As primordiais

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Ema

A luz do sol entrava pelas janelas da sala de jantar de Maviza. Ema movia o garfo de um lado para o outro no prato. Sem tocar nos ovos do café da manhã. Abbie a observava do seu lado.
- Tente comer. - Abbie tentava sem sucesso animar Ema todos os dias. - Já não basta essa coisa apertando minha cintura.
Ema sorriu forçadamente.
- E se... - Ema foi interrompida pela chegada de Maviza. Usava um vestido preto, quase igual ao que usava todos os dias. Se sentou na mesa e uma senhora veio servi-la. Ema virou os olhos para o lado. Disse a Maviza que não queria ser servida por nenhum escravo.
- Haverá um baile hoje a noite. - Maviza começou a comer aos poucos. - O Sr Frederick exige a presença de ambas. Especialmente de Ema.
Ema a encarou. Abbie não conseguiu segurar as palavras.
- Estamos perdidas no passado e sem nenhuma chance de voltar ao futuro e a senhora quer nos levar a um baile. - Abbie soltou uma gargalhada irônica. - Deve que já arrumou casamentos para mim e Ema. Sinceramente Maviza...
Maviza pegou uma faca com rapidez e lançou na direção de Abbie. Como em um instinto, Ema a agarrou. Não sabia que podia fazer isso.
- Esta louca? - Ema largou a faca. - Queria matar Abbie?
- Eu sabia que você ia parar a faca. - Maviza voltou a comer só com um garfo. - Isso se chama reflexo místico. Não utiliza magia externa, o que é bom para caçadores não nos acharem. Abbigail...
- Meu nome é...
- Seu nome é aquele que eu disser. - Maviza lançou um olhar severo a ela. - Acolhi vocês em minha casa, deixei que vivessem sobre meu teto com minha vida em risco e é assim que me agradecem? Devem fazer o que eu mando.
Abbie se levantou para sair quando a sala esfriou. Era um frio muito intenso. - Saia. - Maviza disse à escrava. Ela saiu imediatamente e Maviza se levantou. Quando as três olharam para um canto viram uma mulher. Os cabelos azulados e um vestido negro estilo rainha. Maviza se ajoelhou, Ema se ajoelhou mesmo sem saber como.
- Ema. - A mulher disse. - Tenho pouco tempo. Seu irmão diz para esperar enquanto ele arruma um meio para trazê-la de volta. Na verdade eu sei como, mas só vou ajudar quando os ares permitirem.
O frio passou e as duas se levantaram de novo.
- O que foi? - Abbie perguntou. - Por que se ajoelharam?
Maviza saiu correndo corredor a frente. Ema se virou para Abbie e explicou depois de respirar fundo.
- Então vamos voltar! - Abbie abraçou Ema. - Só não sabemos quando,  mas vamos.
Ema segurou Abbie com firmeza. Naquela terra desconhecida, ela era tudo para Ema.
- Sim. - Ema agarrou ainda mais em Abbie.
Maviza voltou com um enorme livro em mãos. Depositou ele em cima da mesa e o abriu. Folheou algumas folhas a parou em uma página. Tinha o desenho de uma linda mulher com cabelos azuis e vestido preto. Como aquela que viram.
- Descobriu quem é ela? - Ema perguntou se aproximando de Maviza com Abbie atrás.
- Auguratricis. - Maviza disse o nome que causou arrepios em Ema. - A primeira bruxa do mundo. Ela tinha outras duas irmãs. Veneficia e Immitis. Veneficia foi morta pelos próprios filhos e Immitis sumiu sem deixar rastros.
- É quanto a Augura não sei o que? - Abbie perguntou.
- Viajou por todo o mundo ensinando sobre a magia a várias mulheres. - Maviza lia com rapidez. - Quando foi ensinar o primeiro homem, foi encontrada por uma ordem de caça as bruxas. A lenda diz que ela antes de morrer lançou toda sua magia ao ar e disse que um homem a receberia e mudaria tudo.
- Parece que a lenda é verdadeira. - Ema ligou os pontos. - E esse homem é meu irmão.
- Nao quero saber nada sobre o futuro. - Maviza soava dura quando queria. - Esse livro é muito antigo e sempre pensei que fosse lendas mas... Depois que vi essa mulher...
- O que conta a história? - Ema se aproximou para ler melhor.
- Começa há muito tempo atrás... - Maviza começou a dizer. - Em uma época onde a magia ainda não existia.

Veneficia

Veneficia dava voltas para se ver no espelho. O coração resplandecia em felicidade pura. Hoje era o dia em que os grandes lordes visitariam o vilarejo e escolhiam esposas. Veneficia tinha uma certa certeza de que seria escolhida. Tinha uma beleza estonteante, seus cabelos negros desciam como cascata pelos ombros.
- Seu novo vestido faz sua aparência se tornar menos horrenda, querida irmã. - A irmã disse se sentando ao seu lado. Immitis era a irmã do meio e tinha os mesmos cabelos que Veneficia, mas tinha uma expressão mais velha e não era tão jovial.
- Eu acho que a cor combina comigo, irmã. - Veneficia sorriu para o seu reflexo. O vestido verde a fazia parecer uma princesa. - Tenho certeza que encantará os lordes.
- Isso é o que veremos. - Immitis lançou um olhar malicioso para ela. O vestido que usava era escarlate, o que combinava muito bem com sua maneira perversa de ser.
A porta se abriu e Auguratricis entrou sorrindo como nunca. Depois de ficarem órfãs, Auguratricis se tornou como uma mãe. Das três irmãs, ela era a mais velha e mais inteligente. Tudo que fazia era para o bem das irmãs.
- Se tudo der certo... - Auguratricis se sentou ao lado de Immitis, o vestido azul majestoso que sempre usava em ocasiões formais. - Veneficia vai laçar algum daqueles lordes e estaremos feitas.
Immitis deu uma risada irônica. Ela sabia fazer isso de melhor.
- Só pela beleza não se encanta um homem. - Immitis se levantou e se encaminhou para a porta. - Deve haver inteligência. Desculpe, Veneficia, mas é algo que não possui.
Veneficia se levantou mas ela ja havia saído.
- Nao se importe com o que ela diz. - Auguratricis se levantou e ajeitou seus cabelos. - Você consegue.
Ela sorriu para a irmã. Se não fosse por ela já teria estrangulado Immitis a muito tempo.
A noite chegou e com ela vieram os lordes. Todos se amontoaram na praça para vê-los chegar. Alguns vinham a cavalo e outros ostentavam grandes carruagens. Veneficia arregalou os olhos quando um lindo lorde ruivo a encarou. Ela sorriu e fez uma reverência, assim como todas as solteiras da vila fizeram.
A festa começou. Como sempre acontecia todos os anos, os lordes dançavam com todas as pretendentes. Veneficia dançou com o ruivo e voltou a ficar ao lado de Auguratricis.
- Onde está Immitis? - Auguratricis olhou a volta. O fogo das tochas noturnas faziam o ar ficar quente e aconchegante. Veneficia não queria se preocupar com a irmã. Uma mão agarrou seu braço e o de Auguratricis.
- Irmãs! - Immitis tinha no rosto uma expressão muito surpresa. - Por favor, venham comigo.
- Nao! - Veneficia olhou para Auguratricis. - Nao podemos sair daqui. Nao agora.
- Eu não chamaria se não fosse importante. - Immitis implorou. - Por favor.
Auguratricis olhou a irmã por um instante.
- Vamos.
- Nao pode estar falando sério. - Veneficia se afastou. - Immitis só quer estragar tudo.
- Immitis nunca pediu por favor. - Auguratricis segurou Veneficia pelo braço. - Deve ser algo muito importante.
Veneficia foi contra a sua vontade. Immitis as guiou pela floresta para um caminho de galhos que pareciam se agarrar ao vestido de Veneficia.
- Aqui. - Immitis apontou para um altar de pedra. Tinha vários símbolos entalhados na pedra escura. Vinhas cresciam a sua volta. - Eu senti chamar nossos nomes. Podem achar que sou louca, mas essa pedra nunca esteve aqui.
- Uma pedra? - Veneficia quase gritou de ódio. - Nos chamou aqui por causa de uma pedra e vozes da sua cabeça?
O chão tremeu. As três se encararam. A pedra vibrou. Era isso que fazia o chão tremer.
- Vamos sair daqui. - Veneficia disse se afastando, mas sentiu uma árvore às suas costas. As árvores estavam de movendo. Formaram uma parece por toda a volta de galhos e raízes. Veneficia sentiu vontade de desmaiar. A pedra rachou e três pedras flutuaram. Eram coloridas. Auguratricis as olhou.
- São da cor dos nossos vestidos. - Auguratricis reparou e Veneficia viu que era verdade. Uma pedra vermelha, uma azul e outra verde.
Immitis se aproximou da vermelha e esticou a mao para toca-la. A pedra se dissolveu em fumaça e entrou pelas narinas de Immitis tão rapidamente que quase deu para ver. Immitis desmaiou.
- Irmã! - Auguratricis se aproximou e a pedra azul virou poeira e entrou em seu nariz como a outra fizera com Immitis. Ela caiu no chão.
Veneficia tentou se afastar mas a o vento Verde veio em sua direção e ela perdeu os sentidos.

DarkWoods - Livro dois Onde histórias criam vida. Descubra agora