Pinceladas intrusas

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"Ah, se eu pudesse mata-lo", pensava Yago, às duas da madrugada, desenhando em sua mesa de desenho, com um copo de café encima. Sua única iluminação era uma vela que acendera. Enquanto desenhava, imaginava inúmeras maneiras de tê-lo ferido diferente.

- Você devia parar de pensar nisso - dizia Ghatta.

- Parar? Você viu o que fizeram com ele? - rebatia Est, com seus olhos avermelhados. No momento, sua cor era a mais intensa que a dos demais, e também ele era o maior.

Mas ele distraidamente desenhava, rabiscava aleatoriamente, pra ser preciso. Das 90% das vezes em que pegava numa caneta ou lápis, rabiscava. Seu caderno, por exemplo, era preenchido na maioria por eles.

trim! trim!

Pesadamente Yago abriu os olhos, não se deu conta de quando havia dormido, mas quando percebeu, já estava acordando. Ele desliga o despertador.

- Vocês nem ao menos desligam por mim! - dizia, mas ninguém respondeu. Se dera conta de que estava sozinho.

Quando percebeu seu desenho na mesa, viu aquele garoto que há um um dia atrás lhe lançara um ovo desenhado entre os rabiscos... percebeu a metade idêntica do seu rosto jogada no chão, sob uma poça de sangue... descrito a lápis. Seus braços estavam no chão, formando um "x", e a outra metade do rosto no cruzamento entre os braços.

"quando foi que fiz isso?", se perguntou, enquanto analisava o desenho. Que estranho...

- O que é isso? - perguntou sua irmã. Ela estava atrás dele.

Ele rapidamente escondeu o desenho.

- Nada! - respondeu - O que você quer comigo?

- Papai só mandou você se arrumar. Ele vai te matricular em outra escola, já que foi expulso da última.

"Bem, eu fiz aquilo enquanto dormia", pensava, enquanto esfregava seu cabelo no banheiro. Agora estava afivelando o cinto, abotoando sua camisa, com aquele constante pensamento. Até o momento, nenhum de seus amigos aparecera.

- Ontem a polícia capturou o assassino do empresário Anderson Ferreira, no metrô de São Paulo. Ele desejava fugir, segundo autoridades... - dizia a jornalista no noticiário da TV, enquanto Yago amarrava os cadaços de seu tênis.

"Eu certamente devo ter desenhado aquilo, afinal. é minha arte, e quem mais faria aquilo?" Dizia, e sua atenção foi atraído pelo noticiário.

- Urgente. Um estudante foi encontrado morto mutilado em seu próprio quarto. O curioso é que, segundo relatos, a porta estava fechada por dentro, inclusive as janelas. Para mais informações, o jornalista Manoel Barreto que está próximo a casa com a equipe de criminalística e a ambulância irá entrar em mais detalhes.

"Um estudante mutilado?", pensou Yago, abismado. Trêmulo, ele pegou o controle e aumentou o volume.

- Não tem ninguém surdo aqui! - gritou sua irmã, vinda da cozinha, incomodada com o barulho.

- Cala tua boca! - gritou ele, sempre com o olhar fixado na tv.

Enquanto isso, a repórter falava.

- Acabei de conversar com a equipe de criminalística, e eles afirmaram que nenhum rastro sequer foi encontrado. Nenhum sinal de arrombamento foi feito. E não foi encontrado lesões de defesa na vítima, porém, eles concluem que a vítima fora esquartejada viva nesta madrugada, porém nenhum dos vizinhos próximos escutaram gritos... Isso de fato é meio assustador, e parece que estamos presenciando a obra de algum assassino profissional, é o que a polícia conclui.

Enquanto passava o noticiário, a foto da vítima aparecida na tela. Sua irmã disse:

- Nossa, é aquele mesmo garotinha que você deixou cego de um olho...

Yago olhou para seu caderno de desenho. de onde foi feito aquele, não se sabe por quem. Isso era sinistro demais para ser verdade, quem sabe, não era mais um jogo da mente, uma ilusão de ótica...

Psicose CinzentaOnde histórias criam vida. Descubra agora