- Sim, você a conhece? – A mulher alta perguntou curiosa.
- Oh, não. Eu li o relatório dela. – Falei, um pouco tímida.
- Eu trabalho aqui, ajudo a cuidar deles. – Ela disse ela olhando para os pacientes. – Dinah Jane, mas pode me chamar só de Dinah. – Sorriu, apertando minha mão. – Pode me ajudar com uma coisa? As meninas estão ocupadas e eu preciso da ajuda de alguém. – Sem dar tempo para que eu respondesse, ela pegou minha mão e me puxou para fora da sala. Antes de sair, eu olhei novamente para a garota, que agora passava um de seus dedos no chão, como se estivesse desenhando.
Dinah e eu passamos por alguns corredores diferentes, onde eu não havia passado. Dava para ouvir gritos e sons de correntes, a mulher disse que os pacientes que não se comportam ou tem algum problema sério, ficam ali completamente isolados, presos em correntes, como animais. Nós andamos por alguns minutos até chegar numa sala enorme, que parecia ser um cinema por causa da enorme tela no fundo.
- Pode me ajudar a arrumar as cadeiras? Hoje é dia de filme. – Ela parecia ser muito feliz, estava sempre sorrindo. Eu assenti e ajudei.
Nós ficamos arrumando e conversando por algumas horas. Ela falou de como são as coisas aqui, da sua relação com os pacientes, Dinah é uma amiga para a maior parte deles, é muito calma e atenciosa.
- Eles não são tão ruins quanto as pessoas imaginam, só precisam de amor, carinho e atenção, é como cuidar de crianças. Eles não são monstros. – Ela terminou de arrumar a última cadeira e me olhou. – Bom, está tudo pronto para hoje à noite, obrigada por me ajudar. Preciso conversar com a Judith agora, você precisa de alguma coisa?
- Não, vai lá, tenho alguns pacientes para atender agora.
- Ok, depois vou te levar para conhecer as meninas, você parece ser legal, Dra. Jauregui. – Dinah disse me abraçando.
- Ah, só Lauren, por favor. – Falei fazendo a mulher sorrir.
- Tá bom, Lauren, até mais tarde. – Eu acenei para ela, que acenou de volta e saiu.
Fui até a minha sala, eu estava meio tensa, fumei um cigarro para acalmar. Fiquei meio perturbada com o que Dinah disse sobre os pacientes acorrentados e isolados dos outros, preciso saber mais e tentar falar com Judith sobre esse assunto. Enquanto esperava a primeira paciente vir para a consulta, fiquei observando a sala imaginando como os pacientes se sentem quando entram naquela sala. Ou quando andam pelos corredores. Ou quando veem as janelas com grades do lado de fora. Ou quando simplesmente lembram que estão aqui, presos, completamente isolados do mundo. Na verdade, de quanto tempo estão aqui e não fazem ideia do motivo para serem excluídos da sociedade, de serem tratados como bichos.
- Dra. Jauregui? – Uma voz baixa me fez despertar dos pensamentos.
- Alessia? Entre. – A garota entrou e se sentou num velho sofá de couro no canto da sala. Ela parecia estar com muito medo, olhava a sala toda, como se nunca tivesse entrado lá.
Nós conversamos por mais ou menos uma hora. A garota me falou muita coisa, disse de como se sentia, e que estava aliviada por finalmente poder conversar com alguém sobre isso.
Alessia Cara, nascida em 11 de julho de 1864, 20 anos, canadense. Autista. Veio para os EUA aos nove e, após a morte de seus pais em um acidente de carro, a garota veio para cá, com 18 anos. Sofria bullying na escola e tinha sérios problemas de relação com a mãe, que era dependente química, a agredia verbalmente e fisicamente. Suspeita de envolvimento na morte de um paciente, causada por arma branca.
Depois de Alessia, atendi mais sete pacientes, até chegar a vez de Camila, a garota que eu estava observando hoje de manhã.
- Srta. Cabello, Dra. Lauren Jauregui.
Karla Camila Cabello Estrabão, nascida em 3 de março de 1863, 21 anos, cubana. Esquizofrênica. Seu pai, Alejandro Cabello, um policial muito conhecido na cidade, a colocou aqui aos 16 anos. Boas notas no colégio, mas sem ensino médio completo, tinha muitos amigos e nunca se envolveu em problemas. Paciente manipuladora.
- Camila, posso te chamar assim?
- Claro.
Fiz várias perguntas à garota, que respondia – sem olhar para mim em momento algum – sempre de uma forma curta. Camila estava com manchas quase roxas nas têmporas, perguntei o que tinha acontecido, mas ela não respondeu, então preferi deixar isso para lá e continuei com as perguntas. Escrevi tudo o que ela disse, e quando acabamos, ela me olhou pela primeira vez. Fiquei um pouco envergonhada, porque ela olhou fixamente nos meus olhos por alguns minutos até eu cortar o contato visual, olhando para o chão. Dispensei Camila, que se despediu sorrindo, o que me fez pensar que ela tinha gostado de mim. Ela era muito quieta para uma esquizofrênica, por mais que eu nunca tenha tratado de uma, pensava que ela daria um pouco de trabalho.
Li tudo o que escrevi em cada consulta e decidi ir ao refeitório, onde a maior parte dos pacientes estavam, já que eu não tinha mais trabalho nenhum. Me sentei um pouco afastada deles, num banco perto da porta de entrada.
- Doutora? – Ouvi a voz doce de Camila ao meu lado. – Posso me sentar? – Assenti e dei espaço para ela. Camila parecia estar feliz, estava sorrindo muito. – Obrigada por ter sido tão legal comigo hoje.
- Não precisa agradecer, anjo. – Respondi, o que fez a garota me olhar da mesma forma que olhou quando terminamos a consulta. – Não está com fome? Você precisa comer. – Perguntei vendo os pacientes comendo.
- É, acho melhor eu ir. Não quer comer nada? Os pães com melado daqui são ótimos, mas a geleia, nem tanto... – Disse a última frase num sussurro, como se tivesse me contando um segredo, me fazendo rir.
- Pães com melado? Não faça eu passar vontade, estou morrendo de fome, senhorita. Mas não posso comer. Trabalho aqui, esqueceu?
- "Regras do hospício". – Ela disse revirando os olhos, saindo. Não entendi o motivo de ela sair sem se despedir, mas não me incomodei muito. Observei ela se misturando aos outros pacientes, até que a perdi de vista. Vi Dinah entrando pela porta e se aproximando rapidamente com um semblante preocupado.
- Lauren, preciso falar sobre você. Agora. – Fiquei um pouco assustada, ela falou de uma forma muito séria. O que ela queria comigo? – É sobre Camila.
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Hallo bolinhos, espero que vocês tenham gostado.
Perdoem a demora atualizar e não desistam de mim sz
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The Asylum
Fanfiction''A doença mental é uma explicação moderna para o pecado, Dra. Jauregui.''