Capítulo 3

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Ao ver aquela cena, aquelas pessoas, uma sensação de nostalgia tomou conta de mim.

Meu pai estava com a mesma roupa que usava no dia em que nos deixou, o que me leva a crer de que parte da minha missão/prova envolva aquilo.

Mas o que eu deveria fazer? Estava totalmente confusa com tudo aquilo.

- Você terá que impedir que alguém nessa casa sofra futuramente por causa do ocorrido. - disse uma voz em minha cabeça. Antes que eu raciocinasse sobre algo, prosseguiu - Não se deixe enganar, este homem a sua frente deixou de ser seu pai há tempos. Ele foi tomado pela raiva e a vingança, e foi um dos vários motivos que levaram sua mãe a levar à aquela escolha.

Escolha? Que escolha?

Mas como essa pessoa que falava em minha mente sabia tanto sobre mim?
A resposta veio de imediato, como se ele ou ela lesse cada um dos meus pensamentos (o que na realidade eu não duvidava).

- Nós, Alexa, temos as informações sobre cada morador de Abeil desde o nascimento.

Ah, isso explicava muita coisa. A voz pareceu silenciar e eu me forcei a me concentrar na cena que se desenrolava em minha frente.

-Você realmente é uma tola em acreditar que vou poupar aquela sua filhinha, Ruth. - meu "pai" disse.

Ele parecia bem alheio a minha presença ali, talvez pelo fato de eu ser o mais silenciosa e discreta possível.
Ainda não havia descoberto o que teria de fazer ali então continuei a apenas ouvir aquele diálogo.

- Por favor, Liam, ela também é sua filha, você não pode fazer isso com ela. Comigo. Conosco. - minha mãe implorava, desesperada, aos pés do homem, ela estava com um vestido longo, e suas mãos estava protetoramente em sua barriga.

Reparei que ela estava com uma aparência diferente, mais nova talvez.

Observei também que podia se ver um volume se formando em sua barriga, abaixo de suas mãos. E foi ai que a realidade me atingiu em cheio: eu teria de impedir meu pai de cometer um crime. Ele faria com que minha mãe abortasse a mim.

Quando estava me preparando para interferir algo me interrompeu. Algo não, alguém.

Ao pé da porta se encontrava uma garotinha de não mais que 2 ou 3 anos que observava a cena que se desenrolava ali com certa confusão: era eu.

Os dois pareceram perceber a presença da garotinha e pararam a discussão. Minha mãe se dirigiu até ela e passou direto por mim, sem perceber minha presença no cômodo.

- Filha, eu e papai estamos conversando. Por que não vai para seu quarto e se dorme? Prometo que amanhã lhe levo para brincar no parque- a menina, com medo provavelmente, saiu correndo do quarto e logo sumiu, mas não sem antes parar e me lançar um breve olhar desesperado.

Então era isso, ela podia me ver, porém meus pais não. Mas por quê?

O reconhecimento me atingiu e percebi que minha missão não era nada mais do que impedir que aquela criança, no caso eu, visse o que estaria para acontecer.

Eu ainda podia a ver me encarando pela porta que estava entreaberta. O que aconteceria em seguida era inevitável e eu precisava impedir que aquela criança ficasse traumatizada.

Uma parte de mim sabia que tudo não passava de uma prova de habilidades, no entanto, uma parte maior acreditava que não seria somente aquela projeção de eu criança que ficaria traumatizada, a eu adolescente jamais se esqueceria daquilo, com certeza.

Corri em direção a porta e peguei a garota no colo. Mentiria se dissesse que não me senti estranha ao carregar a mim mesma o colo ao redor da casa onde cresci por 17 anos, a sensação que eu tinha era de pura nostalgia enquanto passava pelos cômodos.

Entrei dentro do quarto e procurei algo que a distraisse, lembrei que minha mãe tinha um pequeno celular ultrapassado que era usado em emergências, eu sempre o pegava de dentro do armário escondido e ficava ouvindo algumas das poucas músicas que a minha-mãe-adolescente-de-antes-da-guerra tinha baixado.

O dei a ela enquanto conectava os fones e selecionava uma playlist aleatória para que a eu pequena ouvisse e se distraísse enquanto o que quer que aconteceria no cômodo do fim do corredor não fosse ouvido.

Não me contive e voltei ao quarto onde se encontravam minha mãe e aquela aberração.

Me arrependi assim que atravessei a porta: minha mãe estava estirada no chão, com as mãos sobre a barriga e rodeada do próprio sangue e vômito.
Nada havia me preparado para o que eu vi, nada conseguiria me preparar para isso.

Fiquei com os sentimentos conflitantes e misturados: surpresa, magoa. Depois do que vi entendi o porquê de minha mãe ter se fechado e ter feito o que fez anos mais tarde, ela não estava com uma doença que havia contraído da guerra, como ela sempre me disse, ela estava triste, depressão era o seu caso, o motivo de sua morte, e eu não fiz nada para a ajudar quando pude.

Lágrimas começaram a brotar involuntariamente pelo canto dos meu olhos, minha mãe havia sido feliz, ela disse que antes da guerra acabar e antes dela me ganhar ela ja estava com a doença contraída, e com o tempo eu me acostumei com sua "doença", eu poderia tê-la ajudado.

- Você pensará duas vezes agora antes de trair novamente, certo? - Eu me assustei com a voz grossa do meu pai atrás de mim, havia esquecido de sua presença.

Espera, trair? Como assim?
Eu estava atordoada, não entendia mais nada do que era dito e por isso não entendi a sua última frase.

A primeira coisa que vi ao abrir meus olhos foram as paredes brancas da sala onde me encontrava, logo em seguida vi o rosto de Andrew tomado de preocupação que, deduzi, era dirigida a mim.

- Está tudo bem? Não vi o que aconteceu, não faz parte da minha função. - lhe confirmei com um movimentar da cabeça e continuei muda.

Lia apareceu atrás dele e o olhou com reprovação, aparentemente não era pra ele estar naquela sala, depois ela se virou pra mim e forçou um sorriso: - O seu primeiro teste acabou, Alexa.

Eu acenei com a cabeça.

Vi que Andrew pareceu relaxar um pouco ao meu lado.

Agradeci aos céus por ele não ter visto tudo o que aconteceu, não sabia como seria se ele visse aquilo.

Alias, será se tudo aquilo realmente era real? Será se tudo aquilo aconteceu mesmo? Antes que pudesse o questionar Lia voltou a falar:
- Você pode ir para seu alojamento, agora.

Agradeci a ela e me dirigi à cabana seis.

No caminho para lá me peguei pensando sobre aquele teste.

Se eles tinham acesso a todos os relatórios da vida de todos os habitantes de Abeil seria provável que tudo que vivi ali realmente tivesse acontecido em minha vida mas eu não me lembrava, pois poderia ter sido um trauma muito grande para mim, ou porque fazia muito tempo, mas eu me lembrava daquelas roupas do meu pai, porque minha mãe havia tirado uma foto dele naquele dia mais cedo provavelmente, e quando eu estar maior ela havia me dito que a foto foi tirada naquele dia. Será que ela o amava?

- Ai meu Deus, eu iria ter uma irmã - acabei pensando alto.

Sem que me desse conta já estava em meu beliche do alojamento encolhida em posição fetal e deixando que as lágrimas rolassem livres por meu rosto enquanto sentia autopiedade.

Meus companheiros de quarto passavam por mim e me olhavam com um misto de pena e alguns outros sentimentos que eu não era capaz de identificar. Repulsa talvez.

O sino que indicava o horário das refeições tocou e eu me obriguei a levantar para ir ao refeitório, ficar sentada chorando não adiantaria em nada.

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GENTE EU CORRIGI O CAPÍTULO E FICOU LINDO MAS AÍ O WATT BUGOU E APAGOU T U D O, ENTÃO REESCREVI, SE TIVER ALGUM ERRO ME AVISA PFVR, E SE NÃO TIVER BOM TAMBÉM ❤ /Luísa

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