3. Vá para o "Inferno"!

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Acordei zonzo, tudo parecia estar fora do lugar, meus ossos doíam, o cheiro de alvejante, e álcool hospitalar, invadiam minhas narinas, minha boca tinha um gosto horrível de sangue, braços e pernas engessados, e uma estrutura em minha coluna, que mais parecia uma armadura. Na comoda ao lado, um bilhete pequeno, e sentado na poltrona ao lado da cama hospitalar, Maribel dormia, profundamente. Ela usava a mesma roupa, o que queria dizer que não havia passado muito tempo, deviam ser umas 6 horas da manhã. 

Esperei que ela acordasse, e assim me contasse o que houve, como cheguei ali, ou coisas que eu já sabia. O sonho não saia da minha cabeça, ver o meu corpo jogado ao chão, sentir o mesmo gosto de sangue, e aquele vazio incrível, que permanecia até mesmo agora. Ainda podia sentir o calor, como se algo dentro de mim estivesse queimando, como se o vazio dentro do meu peito fosse ocupado por chamas...

...***...

— Bom dia, moça...— falei, enquanto observava Maribel despertar.

— O-oi, você está bem?— perguntou, surpresa, enquanto esfregava os olhos.

— Tirando o fato de ter sido atropelado, e de estar todo quebrado, nunca estive melhor!— Brinquei.

— Idiota, a enfermeira disse que não acordaria em menos de uma semana— respondeu sorrindo.

— Desde quando você tá aqui ?— encarei-a.

— Ué, desde o acidente ontem, depois que me salvou, eu não desgrudei de você, meus pais acabaram aceitando a ideia de eu fazer companhia— argumentou Maribel.

Enquanto ela falava, pude perceber um curativo em seu cotovelo, provavelmente, causado pela queda.

— Meus pais vieram ?— questionei, olhando pela janela.

—  Sim, seu pai tinha que trabalhar cedo, no fim, somente sua mãe passou a noite no hospital. Estávamos tão preocupados.— respondeu-me, tristonha.

— Eu tive um sonho tão louco, era como se tivesse morrido, e ido para o inferno...—  contei todo meu sonho para Maribel, que me ouvia calada.

Ela acabou me contando que, quando recebi o golpe do caminhão, meu coração parou, como um desfibrilador,  de 10 toneladas, por sorte, a ambulância chegou rápido, e fez a ressuscitação no local mesmo, ela também contou que por todos ao redor, fui dado como morto, "Esse ai não tem mais chance" falou uma mulher que presenciou.

Ficamos conversando sobre a cena, sobre o porque dela ter corrido, e de como as coisas aconteceram rápido, em alguns momentos, e eu me sentia em outra dimensão.

  — Sabe, foi o meu primeiro beijo, eu não sabia bem como reagir, então imitei as meninas dos filmes, saí correndo— explicou Maribel.

— As meninas dos filmes olham antes de atravessar.— brinquei.

— Ah vai, me desculpa, eu fiquei tão mal, quase não fechei os olhos, e sua febre não passava, acabei dormindo...— falou enquanto era interrompida por uma enfermeira.

— Você não devia estar acordado, não com um acidente daquele, nem com o sedativo aplicado, meu deus, isso é um milagre! — exclamou a enfermeira, euforicamente.

Não demorou, e o quarto foi enchendo-se de médicos, um mais curioso que o outro, a febre de quase 40 graus havia desaparecido, as luxações e fraturas também, aquilo só podia ser uma benção divina, diziam eles. Com toda aquela confusão os repórteres da cidade ficaram sabendo. Cidade pequena é assim mesmo, algo acontece e vira noticia, a cidade inteira fala sobre, não perdem nem uma agulha em palheiro.

Um médico me levou ao consultório de raio x, e por incrível que pareça, nem uma fratura, a coluna estava mais ereta que antes, e ossos pareciam nunca terem sido tocados, os médicos disseram que, já que eu não tinha nenhum problema, poderia ter alta, mas que ficaria até a manhã seguinte, em observação, caso algo "estranho" acontecesse.

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⏰ Última atualização: Feb 09, 2017 ⏰

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