbie pegou no braço de Ema e a levou para o corredor. A escrava saiu pelo outro lado.
- Nao é certo... - Ema ia dizer como sempre dizia a Abbie.
- Já te disse isso, Ema. - Abbie a olhou nos olhos. - Até as bruxas do nosso tempo fazerem alguma coisa, temos que fazer tudo como se fôssemos desse tempo. Maviza disse.
Ema assentiu e acompanhou Abbie para a sala de estar. Maviza estava sentada no sofá com um vestido negro. Só usava Preto. Parecia nunca estar feliz. Sempre de luto. Ela se levantou quando as duas chegaram.
- Irão queimar uma bruxa hoje. - Maviza disse com calma. - Irão comigo. Esta na hora de dizer a todos que são minhas sobrinhas que vieram de Londres. Filhas da minha irma Penélope.
- Nao vamos fazer nada? - Ema disse sem se controlar. - Vão queimar uma igual a nós.
- E seremos nós depois de tentarmos ajudá-la. - Maviza olhou com severidade para Ema. - Concordei ajuda-las mas tem de ser do meu jeito.
Ema abaixou a cabeça. Maviza se aproximou dela e segurou sua mão direita. Colocou um anel de prata em seu dedo indicador.
- Isso irá disfarçar sua áurea. - Maviza colocou outro no dedo de Abbie.
- Nao sou bruxa.
- Mas tem a mesma áurea. - Maviza frizou os olhos para ela. - Ainda não entendo isso. Vamos.
As duas seguiram Maviza. Pegaram uma carruagem. Ema achou idiota porque o vilarejo era muito próximo. Chegando la, Ema reparou da janela uma aglomeração na Praça Central. Onde antes havia apenas um palco. Estava um monte de lenha, com um grande toco em cima. Ema sentiu o estômago embrulhar e quase vomitou o café. Iriam queimar uma pessoa. E ela não podia fazer nada. Maviza desceu e as duas a seguiram. Elas ficaram uma de cada lado de Maviza. Perto da multidão.
- Sra Silvern. - Um homem se aproximou das três. Era bonito. Não. Era lindo. Tinha os cabelos lisos até os ombros. Uma barba por fazer e usava roupas muito bonitas e ricas. Ele beijou a mão direita de Maviza e sorriu para ela - Apesar de tudo, fica muito bonita em seu eterno luto. Que Henric descanse em paz.
- É sempre muito gentil Frederick. - Maviza sorriu para ela e apontou para Abbie e Ema. - Creio que não conhece minhas sobrinhas. Esta é Abigail.
Abbie a olhou enquanto Frederick beijava sua mão. Abbie odiava seu nome completo. - E essa é Ema.
Frederick tinha as mãos suaves. Ema sorriu quando ele a encarou.
- É um enorme prazer conhece-las. - Frederick sorriu. - São de onde?
- Londres. - Maviza se apressou a dizer. - Estão muito ansiosas para verem a bruxa queimar.
- Creio que não tenha tanto isso em Londres. - Frederick disse olhando Ema. - Nao é?
- É... - Ema corou. - Verei pela primeira vez isso.
- Ah... - Frederick sorriu. - Essas servas do diabo parecem atraídas por DarkWoods. É sempre um prazer quando a irmandade as caça.
- Irmandade? - Abbie perguntou. Maviza a encarou.
- A irmandade dos matadores de bruxas. - Frederick respondeu. - São um...
As palavras de Frederick foram abafadas pelo barulho da multidão. Vários homens de preto seguravam uma mulher que se debatia e a levavam para o palco. Eles a amarraram no toco enquanto ela gritava.
- Eu amaldiçoo todos vocês seus desgraçados. - Ela gritava. Os cabelos negros estava sujos. - Vão para o inferno. Eu irei para junto do meu rei. O rei do inferno...
- Elas sempre gritam nessa língua esquisita. - Frederick balançou a cabeça.
Ema se arrepiou. Ela estava entendendo a língua que ela estava gritando. Abbie se aproximou e ficou ao seu lado.
- Por que estou entendendo tudo que ela fala? - Abbie cochichou baixo para Ema.
- Eu também estou entendendo. - Ema segurou o braço de Abbie quando eles jogaram um líquido nas toras de madeira e na mulher.
- Está mulher rejeitou o nosso Deus e se envolveu com o próprio Satã. - Um homem de Preto gritou alto para que a multidão ouvisse. - Que ele tenha piedade de sua alma possuída.
- Queime-a! - A multidão berrava. O homem fez o sinal da cruz e pegou um archote de um outro homem de Preto. Encostando levemente na madeira, começou a pegar fogo. Ema fechou os olhos ouvindo os gritos de terror da mulher.

DarkWoods - Livro dois Onde histórias criam vida. Descubra agora